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Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia.
Ministro de Minas e Energia, Alexandre da Silveira, se alinha à busca de Lula por mais intervenção estatal na economia enquanto amplia suas ambições políticas.| Foto: Ricardo Botelho/MME

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), consolidou-se como o mais poderoso integrante não-petista da Esplanada após sair vitorioso do longo e tenso embate com a presidência da Petrobras, que resultou na demissão de Jean-Paul Prates (PT). Com trajetória aparentemente discreta e focada em Minas Gerais, Silveira protagonizou uma ascensão em razão do estreito alinhamento com os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para sua área.

Hábil ao aproveitar as oportunidades políticas ao seu redor, ele se destaca no cenário nacional e desperta a curiosidade sobre suas ambições, que já incluem o governo mineiro.

Segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a confiança de Lula no ministro foi forjada pelo interesse comum de conquista do eleitorado de Minas, o segundo maior do país, e a defesa irrestrita de maior intervenção estatal em preços, negócios e postos de comando.

“Alexandre Silveira se tornou tão poderoso apenas porque decidiu ser um dos profetas do nacional-estatismo que tanto agrada ao PT”, resumiu Luiz Felipe D’Ávila, cientista político e ex-candidato à Presidência pelo Novo.

Desde o seu primeiro dia no cargo, o titular do Ministério de Minas e Energia tem demonstrado forte determinação em ampliar a influência não só na maior empresa brasileira e no complexo petroleiro, mas também nos estratégicos setores elétrico e mineral. Silveira se aproximou mais de Lula após endossar a insatisfação do presidente com limites a estatais impostos pela legislação.

Silveira encampou todas as demandas de Lula

Como auxiliar fiel do presidente, Alexandre Silveira fez coro à afirmação da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, de que o apagão de 26 unidades da federação em agosto de 2023 era reflexo da privatização da Eletrobras. Da mesma forma, deu todo o apoio aos planos para o início da polêmica exploração de petróleo em uma faixa de mar a 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas, agradando a Lula e ao ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e irritando ambientalistas.

Na esfera partidária, Silveira mantém redes de contatos com prefeitos de seu estado e conduz negociações com Lula para viabilizar candidaturas a prefeito do PSD, incluindo a de Fuad Noman, que busca a reeleição em Belo Horizonte.

Mas o maior empenho do ministro e de seu grupo político, cujo comando divide com o senador e aliado próximo Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso, está na construção de um grande palanque em 2026 para uma chapa para o Senado e para o Palácio da Liberdade, atrelada à campanha de reeleição do presidente da República. Nessa toada, Silveira se envolveu até com a renegociação da dívida de Minas Gerais com a União.

Parceria de Pacheco e Silveira vem da Câmara

Inicialmente, o nome de Pacheco estava reservado para a disputa do governo mineiro, mas a missão poderá ficar com o ministro. Enquanto o senador aventa abandonar a política, Silveira torna tal possibilidade palpável, ressalta o cientista político e consultor eleitoral Paulo Kramer. Segundo ele, os bastidores do Congresso dão conta de uma longa parceria entre Silveira e Pacheco, desde quando o presidente do Senado presidia a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

O fortalecimento de Silveira no governo é, na opinião de Kramer, resultado da combinação de fatores diversos. Parte do sucesso do ministro se deve à aliança com o colega Rui Costa para pressionar um aumento da produção de gás natural para a fábrica de fertilizantes Fapen, em Camaçari (BA). O gás é o principal insumo da produção do fertilizante. “Essa foi uma das muitas brigas envolvendo os dois ministros contra Jean Paul Prates, ex-presidente da Petrobras”, ilustrou.

Para o futuro, o especialista acredita que caberá a Silveira “aceitar todos os desmandos de Lula na Petrobras” e “planejar a reocupação do largo espaço fisiológico da política mineira, fechado após o naufrágio do governo de Fernando Pimentel (PT) e o começo da gestão de Romeu Zema (Novo)”.

Ministro se cacifou para disputar governo de MG

Lucas Fernandes, analista da consultoria BMJ, avalia que Silveira tem se destacado mais do que até ministros petistas, como Nísia Trindade, da pasta da Saúde, devido à habilidade política. A vitória na disputa com Prates também representou, a seu ver, um ganho em relação ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Silveira se tornou um nome forte para as próximas eleições, especialmente com a possibilidade de Rodrigo Pacheco deixar a política. Minas é crucial para o PT. Além disso, Zema, embora popular, ainda não tem um sucessor definido. Se entregar uma gestão eficiente e aproveitar a colaboração com a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, Silveira pode ampliar ainda mais seu espaço político”, observa. Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro disse esperar que a CEO da petroleira "faça acontecer".

Apoiado por Lula, Silveira perdeu a eleição para o Senado em 2022 para Cleitinho (Republicanos-MG), que contou com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Como prêmio de consolação, Silveira participou da transição de governo e foi indicado pelo PSD, que integrou a coalizão de Lula no segundo turno, para fazer parte do ministério.

Ele segurou o cargo com as duas mãos, tomando decisões políticas e indicando nomes de seu convívio para cargos estratégicos, com foco nas eleições de 2024 e 2026. Seus indicados, sobretudo os que estão na Petrobras, são chamados jocosamente nos bastidores da empresa por “Silveirinhas”.

Como presidente do PSD mineiro, Silveira tinha sido antes diretor-jurídico do Senado até que um acordo com o senador Antonio Anastasia (PSD-MG), de quem era suplente, lhe garantiu vaga no plenário da Casa, meses antes do fim do mandato. Anastasia abdicou da reeleição certa para se tornar ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Também com o apoio de Pacheco, esteve envolvido em projetos de grande visibilidade, como a ampliação do Auxílio Brasil, o vale-gás, o auxílio-caminhoneiro e a Lei Paulo Gustavo, de socorro ao setor cultural. Na época, ele recusou convites para ser líder de Bolsonaro no Congresso ao perceber a inclinação do PSD a Lula.

Apoio de políticos ditou a trajetória do ministro

A biografia do ministro nas redes sociais enfatiza a história de sucesso de um menino de origem humilde, que começou a trabalhar aos 14 anos e foi aprovado em concurso público para delegado da Polícia Civil. Essa é só uma parte da sua jornada, favorecida por relações políticas e empresariais.

Após uma tentativa frustrada de se eleger deputado federal em 2002, Silveira foi nomeado superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em Minas Gerais no ano seguinte, devido à influência do tio Agostinho Silveira, ex-deputado estadual fundador do PL, partido do então vice-presidente José Alencar. Pouco depois, assumiu a direção nacional da autarquia.

Utilizando os recursos e a influência do cargo, foi eleito deputado federal pelo PPS (Cidadania) em 2006, com campanha financiada por construtoras, e reeleito em 2010 com ainda mais doadores. Convidado pelo então governador Antônio Anastasia (então PSDB), assumiu as Secretarias de Gestão Metropolitana e da Saúde. Em 2011, atento às mudanças de cenário e declínio dos tucanos, Silveira seguiu Gilberto Kassab na fundação do PSD.

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