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Pesquisas de opinião divulgadas nesta semana mostram que a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está em queda acentuada. Esforços do governo para melhorar sua comunicação só estão agravando a situação, principalmente porque não vêm acompanhados por medidas concretas. Analistas ouvidos pela reportagem apontam três causas principais: problemas econômicos e queda no poder de compra, comunicação ineficiente e incompreensão do empreendedorismo, e viagens e gastos que dão ideia de desperdício de recursos.
A pesquisa mais recente foi divulgada na quarta-feira (2) pela Genial/Quaest. A aprovação do governo de Lula atingiu o índice mais baixo desde o início de sua gestão, em janeiro de 2023.
O levantamento aponta que a desaprovação subiu de 49% em janeiro para 56% em março, enquanto a aprovação recuou de 47% para 41%. Além desses, 3% dos entrevistados não souberam opinar. A pesquisa ouviu presencialmente 2.004 eleitores em 120 municípios de 27 a 31 de março. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com um nível de confiança de 95%.
Outra pesquisa, realizada pela AtlasIntel em parceria com a Bloomberg e divulgada no dia 1º, mostrou que a desaprovação do governo Lula atingiu 53,6% e os entrevistados alegaram insatisfação com a economia e a responsabilidade fiscal do governo, apesar das medidas anunciadas para tentar reverter essa tendência.
A pesquisa também revelou uma alta preocupação com a inflação e a política econômica falha, com a maioria dos entrevistados prevendo uma piora na situação econômica. A metodologia envolveu a realização de 4.659 entrevistas digitais de 20 a 24 de março de 2025, com uma margem de erro de 1 ponto percentual e um grau de confiança de 95%.
Para especialistas, o cenário precisa ser analisado como um todo e só assim haverá um diagnóstico preciso da crise no governo. Muitos deles avaliam que a aprovação do presidente pode cair abaixo dos 30% nos próximos meses.
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1. Poder de compra caiu para 81% da população e cenário econômico se agrava
O advogado especialista em Direito Constitucional Alessandro Chiarottino avalia a crise de popularidade de Lula em mais de um plano. No primeiro plano estaria a questão econômica. “É justamente a inflação e particularmente na área dos preços dos alimentos. Essa relação me parece unânime, pesa muito mais e para todos. Mas tem também uma questão de falta de liderança do governo. O governo não foi capaz de mostrar até agora para o país que ele tem um projeto, uma direção. Que ele [Lula] saberia dar a condução do governo”, destaca.
Para o economista e analista de mercado Rui São Pedro, a queda livre na popularidade de Lula está calçada em várias frentes, mas as que mais pesam passam obrigatoriamente pela economia. “Há a inflação dos alimentos e o aumento dos juros com a taxa Selic nas alturas e não deve parar por aí, continuará subindo. Ou seja, o que está acontecendo com Lula não é resultado de um único fator e sim uma soma de fatores que, no cenário econômico, devem piorar”, alerta.
“O Brasil até gerou bastante emprego nos últimos meses, mas houve perda do poder de compra das pessoas com o aumento da inflação dos alimentos, todos sentiram isso. E as promessas políticas não cumpridas ao longo do tempo indicam que de fato não serão colocadas em prática, porque muitas são extremamente difíceis de serem atingidas e isso está claro no campo econômico”, alerta.
O economista avalia que o descontentamento e a queda na popularidade devem avançar, porque neste ano há sinais de agravamento no cenário econômico global. “Ou seja, não envolve só o país, mas o processo econômico mundial vai sofrer e isso vai refletir no Brasil e pesar mais ainda contra o governo”, alerta.
Segundo o advogado constitucionalista André Marsiglia, a economia está em “frangalhos” e isso é sentido no bolso pela população por causa do poder de compra. Em geral, ele é medido por meio de esparsas pesquisas de percepção do consumidor e não por índices específicos. Pesquisa da Genial/Quaest desta quarta-feira (2) mostra que 81% da população acredita que seu poder de compra está menor que no ano passado. O levantamento ouviu 2004 pessoas em 27 municípios de 27 a 31 de março.
