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Cerco a apoiadores de Bolsonaro

Braga Netto suspendeu compra irregular de coletes balísticos, mas PF tenta requentar caso

Braga Netto
Braga Netto suspendeu compra de coletes balísticos irregulares durante intervenção no RJ (Foto: Marcos Brandão/Senado Federal)

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A operação da Policia Federal lançada nesta terça-feira (12) para apurar uma negociação irregular de compra de coletes à prova de balas envolvendo o Gabinete de Intervenção Federal (GIF) no Rio de Janeiro em 2018, que foi chefiado pelo general e ex-candidato a vice-presidente, Walter Souza Braga Netto, é uma tentativa de requentar um caso antigo que já havia sido esclarecido, segundo afirmaram à reportagem fontes ligadas à Intervenção Federal.

Braga Netto afirmou por meio de nota divulgada em sua conta no X (antigo Twitter), que o contrato que é alvo de operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) foi suspenso pelo próprio GIF após a identificação de irregularidades.

“Os coletes não foram adquiridos ou tampouco entregues”, afirmou Braga Netto se referindo aos coletes que seriam adquiridos da empresa americana CTU Security. O general é pré-candidato para a prefeitura do Rio de Janeiro em 2024.

A manifestação foi feita após a deflagração da operação Perfídia da PF, que visa apurar os crimes de patrocínio de contratação indevida, dispensa ilegal de licitação, corrupção ativa e passiva e organização criminosa supostamente praticadas por servidores públicos federais. Ela está relacionada a negociações para a contratação de uma empresa norte-americana pelo governo brasileiro para aquisição de 9.360 coletes balísticos.

A empresa alvo das investigações é a CTU Security LLC, que estaria envolvida no assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise, em 2021. A reportagem está tentando contato com a empresa.

A Polícia Federal afirmou que a compra teria sido negociada com sobrepreço no ano de 2018, pelo GIF, no Rio de Janeiro, ano em que Braga Netto era interventor federal na Segurança Pública do Estado. A intervenção ocorreu por dez meses, entre fevereiro e dezembro de 2018. Um militar da reserva e empresários estariam entre os alvos de mandatos de busca. Ainda não está claro se Braga Netto é um dos alvos. O portal G1 chegou a anuncia que Braga Netto teria tido seu sigilo telefônico quebrado, mas a Gazeta do Povo não conseguiu confirmar a informação com fontes independentes.

A reportagem teve acesso a documentos que comprovam que o processo de compra foi suspenso pelo próprio GIF, comandando por Braga Netto. O Tribunal de Contas da União já havia investigado o caso e afirmado que "as despesas da Intervenção Federal no Rio de Janeiro em 2018 foram dentro da legalidade".

Um ex-integrante do Gabinete de Intervenção Federal ouvido pela Gazeta do Povo afirmou, sob condição de anonimato, que a operação da PF seria parte de um esforço patrocinado pelo Executivo e pelo Judiciário para atacar os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“É notório que se trata de mais uma especulação e de ilações para "pescaria" de dados e informações para validar teses e narrativas criadas contra os integrantes do governo Bolsonaro”. Ao usar o termo "pescaria", a fonte se refere a uma prática que tem se tornado cada vez mais comum entre as forças policiais. Elas apreendem celulares e computadores para interceptar comunicações sob um pretexto de menor importância para, a partir da base de dados obtida, tentar implicar seus alvos em outros crimes.

A operação da PF, resgatando um contrato suspenso ainda em 2019, ocorre em meio ao anúncio de uma possível pré-candidatura de Braga Netto para a prefeitura do Rio de Janeiro em 2024.

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Em nota, o general Braga Netto afirmou ainda que os contratos do Gabinete de Intervenção Federal seguiram “absolutamente todos os trâmites legais” e que a compra dos coletes balísticos teria sido suspensa pelo próprio GIF após avaliação de supostas irregularidades nos documentos fornecidos pela empresa.

O processo foi analisado pela Casa Civil e tramita atualmente na Controladoria Geral da União.

Quanto à dispensa de licitação, o general apontou o acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) que estabelece que é possível a realização de contratações diretas durante intervenção militar, desde que os bens e serviços sejam essenciais à operação.

Isso ocorreu porque o Rio de Janeiro passava por um cenário desesperador de falta de equipamentos para a polícia, de pistolas e coletes à prova de balas a carros de polícia e helicópteros. Durante os dez meses de intervenção foram comprados mais de 17 mil coletes à prova de balas, nenhum deles da CTU Security LLC.

As compras de equipamentos e a reorganização das forças policiais reverteram a tendência de alta dos índices de criminalidade no Rio e criaram parâmetros para a reestruturação da segurança pública no Estado. Porém, o legado foi descartado pelo governador Wilson Witzel, que sofreu impeachment em 2021 por corrupção.

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