Em sua primeira declaração pública desde que deixou a prisão em dezembro passado e um mês depois de ter a prisão domiciliar substituída pela Justiça por medidas cautelares, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) admitiu ter utilizado recursos de caixa dois em eleições, mas negou ser corrupto. Em uma entrevista ao portal Metrópoles publicada neste domingo (5), Cabral afirmou: "Nunca pratiquei corrupção. Nunca disse assim: 'Coloque esse preço aí, e você vai ganhar essa licitação'".
Apesar de ter sido condenado a penas que somam 430 anos em 23 processos, Cabral está atualmente em liberdade com vista para o mar. Durante a entrevista, ele elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem disse ter torcido para ganhar as eleições, chamando-o de "o maior presidente da história do Brasil". No entanto, Cabral discordou do petista em relação ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), reiterando que "não foi golpe", mas sim "um processo legítimo, democrático e votado". Ele lamentou que a presidente tenha gerado "tensões desnecessárias".
Em um ataque direto aos responsáveis pela Operação Lava Jato no Paraná e no Rio de Janeiro, Cabral disse que foi coagido em 2019 pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) a fazer revelações com o objetivo de constranger autoridades tidas como inimigas pela força-tarefa. Sua delação premiada acusava diretamente o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, mas perdeu o valor em maio de 2021.
Cabral afirmou na delação que Toffoli vendeu decisão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em favor de prefeitos e que Dantas foi subornado por empresários. O STF anulou a delação à PF por entender que ela exigia a aprovação do MPF.
Ainda na entrevista, o ex-governador acusou a força-tarefa de Lava Jato de “odiar a democracia”. Também pediu desculpas a Toffoli e Dantas por ter "distorcido" uma história num momento de "raiva do Judiciário" e pressão da Lava Jato. Cabral foi réu em mais de 30 processos na Operação, sendo preso pela força-tarefa do Rio, presidida pelo juiz Marcelo Bretas, que recentemente foi afastado de suas funções pelo Conselho Nacional de Justiça (CJ). O político estava na prisão desde 17 de novembro de 2016.
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