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Depois de dois anos sem uma legenda, o presidente Jair Bolsonaro assina nesta terça-feira (30) sua filiação ao Partido Liberal (PL). Integrante do Centrão, a sigla tem a terceira maior bancada da Câmara com 43 deputados, atrás apenas do PSL (54) e do PT (53).
O evento de filiação vai ocorrer em Brasília na data em que se comemora o Dia do Evangélico na capital do país. Segundo aliados do Planalto, a ideia é que a filiação tenha um tom religioso e que lideranças evangélicas participem da cerimônia ao lado do presidente Bolsonaro, entre elas o deputado Marco Feliciano (PL-SP). Esse grupo é um dos principais aliados do Palácio do Planalto.
O evento de filiação deve contar ainda com parte da bancada do PSL, como a deputada Carla Zambelli (SP), Bia Kicis (DF), Hélio Negão (RJ) e Major Vitor Hugo (GO). A expectativa é de que cerca de 30 deputados que atualmente estão no PSL sigam o presidente para o PL durante a janela partidária do próximo ano.
Flávio Bolsonaro e Marinho também vão se filiar ao PL
Além do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) também vai assinar sua filiação ao PL na mesma cerimônia. O parlamentar está filiado ao Patriota há cerca de seis meses, quando tentou acertar a entrada do pai na legenda, o que acabou não se concretizando.
Ministros do alto escalão do governo também devem marcar presença no evento, como a ministra Damares Alves (Mulher e dos Direitos Humanos); Tereza Cristina (Agricultura); Tarcísio Freitas (Infraestrutura), entre outros. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e demais parlamentares do Centrão também são esperados para a cerimônia.
Outro nome que pretende entrar no PL na mesma cerimônia é o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. O chefe da pasta planeja disputar uma cadeira no Senado pelo estado do Rio Grande do Norte, onde disputa espaço com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que deve deixar o PSD para se filiar ao PP.
Filiação abre caminho para a construção de candidaturas de aliados
Além da articulação da candidatura à reeleição de Bolsonaro, a filiação do presidente ao PL vai pavimentar a candidatura de aliados aos governos estaduais e ao Senado. Uma das exigências de Bolsonaro é indicar os nomes de candidatos ao Senado em todos os estados na disputa do próximo ano.
Até então o presidente vinha sendo pressionado por aliados para que a escolha de seu partido fosse feita ainda neste ano, para que eles tivessem tempo de construir alianças e palanques regionais. Além do PL, Bolsonaro deve contar com o apoio do PP, presidido pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. O trio compõe o núcleo duro do Centrão, base de sustentação do governo no Congresso.
A expectativa é de que as filiações de aliados bolsonaristas sejam divididas entre os três partidos. A ideia, segundo aliados do Planalto, é que a construção dos palanques e as candidaturas a deputados federais e estaduais passem necessariamente pelas negociações conjuntas dos três principais partidos. A deputada Alê Silva (PSL-MG), por exemplo, deve ir para o Republicanos, enquanto a ministra Tereza Cristina deve ir para o PP.
Na Bahia, por exemplo, o ministro da Cidadania, João Roma, pretende disputar o governo pelo Republicanos com apoio do Palácio do Planalto. Na Paraíba, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pretende disputar uma cadeira do Senado, mas ainda não houve acordo para onde irá sua filiação.
No Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, pretende disputar o governo estadual e já encaminha sua filiação ao PL. A candidatura, no entanto, depende de uma composição com o senador Luiz Carlos Heinze, que é pré-candidato pelo PP. Lideranças dos dois partidos admitem que um acordo terá que ser construído nos próximos meses para que não haja uma divisão do grupo no estado.
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Filiação de Bolsonaro ao PL deve provocar debandada de opositores
A chegada do presidente Bolsonaro ao PL deve provocar uma debandada de alguns quadros do partido que fazem oposição ao Palácio do Planalto. Apesar disso, a expectativa é de que não haja retaliação por parte do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Entre as possíveis baixas estão o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), o deputado Tiririca (SP) e o ex-ministro Mauricio Quintella, que preside o diretório do PL em Alagoas e é aliado do governador Renan Filho (MDB).
Mesmo com as baixas, Costa Neto acredita que o saldo final da chegada de Bolsonaro será positivo e a bancada do partido será ampliada na próxima legislatura. Nos cálculos, integrantes do PL estimam eleger cerca de 65 deputados e ao menos 10 senadores apoiados pelo presidente.
Antes de acertar a filiação de Bolsonaro, o presidente do PL recebeu “carta branca” dos demais diretórios estaduais. "Todo mundo vai receber o presidente de braços abertos", sinalizou o senador Jorginho Mello (PL-SC), um dos entusiastas da chegada do presidente ao partido.
Idas e vindas
A concretização do acordo foi marcada por idas e vindas, e inicialmente a filiação de Bolsonaro estava prevista para ocorrer no dia 22 de novembro, pois a data faria alusão ao número do PL nas urnas. No entanto, Bolsonaro acabou recuando depois de entraves em diretórios como o de São Paulo, onde havia um acordo para que o partido apoiasse a candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB), atual vice-governador, para a sucessão de João Doria em 2022. “A gente não vai aceitar, por exemplo, São Paulo apoiar alguém do PSDB”, disse o chefe do Planalto na ocasião.
Além disso, havia acordos do PL com aliados do PT em estados do Nordeste como Piauí e Pernambuco, por exemplo. Agora, tanto integrantes do PL quanto aliados do Planalto admitem que a situação está pacificada e que Bolsonaro irá participar da construção das chapas aos governos estaduais e indicar nomes para o Senado.
"Tudo certo para ser um casamento [com o PL] que seremos felizes para sempre. Acertamos São Paulo, alguns estados do Nordeste. No macro, foi tudo conversado com Valdemar, sem problema", afirmou Bolsonaro na semana passada.



