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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Muita gente associa o termo “nem nem nem” aos jovens que não trabalham, não estudam e não procuram emprego. Mas eles não são os únicos que se encaixam nessa categoria. Nos últimos anos, há uma parcela da população brasileira que também pode ser chamada assim: são os homens na faixa de 50 a 59 anos. Eles não trabalham, não podem se aposentar e não procuram emprego, porque não conseguem se reinserir no mercado de trabalho. E essa porção está crescendo. É isso que revela o estudo exploratório “Os homens maduros que não trabalham nem são aposentados”, das pesquisadoras Ana Amélia Camarano e Daniele Fernandes, publicado no boletim Mercado de Trabalho do Ipea.

Entre 1993 e 2013, foi observado um crescimento no número de homens entre 50 e 59 anos que se enquadravam na categoria “nem nem nem”. Segundo as pesquisadoras, cerca de 10% dos homens nessa faixa etária estão nessa categoria, o que revela uma dificuldade de absorção no mercado de trabalho. Entre as causas apontadas no estudo aparecem a mudança nas relações de gênero, com o crescimento das mulheres no papel de chefes de família, e a dificuldade de reinserção na força de trabalho, devido à baixa qualificação do trabalhador.

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Para Ana Amélia Camarano, técnica de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, a mudança na relação de gênero é menos determinante para essa estagnação do homem maduro. “Isso tem a ver com o preconceito do empregador com a mão de obra mais velha e com menor qualificação. Eles são menos escolarizados que outros trabalhadores e isso é um determinante importante”, aponta. Dessa forma, esses homens não conseguem se adaptar às mudanças tecnológicas e sofrem com o preconceito de parte do empregador e também com morbidades.

A crise econômica tem papel catalisador desse efeito. O professor de economia Sérgio Firpo, do Insper, lembra que a taxa de participação de chefes de família caiu bastante com a crise, especialmente a das pessoas com baixa escolaridade, o que corrobora a explicação do mau desempenho dos homens maduros.

A escolaridade acabou sendo fator chave para a manutenção no mercado de trabalho: entre 2012 e 2017, a participação dos chefes de família com alta escolaridade no mercado de trabalho se manteve estável, de acordo com dados da Pnad Contínua. Entre aqueles que possuem baixa escolaridade, essa participação caiu. O problema é que há um abismo de quase 30 pontos percentuais entre o desempenho daqueles trabalhadores que têm ensino superior para os que só estudaram alguns anos do fundamental.

Ou seja: quem foi mais afetado pela crise e reduziu a sua taxa de participação no mercado de trabalho foi o trabalhador menos qualificado. “A duração do desemprego dele foi maior e ele acabou saindo da força de trabalho”, afirma Firpo. Ele acrescenta que esse tipo de desempenho é comum a países que enfrentaram longos períodos de desemprego, como o Brasil. “Isso provoca uma mexida estrutural e faz com que várias pessoas percam a capacidade de se realocar no mercado de trabalho”, aponta.

Em geral, os trabalhadores menos qualificados acabam exercendo atividades laborais que exigem mais força física. Com o avanço da idade, eles acabam tendo mais dificuldade para se recolocar no mercado de trabalho e são preteridos pela mão de obra mais jovem, ainda que possuam mais experiência.

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Peso para economia e sociedade

Como consequências da retirada dessa fatia da população do mercado de trabalho, há prejuízos econômicos para o indivíduo e toda a sociedade. O estudo exploratório ainda aponta que até 2050, a expectativa é de que 53,1% da atual população brasileira com 15 anos ou mais já terá 50 anos ou mais, e por isso terão de estar mais inseridos na força de trabalho.

“Daqui a pouco, toda a força de trabalho vai se reduzir e você vai ter que contar com essa mão de obra mais velha”, aponta Ana Amélia. Para ela, se não houver uma reação da economia, a tendência é de que esse número de homens maduros “nem nem nem” aumente ainda mais. E para reverter esse quadro, é preciso investir em educação e qualificação continuada do trabalhador.

O fato de não trabalhar e não se aposentar pressiona inclusive a Previdência, uma vez que esses homens podem precisar receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que paga um salário mínimo a idosos em situação de pobreza, mesmo para os que nunca contribuíram ao INSS.

Se a pessoa não tem renda nenhuma, ela não consegue contribuir com a Previdência e é possível que tenha entrado em algum benefício assistencial. “Quando se tem um nível de capital humano muito baixo, como boa parte de nossos trabalhadores têm, e benefícios assistenciais relativamente altos, porque foram indexados ao salário mínimo, isso faz com o que o retorno ao mercado de trabalho depois de um desemprego tão longo fique cada vez menos atrativo”, analisa Firpo.

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