
O discurso segue as regras da boa diplomacia, mas na prática o presidente Jair Bolsonaro tem falado de política interna sem hesitar nas viagens internacionais que tem realizado. Foi assim nos Estados Unidos, em Israel e agora na Argentina. "Toda a América do Sul está preocupada em que não tenhamos novas Venezuelas", exclamou.
O discurso repetido nesta quinta-feira (6) na Casa Rosada, sede do governo argentino, é o mesmo adotado por Bolsonaro nos últimos meses, quando externou preocupação com uma possível volta de Cristina Kirchner ao poder na Argentina.
O país vizinho terá eleições no segundo semestre. Bolsonaro é visto como um cabo eleitoral de Maurício Macri, atual presidente e que provavelmente tentará a reeleição. "Seja bem vindo, querido Jair Bolsonaro", falou o argentino no discurso conjunto que os presidentes fizeram. Macri foi o primeiro presidente a fazer uma visita oficial ao Brasil no governo Bolsonaro. Nas últimas pesquisas de intenção de voto, Maurício Macri e a chapa composta por Alberto Fernandez e Cristina Kirchner aparecem empatados.
"A gente trabalha agora de uma maneira muito clara, com o governo de Maurício Macri", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. "É o futuro que nós vemos, porque temos experiência no passado, muito negativa, com governos anteriores nos dois países. Então não adianta, por um temor, não fazer nada agora", declarou.
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No discurso na Casa Rosada, Jair Bolsonaro mais uma vez pediu por uma intervenção divina a favor de Macri. "Conclamo o povo argentino, que Deus abençoe todos eles já que vamos ter eleições". Há um mês, em Dallas (EUA), Bolsonaro falou que a volta de Cristina Kirchner seria um gol contra e que faria da Argentina uma Venezuela ao sul da América do Sul.
O chanceler argentino, Jorge Faurie, questionado pela imprensa local sobre a participação de Bolsonaro nas eleições, respondeu que isso se dá por uma coincidência de agendas políticas. "Queremos para os nossos povos liberdade. Que a economia seja mais flexível e competitiva e, desse ponto de vista, as reformas que o Bolsonaro está praticando no Brasil coincidem com as ideias do Macri. E isso fará como que Brasil e Argentina possam recuperar o nível de protagonismo na América Sul", afirmou.
Essa é a segunda (ou terceira vez) que Bolsonaro declara apoio a um candidato em um país que terá eleições num curto período de tempo. Em sua visita à Casa Branca, em março, Bolsonaro deixou clara a sua admiração pelo presidente norte-americano Donald Trump, que tentará a reeleição no próximo ano. Em seu discurso na Casa Branca, o presidente do Brasil voltou a falar que a eleição é um assunto interno, mas...
"Acredito na eleição de Donald Trump. O povo americano que o elegeu vai repetir o voto. Quem apoia o socialismo e o comunismo vai abrir a mente", falou Bolsonaro ao responder uma pergunta de como seria a relação dele, casa um candidato democrata derrotasse Trump. Antes, o presidente brasileiro já havia demonstrado apoio público à reeleição do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, o que acabou acontecendo.
Reunião com empresários argentinos
Em uma reunião que contou com a presença de 38 empresários argentinos, Jair Bolsonaro discutiu oportunidades de negócios nos dois países. O chanceler argentino Jorge Faurie falou que a reunião de hoje é mais um passo na integração comercial entre os dois países e para fortalecer o Mercosul.
Faurie também se disse confiante na reunião técnica entre representantes do Mercosul e da União Europeia, no fim de junho em Bruxelas, e que a participação do Brasil nas negociações é fundamental. "Depois que a equipe técnica do Brasil se incorporou a nossa, após a transição, houve uma aceleração nas negociações".



