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Ronaldo Caiado
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), disse que a “anistia” pode “acalmar o país”.| Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil.

Primeiro nome a postular a intenção de concorrer à Presidência em 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, terá de enfrentar uma série de obstáculos para efetivar a sua candidatura de oposição, inclusive dentro de seu próprio partido, União Brasil.

Para conquistar o posto de opção mais viável da direita no pleito, a ser definida por consenso, e ainda alcançar o centro, Caiado tem buscado o apoio de Jair Bolsonaro (PL). Ele espera herdar do ex-presidente o posto de principal adversário da esquerda, encabeçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sua presença como um dos quatro governadores no ato político convocado pelo ex-presidente na Avenida Paulista, no último domingo (25), foi mais um gesto voltado a este propósito.

Paralelamente a esta missão, Caiado tem se colocado como um político conservador, mas que não abre a mão do diálogo com outras forças políticas, inclusive antagônicas. Ele tem argumentado que a população estaria "cansada da polarização" que dominou as últimas eleições, além de não ser mais possível "governar com extremos".

Seu discurso de potencial candidato tem se escorado nos resultados de sua gestão estadual, com destaque para o crescimento econômico de Goiás, puxado pelo campo, a redução da pobreza e, sobretudo, o combate à criminalidade.

No ano passado, a secretaria de Segurança Pública do estado promoveu a informação do Atlas da Violência, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de que Goiás reduziu a taxa de homicídios em 35% entre 2018 e 2021.

O governador percebe na segurança pública um dos pontos mais fracos do governo federal e uma das principais preocupações da população. Por isso, vem propondo uma cruzada nacional contra o crime organizado, sobretudo o narcotráfico, se colocando como debatedor e formulador de soluções ancoradas no suporte mais vigoroso aos agentes policiais.

Ele parte da avaliação que facções cooptaram largo espectro do poder público e dos meios de comunicação, exigindo enfrentamento mais direto e corajoso do assunto. Nesse sentido, explicitou a sua opinião contrária às saídas provisórias de presos (saidinhas) e à implantação de câmeras nos uniformes de policiais.

Agronegócio começa a ajudar Caiado a nacionalizar seu nome

Como líder ruralista, Caiado também tem explorado a sua conexão com o agronegócio, setor econômico dominante em seu estado e que tem colecionado confrontos com o Planalto. Ele espera contar com o apoio de grandes produtores rurais para uma futura campanha presidencial.

Como prévia disso, obteve da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) a disponibilidade de espaços para reuniões em Brasília e São Paulo, o que deve se repetir em outros estados, por meio de federações do setor.

Agenda de costumes gera resistência de seguidores de Bolsonaro

Erguendo as bandeiras do campo e da segurança pública, resta ao governador buscar o apoio dos partidos e blocos parlamentares conservadores, sobretudo dos filiados ao PL, avançando na chamada agenda de costumes.

Este é o ponto mais explícito de resistência dos seguidores de Bolsonaro a Caiado, que fizeram questão de relembrar nos últimos dias o desentendimento entre o governador e o ex-presidente em relação ao enfrentamento da crise sanitária de Covid-19. Logo no começo da pandemia, em março de 2020, o governador de Goiás disse que Bolsonaro foi "irresponsável" por dizer que a doença respiratória era uma "gripezinha".

Caiado tenta romper essa resistência. Num gesto de aproximação com a agenda do público evangélicos, o governador inaugurou em Goiânia um bosque com mais de mil árvores plantadas em memória das vítimas do Hamas em Israel.

Para o governador de Goiás e os seus seguidores mais próximos essas diferenças com Bolsonaro estão superadas, considerando as parcerias que os dois entabularam nos anos seguintes, incluindo o apoio do governador reeleito em primeiro turno à reeleição do ex-presidente.

Não por acaso, Caiado endossou o apelo que Bolsonaro fez na Avenida Paulista em favor da aprovação de um projeto de anistia aos réus condenados pelo inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) relacionado aos atos do 8 de Janeiro.

Caiado espera que a experiência seja credencial relevante para se tornar nome de consenso, conforme ficou demonstrado em entrevista no qual rebateu a fala de Zema em favor de uma candidatura única da direita. Ele considerou "ingenuidade" e "besteira" a proposta do governador mineiro de união em torno de um só candidato direitista tão logo seja possível, por entender que essa estratégia ignora as limitações dos polos extremos da política e a dinâmica das negociações partidárias.

Primeira batalha de Caiado será unificar seu partido contra Lula

O primeiro e maior desafio de Caiado na sua trilha até o Planalto está, contudo, em seu próprio partido, União Brasil, que integra o time de ministros e a base de apoio parlamentar de Lula.

O governador tem dado mostras de que quer superar o quanto antes a divisão dos correligionários – entre os que defendem a reeleição do atual chefe do Executivo e os que querem caminho próprio. Na série de entrevistas que Caiado vem dando desde o fim de 2023, ficou clara a sua intenção de partilhar com os correligionários o sonho de protagonismo.

Nesse sentido, a sua primeira batalha para unir o União Brasil foi endereçada à convenção nacional, para a escolha do novo presidente, no lugar do deputado Luciano Bivar (PE), em guerra aberta com outros caciques.