Para o advogado Luiz Augusto Módolo, nem de longe Lula está no momento econômico de 2003, em seu primeiro governo. “Ele aplica as mesmas soluções como endividamento da população - com o empréstimo consignado e saque do FGTS -, está claramente sem paciência para a política cotidiana e usa a sua “aliança” com o Judiciário como uma muleta”, avalia. Ele destaca que os brasileiros estão se atentando a isso e as respostas aparecem nas pesquisas de popularidade.
2. Comunicação ineficiente e incompreensão do empreendedorismo afastam governo do povo
A queda recorde na aprovação do governo Lula mostra a que mudança de ministros na Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, com a saída do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) e a entrada do publicitário Sidônio Palmeira, não levou ao resultado esperado. A estratégia de aumentar o contato do presidente com a população e com a mídia também aparenta ter falhado.
Para Luiz Augusto Módolo, o governo Lula “tem ideias envelhecidas” sobre comunicação institucional e não consegue se adaptar aos avanços da comunicação na velocidade instantânea das redes sociais. Módolo considera que a troca de ministros, que prometia ser estratégica na comunicação do governo, pode, inclusive, “ajudar a sabotar Lula”.
O advogado acredita que a popularidade do presidente pode desidratar abaixo dos 30% (base histórica de apoio do PT) nos próximos meses e parte disso pode ser atribuído à má comunicação. “Um homem [Sidônio] de tempo de TV gratuito e ‘marquetagem’ tentando lidar com um mundo o qual não compreende, que entende zero de redes sociais”, descreve.
Mas a culpa não pode ser atribuída só ao marqueteiro. Apesar de ter amenizado suas falas no último mês, foi Lula que deflagrou crises de comunicação do governo. Em uma de suas colocações recentes, o presidente pediu que a população não compre alimentos caros para ajudar o governo a controlar a inflação.
O episódio que iniciou a derrubada da popularidade partiu da Receita Federal, que anunciou o monitoramento de transferências via Pix, no mês de janeiro, e abriu a possibilidade de que trabalhadores informais fossem taxados em massa por meio de impostos já existentes. Lula teve que revogar a medida e sua imagem não se recuperou mais.
“A comunicação ineficaz do governo sobre suas ações contribui para a insatisfação. Também é importante destacar a crescente polarização no Brasil, com um forte discurso de oposição, faz com que setores mais conservadores rejeitem suas políticas, enquanto a base progressista sente que ele não está avançando o suficiente em temas como direitos sociais e reformas estruturais”, avalia.
A falta de sensibilidade do governo na crise do Pix também evidencia sua incapacidade de entender as necessidades de uma classe empobrecida que vê no empreendedorismo uma solução. Eles são motoristas de aplicativo, motoboys, cabeleireiros, vendedores, pequenos comerciantes, entre outros, que não querem ver seus negócios taxados e controlados de forma demasiada pelo governo.
“Há uma dificuldade de conversar com a população. As esquerdas antigamente tinham um contato mais próximo com os trabalhadores, [mas] esse contato já não existe mais. Essas causas sindicais não mais representam a vontade dessas pessoas”, afirma Marsiglia.
Segundo ele, essa parcela empobrecida da população caminhou para o empreendedorismo com objetivo de buscar sua independência financeira e econômica e consequentemente se aproximou da direita. “E as pautas da esquerda ficaram esvaziadas, então eles tentam dialogar com pessoas identitárias, mas é um diálogo que o Lula tem muita dificuldade em fazer, justamente por ter uma visão mais antiga sobre esses temas”.
O advogado Luiz Augusto Módolo cita ainda promessas de campanha que não se cumpriram, mencionando como exemplo clássico o episódio envolvendo a queda do preço da picanha.
“No campo político ele prometeu uma frente ampla, basicamente formada pelos “50 tons de vermelho” da esquerda. Ele ganhou por pouco, numa eleição arbitrada pelo TSE, como todas, mas especialmente contestada e que gerou revolta". Ele também avalia que o 8 de janeiro não deu a Lula o apoio imaginado.
