• Carregando...
 | Beto Barata/PR
| Foto: Beto Barata/PR

O presidente Michel Temer classificou como uma peça de “realismo fantástico” a nova denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot contra ele. Num tom pesado, e numa nota de 20 linhas, a Secretaria de Comunicação do Planalto acusa Janot de manter uma “marcha irresponsável para encobrir suas próprias falhas”. Para o presidente, o procurador tenta encobrir a atuação de seu ex-auxiliar Marcello Miller, ataca a delação de Joesley Batista e diz que a denúncia está “recheada de absurdos”.

“A segunda denúncia é recheada de absurdos. Fala de pagamentos em contas no exterior ao presidente sem demonstrar a existência de conta do presidente em outro país. Transforma contribuição lícita de campanha em ilícita, mistura fatos e confunde para tentar ganhar ares de verdade. É realismo fantástico em estado puro”, diz a nota do Planalto.

Os ataques a Janot já vem na primeira linha da nota. “O procurador-geral da República continua sua marcha irresponsável para encobrir suas próprias falhas. Ignora deliberadamente as graves suspeitas que fragilizam as delações sobre as quais se baseou para formular a segunda denúncia contra o presidente da República, Michel Temer. Finge não ver os problemas de falta de credibilidade de testemunhas, a ausência de nexo entre as narrativas e as incoerências produzidas pela própria investigação, apressada e açodada”.

Leia também: Governo acha de “bom tom” que Raquel Dodge reveja denúncia de Janot contra Temer

Para Temer, ao agir dessa forma, o procurador tenta criar fatos para encobrir a necessidade urgente de investigação de integrantes de sua equipe sobre as quais, diz, há indícios consistentes de terem direcionado delações. Nesse trecho, ele se refere ao ex-procurador Marcello Miller.

“Ao não cumprir com obrigações mínimas de cuidado e zelo em seu trabalho, por incompetência ou incúria, coloca em risco o instituto da delação premiada. Ao aceitar depoimentos falsos e mentirosos, instituiu a delação fraudada. Nela, o crime compensa. Embustes, ardis e falcatruas passaram a ser a regra para que se roube a tranquilidade institucional do país”.

Ele encerra a nota afirmando que as acusações se tratam de versões fantasiosas e ilações, e que a verdade prevalecerá.

Outros acusados também se manifestam

Outros acusados do PMDB de fazerem parte da organização criminosa apontada por Janot também se manifestaram em nota. A defesa de Rodrigo Rocha Loures, ex-auxiliar do presidente, diz que não se pode comparar sua situação com as dos outros integrantes do governo. Sua defesa diz que ele era “apenas” assessor do presidente e chama a denúncia de “leviana”.

“Rodrigo Rocha Loures era apenas um assessor pessoal do Presidente e não tinha nenhuma intervenção em atividades financeiras, ao contrário da recente denúncia contra o PMDB da Câmara. A defesa repudia veementemente mais uma denúncia leviana de Rodrigo Janot!!!”, afirma a nota.

O PMDB soltou uma nota e também atacou Janot: “O PMDB lamenta mais um ato de irresponsabilidade realizado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Toda a sociedade tem acompanhado os atos nada republicanos das montagens dessas delações. A justiça e sociedade saberão identificar as reais motivações do procurador”.

Também citado na relação de Janot, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, reagiu em nota. “Reitero que jamais participei de qualquer grupo para a prática do ilícito. Essa denúncia foi construída com a ajuda de delatores mentirosos que negociam benefícios e privilégios. Responderei de forma conclusiva quando tiver conhecimento do processo”.

O advogado do ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, Daniel Gerber, respondeu em nome de seu cliente. “Entendo como equivocada o oferecimento de uma denúncia com base em delações que estão sob suspeita, mas iremos demonstrar nos autos a inexistência da hipótese acusatória”, afirma.

OAB classifica como “gravíssima” denúncia de Janot

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Lamachia, entende ser “gravíssima” a denúncia de Janot contra o presidente e sua turma do PMDB. “Jamais a República brasileira testemunhou crise de tais proporções. No entanto, as instituições do Estado têm se mostrado rígidas e atentas no cumprimento de suas missões.

É preciso investigar e cumprir todas as etapas previstas na liturgia jurídica, garantindo o contraditório e a ampla defesa, sem protelações ou atalhos, evitando que se incorra em graves infrações legais”, disse Lamachia.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]