Em razão do racha interno, o encontro que estava marcado pra esta quinta-feira (29), acabou sendo adiado, numa manobra de Bivar. A cúpula ignorou e elegeu Antônio de Rueda para comandar a legenda. Caiado é um dos articuladores dessa mudança no comando partidário, juntamente com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, eleito agora vice-presidente.

O governador também tem se movimentado em favor de entendimentos até com os ministros do União Brasil Juscelino Filho (Comunicações) e Celso Sabino (Turismo), tendo já se reunido com este último para tratar de eleição presidencial. Sabino tinha rebatido pela imprensa a tese do governador goiano, mas Juscelino, embora também não a apoie, admite que o partido pode não endossar Lula em 2026.

A obstinação de Caiado para se tornar candidato em 2026 está seguindo um cronograma estruturado e planejamento com metas definidas. Essa investida pessoal dele remonta a 1989, quando foi o mais jovem presidenciável da primeira eleição direta após o período militar.

A diferença agora é que o médico e fazendeiro Caiado, de 74 anos, percorreu longa trajetória na política, como deputado, senador e governador no segundo mandato. Essa experiência acumulada e a coleção de feitos e posturas defendidas são os elementos que pretende explorar nessa fase atual, que busca a nacionalização de seu nome.

Largada precoce pode ser útil para Caiado, dizem especialistas

Com as pesquisas de opinião apontado o melhor nível de aprovação dentre os govenadores, na casa de 80%, Caiado se sente confortável para fazer da busca da Presidência uma marca do seu segundo mandato no Palácio das Esmeraldas.

Com um programa a ser cunhado pelos princípios do liberalismo econômico, da eficiência da máquina pública e do papel do Estado de garantir a soberania do território, afastando o domínio do crime, ele já contabiliza os primeiros apoios, como o da ex-deputada estadual paulista, Janaína Paschoal, professora de direito penal da Universidade de São Paulo (USP). “Caiado é uma boa opção para a direita”, defendeu ela nas redes sociais.

Segundo especialistas consultados pela Gazeta do Povo, o governador de Goiás não começou a possível candidatura presidencial de forma açodada, contrariando o receio que paira sobre outros potenciais candidatos, como os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).

Apesar de ser considerado o “primeiro da fila”, Tarcísio parece inclinado à busca pela reeleição, enquanto Zema e Ratinho têm eleição quase assegurada para o Senado.

Caiado, reconhecendo que "candidatura opositora tem de ser construída mais cedo", pode exibir vantagem mais adiante. Ele fez a ressalva de que não sairá candidato, caso Tarcísio, com quem tem boas relações, saia. Mas há uma novidade: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) já figura emergente nas pesquisas para 2026, se seu marido continuar inelegível.

O cientista político Luiz Filipe Freitas avalia que Caiado tem condições para se tornar alternativa competitiva na direita, destacando a sua aceitação em setores cruciais, como o agronegócio e o empresariado em geral.

Apesar de possíveis resistências devido à sua origem, a de um estado do interior do país e com apenas 3% do eleitorado nacional, o seu perfil é vantajoso para conquistar apoio no centro. “Ele é o mais experiente e bem-avaliado entre os cotados para a direita, o que o credencia para a Presidência”, disse.

Caiado terá primeiramente de nacionalizar o seu nome

Entre os competidores na arena da direita, Zema e Tarcísio, apesar da inexperiência, têm a seu favor o comando dos dois maiores colégios eleitorais, o que impõe a Caiado esforço adicional na busca por popularidade nacional.

O momento atual, faltando dois anos para o início da pré-campanha, é visto como crucial para que Caiado ganhe visibilidade e se consolide como opção. Contudo, a adesão à sua candidatura pelo União Brasil, partido com acesso considerável a fundos eleitoral e partidário e uma estrutura nacional, desempenha papel determinante nesse processo.

Quanto ao eleitorado mais alinhado a Bolsonaro, Freitas acredita que os governadores de São Paulo e Minas já conquistaram maior identificação. O perfil de Caiado, representando a direita tradicional e moderada, apresenta desafios específicos para avanço mais expressivo.

Embora sua abordagem enfática na segurança pública atraia os seguidores mais leais de Bolsonaro, questões como saúde e meio ambiente revelam ruídos. A postura mais ponderada de Caiado é evidenciada, por exemplo, ao ter se abdicado do debate sobre a vacinação obrigatória nas escolas, diferenciando-se de outros governadores de direita, como Zema e Jorginho Mello (PL-SC).

Para o cientista político Leandro Gabiati, diretor da Dominium Consultoria, Caiado é "bom nome para a direita, que atualmente carece de candidatos competitivos, com exceção de Tarcísio, que tudo indica irá para a reeleição”.

“É inegável que o governador goiano tem considerável experiência política e de gestão. Mas ele é pouco conhecido no âmbito nacional, uma situação que poderá ser sanada até 2026. Entendo que ele não queimou a largada ao antecipar a sua intenção de disputar. Tem de se antecipar porque está testando o seu nome e buscando a projeção nacional que necessita”, resumiu.

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