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Díaz-Canel - Xi Jinping - Cuba - China - Lula - G77
Os ditadores de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e da China, Xi Jinping, em encontro realizado em Joanesburgo| Foto: EFE/Presidência de Cuba

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um dos confirmados na Cúpula do G77, em Cuba, no próximo dia 16. O petista foi convidado pelo ditador cubano, Miguel Diaz-Canel, que atualmente preside o bloco. A participação de Lula no evento, de acordo com especialistas, é mais um movimento do brasileiro em sentido a nações ditatoriais.

Fundado em 1964, o grupo foi criado após a primeira sessão da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, em Genebra, onde os 77 países fundadores assinaram a Declaração Conjunta dos Setenta e Sete Países em Desenvolvimento. O grupo, contudo, angariou novos membros e hoje conta com 134 nações.

O bloco nasceu com o intuito de unir as vozes dos países do chamado Sul Global, que buscavam ascensão financeira. O grupo, porém, tem ganhado um teor político e ideológico diferente nos últimos anos. O primeiro sinal de alerta vem de seus membros: grande parte dos países do G77 não são considerados democracias, inclusive Cuba, que ocupa a presidência rotativa do colegiado.

Lula, porém, não esconde o interesse em se aproximar do autocrata cubano. O encontro do brasileiro com Diaz-Canel, no próximo mês, é o segundo entre os dois neste ano — durante a Cúpula do Novo Pacto Financeiro Global, na França, em junho, o ditador teve uma bilateral com o petista.

Países mais autocratas do mundo estão no G77

Na presidência rotativa do bloco neste ano, o cubano não é o único líder autocrata do G77. Entre os países-membros, está ainda o Afeganistão, considerada a nação menos democrática do mundo. O país teve os piores índices democráticos do ranking feito pelo jornal inglês The Economist. O Afeganistão ocupa a 167ª posição, a última da lista. Venezuela, Nicarágua, China, Síria, Kuwait, Angola, Camboja e outros diversos países ditatoriais também integram o grupo.

Além disso, o encontro de setembro vem sendo chamado de G77 + China. Isso porque o líder comunista Xi Jinping vem tentando se consolidar como o líder do Sul Global, países que deseja manipular em sua disputa com os Estados Unidos. Xi vem apoiando o ditador cubano em sua luta contra o embargo americano e está ajudando a construir na ilha um centro de inteligência para monitoramento de comunicações.

A presença de Lula na cúpula marcada para o próximo dia 16, reforça a imagem de que o brasileiro não se sente acanhado em se aproximar de ditaduras. Desde que assumiu para o terceiro mandato, neste ano, o brasileiro se reuniu ou se aproximou de várias nações com regimes autocratas.

Em um dos episódios, Lula disse que a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela não passava de uma “narrativa”. O mandatário brasileiro também relativizou o regime autocrata de Daniel Ortega, na Nicarágua, ao afirmar que o conceito de democracia poderia varia de "pessoa para pessoa".

Além disso, o recente consenso entre os países dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de expandir o bloco e aceitar países, em sua grande maioria, ditatoriais, evidenciou que a democracia não é uma questão para o bloco.

Mudança fortemente patrocinada pela influência chinesa, a sede do país em agarrar países do Sul Global leva a crer que a China tem um grande propósito ao fazer acenos ao G77.

China no G77 demonstra busca do país por coalizões “antiamericanas” 

Ainda que ocupando o lugar de segunda maior economia do mundo, a China não só participa do G77 como exerce grande influência sobre o bloco. Xi Jinping quer aumentar sua influência política sobre países do Sul Global.

Pequim foi incluída no grupo depois de sua formação e, recentemente, deu declarações de apoio a Diaz-Canel. Os dois países sofrem sanções dos Estados Unidos devido aos regimes autoritários que comandam em seus respectivos países. Compartilhando da mesma insatisfação, Xi encontrou em Canel um aliado na luta contra a soberania norte-americana.

Enquanto a China anseia pela posição de maior potência mundial, posto ocupado há décadas pelos Estados Unidos, Cuba tem um problema histórico com o país. Os EUA são apontados pelo governo cubano como os principais responsáveis pela crise financeira que o país enfrenta desde a década de 1960. À época, os Estados Unidos impuseram um embargo ao país comunista suspendendo as relações bilaterais. As consequência deste "bloqueio", como diz Canel, ainda perduram no país que nunca se livrou das sanções.

Assim como Lula, o líder chinês também se reuniu com o presidente cubano. O encontro aconteceu na África do Sul, na última semana, quando diversas autoridades mundiais marcaram presença na 15ª Cúpula dos Brics. Cuba é um dos países interessados em ingressar no bloco e que foi convidado para o encontro.

"A China aprecia muito o apoio firme e consistente de Cuba à China em questões que envolvem os interesses fundamentais da China, e continuará a apoiar firmemente Cuba na defesa da sua soberania nacional, opondo-se à interferência e ao bloqueio estrangeiros, e fazendo o seu melhor para fornecer apoio ao desenvolvimento econômico e social de Cuba", disse Xi Jinping após seu encontro com Diaz-Canel.

Enfrentando uma espécie de Guerra Fria 2.0 contra os Estados Unidos, a China sofre com sanções comerciais e tecnológicas do país. Demais potências mundiais, como os países que integram a União Europeia, também se juntam à nação norte-americana na tentativa de frear o avanço da China. O que isola o país e o faz buscar novos aliados.

Brasil tem comprado discurso antiamericano

Embora Lula defenda que deve haver diálogo dos "dois lados", o Brasil parece estar comprando o discurso antiamericano da China. Algumas retóricas alavancadas por Xi Jinping têm sido ecoadas pelo Brasil e por outras nações que dependem do comércio chinês.

Entre eles, os ataques à hegemonia do dólar e a alegada necessidade de se reformar as organização de lideranças globais. Pequim prega o multilateralismo quando na verdade deseja assumir o posto de potência hegemônica ocupado por Washington. Comprando o discurso chinês, o chefe do Executivo brasileiro tem atacado frequentemente o uso da moeda americana para transações comerciais do mundo.

Além disso, o consenso do Brasil sobre a escolha dos países que vão aderir aos Brics no próximo ano deixou o país em uma "saia justa". Embora o assessor especial de Lula, Celso Amorim, afirme que os Brics não buscam ser um bloco antagônico ao G7, a nova formação do grupo passa a mensagem oposta.

Rússia e China estão formando um bloco antiamericano que tenta abarcar o Irã e antigos aliados de Washington, como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. Especialistas disseram à Gazeta do Povo anteriormente que esse alinhamento favoreceu para que os países fossem aceitos para ingressar os Brics.

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