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Apesar de buscarem alternativas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para as eleições de 2026, partidos do Centrão terão que negociar com o ex-mandatário por apoio a um eventual candidato fora do Partido Liberal. Nos bastidores do Parlamento, congressistas mais fisiológicos entendem que o candidato ao Planalto deve ser alguém “moderado”. Por outro lado, o entendimento da oposição é de que o sobrenome Bolsonaro precisa estar na urna para que o adversário da esquerda não seja bem-sucedido no pleito.
O discurso oficial de Bolsonaro e do PL é manter a candidatura do ex-presidente até quando for possível, mesmo com a inelegibilidade aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas, no horizonte da própria oposição, já há o entendimento de que o ex-presidente poderá negociar seu capital político para emplacar a anistia aos presos do 8 de janeiro, bem como um possível perdão presidencial do futuro chefe do Executivo, em caso de vitória da direita em 2026, para os processos envolvendo o ex-mandatário.
As informações foram apuradas pela reportagem com um parlamentar da oposição, outro congressista do centrão e um interlocutor do Senado que falaram em off por receio de possíveis represálias do ex-presidente e de seus aliados. O entendimento dessas fontes é de que Bolsonaro precisa manter a narrativa de que será candidato em 2026 e atacar qualquer posicionamento contrário ao seu discurso - para manter a base de apoio dele aquecida e continuar com papel relevante nas discussões que envolvem esse espectro político.
A estratégia de parte do Centrão é unir forças em torno de uma candidatura apoiada por partidos de peso no Congresso Nacional, como PP, União e Republicanos. O nome de consenso ainda não foi decidido pelos caciques dessas legendas, mas as siglas de Ciro Nogueira (PP) e Antônio Rueda (União) já articulam uma federação para 2026, visando construir uma alternativa a Bolsonaro.
Questionado pela reportagem sobre o assunto, Nogueira afirmou que Bolsonaro continua sendo a única opção para o ano que vem. Por outro lado, o senador já declarou anteriormente que o candidato apoiado por seu partido deverá se comprometer com a anistia de Bolsonaro, caso a inelegibilidade não seja revertida.
"Eu vou defender que qualquer que seja o candidato, se o Bolsonaro for condenado, se comprometa a anistiá-lo para repor essa injustiça que está sendo cometida contra o presidente", afirmou Nogueira, em entrevista ao canal GloboNews nesta quinta-feira (6).
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Centrão precisa mais de Bolsonaro do que Bolsonaro do Centrão
Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, o Centrão tem mais interesse no apoio de Bolsonaro do que o contrário, especialmente por não enxergar viabilidade eleitoral no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O Centrão está vendo que o governo Lula não tem condições, não há horizonte de viabilidade eleitoral pela frente”, afirmou.
Ele acrescenta que a pressão para que o STF mantenha uma eventual condenação do ex-presidente será forte, tornando a anistia um caminho difícil. “Mesmo que ele consiga uma anistia, se não tiver um entendimento com o STF, o STF vai barrar”, explicou.
Cerqueira ainda avalia que, no cenário atual, Bolsonaro tem um fator de influência importante na direita e pode desempenhar um papel decisivo na disputa presidencial. “O apoio de Bolsonaro é decisivo. E o Tarcísio é um nome que congrega bem o Centrão”, disse. Segundo ele, qualquer acordo entre Bolsonaro e o bloco deve girar em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas, que tem se mantido leal ao ex-presidente.
Mas o governo de São Paulo já chegou a afirmar que pretende disputar a reeleição e que não será candidato a presidente da República em 2026.
Centrão “cansou” da polarização entre Lula e Bolsonaro
Mas qual seria o motivo para o Centrão, apesar de se beneficiar com uma aliança eleitoral com a direita, buscar um candidato fora do círculo do ex-presidente? Em reserva, um interlocutor do Senado argumentou que existe um “cansaço” por parte de lideranças do Congresso em relação à disputa entre Lula e Bolsonaro. Para eles, o embate entre direita e esquerda estaria atrasando discussões do dia a dia do Legislativo.
A solução avaliada pelos parlamentares de centro para esse suposto "dilema" seria apoiar um candidato de centro-direita, que defendesse pautas econômicas mais liberais, mas que, ao mesmo tempo, não tivesse o mesmo afinco em pautas conservadoras.
Nesse contexto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, são vistos como possíveis candidatos que se encaixam nesse perfil: conseguem dialogar com o eleitorado antipetista, de direita e parte do eleitorado conservador, mas não possuem o mesmo perfil combativo de Bolsonaro.
Além disso, pesquisas eleitorais recentes que mostram o desempenho do governador paulista animam o Centrão sobre uma eventual disputa contra Lula. De acordo com levantamento publicado pela AtlasIntel* nesta sexta-feira (7), Tarcísio empata tecnicamente com Lula em um cenário de segundo turno, obtendo 49% das intenções de voto contra 47% do petista. Já Bolsonaro desponta com os mesmos 49%, enquanto Lula soma 48%.
Bolsonaro não pode mais contar com a posição de outsider
A apresentação de outras candidaturas autodeclaradas de direita, como a do empresário Pablo Marçal e do cantor Gusttavo Lima, indica que o Centrão também avalia alternativas dentro e fora do mundo político para tentar preencher o espaço deixado pela inelegibilidade de Bolsonaro.
Os outsiders são aqueles candidatos que se apresentam como não-políticos ou os que já participam da política, mas afirmam que não compactuam com o "sistema".
Na avaliação do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a movimentação feita pelo Centrão indica que o ex-presidente não pode mais se apresentar como um outsider da política tradicional, como fez em 2018.
"Diferentemente da primeira vez que chegou ao poder, como um outsider completo ou um insider heterodoxo, agora ele está aquilatado dentro da disputa como outro polo do populismo, contraponto claro ao lulopetismo", afirmou.
Com isso, segundo Gomes, Bolsonaro precisa estruturar uma coalizão robusta para chegar ao poder e se manter no cargo. "Ele precisa desse fiel da balança, que tem sido determinante para a ascensão e permanência no poder no Brasil: o apoio dos partidos do centro, formando uma grande coalizão para vencer as eleições e garantir maioria legislativa para aprovar a agenda do Executivo", explicou.






