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O coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde
O coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O coronel Marcelo Blanco, ex-assessor de Logística do Ministério da Saúde, confirmou à CPI da Covid sua presença no "jantar da propina", o encontro em fevereiro no qual um membro do governo teria pedido o pagamento de vantagens para a compra de vacinas. Ele negou, porém, conhecimento da cobrança de propina e também disse que sua participação no episódio se resumiu a apresentar um representantes da Davati a integrantes do Ministério da Saúde.

Blanco depõe nesta quarta-feira (4) na CPI. A oitiva com o militar, que deixou o Ministério em janeiro, tem sido marcada por contestações de senadores que fazem oposição ao governo de Jair Bolsonaro às falas de Blanco - para os parlamentares, as versões do ex-assessor do Ministério não correspondem à realidade e ele apresentou contradições. Já os parlamentares alinhados com o governo Bolsonaro alegam que o episódio se resumiu a diálogos entre membros de escalões inferiores e não houve o pagamento efetivo de nenhuma despesa.

A sessão chegou a ser suspensa por volta de 12h após o advogado de Blanco entregar à presidência da CPI imagens relativas a mensagens de celular trocadas pelo coronel e outros envolvidos no caso. Senadores alegam que as imagens podem estar adulteradas, o que configuraria uma irregularidade que poderia levar à prisão de Blanco.

Outra paralisação foi registrada após o deputado federal Reinold Stephanes Junior (PSD-PR) comparecer à sala da comissão e fazer críticas aos trabalhos do colegiado. O parlamentar é defensor do governo Bolsonaro. A entrada dele na sala da comissão foi contestada até mesmo pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

O "jantar da propina" foi um encontro que reuniu Blanco, o policial militar Luiz Dominguetti, representante da empresa Davati, e Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde. O encontro, ocorrido em um restaurante na região central de Brasília, teve como pauta a venda de vacinas da Astrazeneca ao governo federal. Segundo Dominguetti, Dias teria dito a ele que o negócio só poderia transcorrer com o pagamento de propina de US$ 1 por dose. Dias nega o ocorrido e contesta também que teria planejado o encontro - sua versão é de que ele foi ao restaurante com um amigo e lá foi abordado por Blanco e Dominguetti.

Justificativas contestadas

As justificativas apresentadas por Blanco para se explicar na CPI foram contestadas, especialmente pelos senadores que fazem oposição ao governo Bolsonaro. No início do depoimento, o coronel disse que seu contato com Dominguetti tinha como foco a compra de vacinas pelo setor privado, situação que estava em discussão no país no primeiro semestre, após a aprovação de um projeto de lei na Câmara sobre o tema. Mas senadores como Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PT-PE) alegaram que o "jantar da propina" se deu antes de as discussões sobre a proposta sobre a compra de imunizantes terem sido efetivamente pautadas.

Os senadores também discutiram com Blanco sobre a conexão real que ele teve com Dominguetti. O coronel disse não ter amizade nem outro vínculo qualquer com o policial, e também afirmou que não receberia nenhuma comissão para desempenhar a intermediação da compra de vacinas. "O senhor é muito bondoso", ironizou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), em resposta à declaração de Blanco de que ele não tinha interesses financeiros ao promover a aproximação entre Dominguetti e Dias.

Outro ponto de contestação foi sobre a influência que Blanco teve na aproximação entre Dias e Domingueti. O coronel alega que apenas orientou o policial a procurar as vias oficiais, não correspondendo a uma aproximação efetiva. Para diversos senadores, como Renan Calheiros (MDB-AL), a conduta corresponde a uma proximidade efeiva.

Blanco falou também que não sabia, no momento, que Dominguetti era um policial militar. "Ele era, para mim, um representante de uma empresa dos Estados Unidos", colocou.

O coronel chegou ao Ministério da Saúde durante a gestão de Eduardo Pazuello, que comandou a pasta entre maio do ano passado e março deste ano.

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