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3.Viagens internacionais e comportamento de Janja geram críticas
Outro possível fator de queda de popularidade, segundo o advogado Alessandro Chiarottino, está relacionado às constantes viagens internacionais de Lula acompanhado pela primeira-dama, Janja da Silva.
Ele avalia que o presidente é visto como alguém que está sempre em viagens pelo exterior ao lado da mulher, priorizando encontros com líderes internacionais, o que, na visão da população, não tem grande efeito imediato em benefício do Brasil. Janja também é vista como uma figura "esbanjadora" e não muito conectada com a realidade da população.
“Tudo isso dá a ideia de um governo à deriva. Um governo sem projeto, um governo sem comando, um governo pior, sem a percepção de quais são os reais problemas do país”.
Para Módolo, aos poucos o Brasil tomou conhecimento da existência da primeira-dama, que, segundo ele, viaja pouco pelo país e tem pouco contato com os problemas concretos dos brasileiros, mas se esforça em estar no exterior.
Segundo ele, a primeira-dama e o presidente parecem não estar atentos aos problemas reais do Brasil e se voltam para o cenário externo em vez de focar na gestão e nos problemas dos brasileiros. Mas os analistas alertam que o caso de Janja deve ser analisado com cautela, pois há tendência de lideranças de esquerda de tentar desviar a culpa dos problemas do país para figuras secundárias do governo e livrar o presidente Lula.
Problemas antigos como violência e relação com Judiciário agravam cenário
Fatores como a violência nas ruas e a relação do governo com o Judiciário já ocorriam antes da atual queda de popularidade de Lula, mas ajudam a agravar cenário para o petista.
Alessandro Chiarottino aponta a segurança pública como um fator importante. “Essa percepção de insegurança se dá também porque o governo Lula é visto por grande parte da população como leniente no combate à criminalidade. O governo percebeu isso e fez essa proposta, a meu ver desastrada, de tratar a segurança no âmbito federal, como se fosse um novo SUS da segurança pública [PEC da Segurança], que me parece uma grande bobagem, porque se os doentes são os mesmos no país inteiro, quando se trata de segurança pública, a especificidade regional é muito grande”, alerta.
O constitucionalista destaca que há uma visão difundida na sociedade de que o governo Lula é tolerante com a criminalidade comum e é fraco no combate à criminalidade organizada. “[Ainda há] o fato de muitos dos expoentes do PT defenderem o abrandamento das penas, defenderem penas alternativas para quaisquer crimes, medidas que facilitam a vida de quem comete crime no país. Me parece que esse fator também é importante [em relação à queda de popularidade]”.
Marsiglia também alerta para a interferência do Judiciário sobre questões políticas como outro fator que gera descontamento com o governo. Ele acredita que a popularidade de Lula poderá desidratar ainda mais refletindo em uma “agressividade” cada vez maior do Executivo e do Judiciário para controlar o debate público.
“O Judiciário está intervindo sempre que a “democracia” está em risco e o problema é que o governo Lula tem dito que ele é o salvador da democracia, a reserva moral da democracia e temos um Judiciário que também acredita que a direita seja um perigo para a democracia. Então, se a esquerda é a reserva moral da democracia e a direita é criminalizada pelo Judiciário”, afirma.
Parlamentares dizem que “brasileiros estão acordando”
A queda de popularidade e de aprovação de Lula também repercutiu no meio político. O deputado Sanderson (PL-RS) usou sua conta no X para falar sobre o assunto e fazer um alerta. “Eles [governo e opinião pública] não entenderam ainda que quanto maior o grau de perseguição [da direita], maior é a rejeição da população pelo descondenado [Lula]? Prendam Jair Bolsonaro e o caos se instalará no Brasil”, destacou ao comentar uma notícia sobre a queda de aprovação do governo.
Para o parlamentar, os brasileiros estão acordando. “A queda na popularidade de Lula mostra que o povo não aguenta mais corrupção, mentiras e a incompetência desse governo".
O deputado Rodrigo Valadares (União-SE) afirmou que "a popularidade de Lula despenca porque o povo percebeu: promessas vazias, economia fraca e escândalos. Esse direcionamento que Lula leva ao país não engana mais ninguém".









