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Reunião da CPI em 16/06, com Wilson Witzel
Reunião da CPI em 16/06, com Wilson Witzel| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

A sessão da CPI da Covid do Senado desta quarta-feira (16), que recebe o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC), tem sido marcada por acusações ao presidente Jair Bolsonaro e por derrotas dos parlamentares governistas nas votações do colegiado.

Witzel fez de sua fala inicial um "desabafo" sobre o processo de impeachment que o removeu do governo. Ele foi eleito para o cargo em 2018, na esteira da "onda conservadora" que marcou as eleições daquele ano, e afastado da função em agosto do ano passado. Segundo ele, o processo foi marcado por falhas jurídicas e por "perseguições" que ele teria sofrido. Os responsáveis pela perseguição, de acordo com o ex-governador, seriam a "máfia da saúde" que opera no estado e o presidente Bolsonaro.

"Tudo isso começou porque comecei a investigar sem parcialidade o caso Marielle", declarou o ex-governador. Ele citou uma transmissão que Bolsonaro fez em suas redes sociais em outubro de 2019, quando estava em viagem à Arábia Saudita, após a TV Globo veicular uma reportagem que sugeria conexão entre o presidente e o assassinato da vereadora Marielle Franco, crime ocorrido em 2018. Na ocasião, Bolsonaro disse que "quem vazou esse processo para a Globo foi o seu governador Witzel”. O episódio confirmou o rompimento entre Witzel e Bolsonaro. O ex-governador também disse que corre risco de vida e que "tem miliciano envolvido atrás disso", em referência às ameaças que supostamente recebe. Ele ainda pediu investigações sobre o fato de seu então vice e atual governador, Cláudio Castro (PSC), estar em Brasília no dia em que foi feita operação de busca e apreensão no palácio do governo local.

O ex-governador chegou a citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como exemplo de personalidade que também seria vítima de uma perseguição política e judicial. "A delação de hoje é o pau de arara moderno", declarou, numa menção às delações premiadas, mecanismo utilizado em investigações como as da Lava Jato.

Em outra acusação a Bolsonaro, Witzel disse que o então ministro Sergio Moro passou a ele um recado: disse que Bolsonaro havia pedido que Witzel parasse de falar de suas intenções de concorrer à Presidência da República, porque com isso seria difícil atender as demandas do Rio de Janeiro.

Witzel está falando à CPI mesmo após ter sido contemplado com um habeas corpus que deu a ele o direito de não comparecer à comissão e de ficar em silêncio quando julgar conveniente. Na chegada ao Senado, ele disse que poderia recorrer ao silêncio se essa fosse a orientação de seus advogados. O depoimento ainda está em curso.

Falhas na pandemia

Witzel responsabilizou Bolsonaro pelos problemas que o Brasil enfrenta em decorrência da pandemia de Covid-19. Ele declarou que o presidente promoveu um boicote a governadores, o que prejudicou a atuação dos gestores estaduais. "O presidente me chamou de estrume, de ditador, de leviano", disse.

O ex-governador disse que o presidente "tem que liderar o Brasil, não ficar fazendo motociata e carreata", em uma referência aos atos governistas das últimas semanas. Ele considerou a atuação de Bolsonaro "uma vergonha para o Brasil" e disse esperar que o presidente responda em tribunais internacionais sobre a condução da pandemia.

Segundo Witzel, o governo federal recusou pedidos de ajuda apresentados por ele e por gestores de outros estados. Ele falou que o auxílio emergencial foi uma demanda constante dos governadores e que demorou para ser efetuada pelo Palácio do Planalto.

"O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos 400 mil mortes que tem aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado", declarou.

"Se o Brasil tivesse, através do governo federal, não sido negacionista, e desse determinação ao Itamaraty para que negociasse com o governo chinês, alemão e dos Estados Unidos para trazer insumos, respiradores e agora as vacinas, nós não teríamos ficado à mercê dos preços dos mercados internacionais", acrescentou.

Convocação de Gabas é vetada

Antes da fala de Witzel, os membros da CPI da Covid votaram requerimentos de convocação de testemunhas e quebra de sigilos de investigados pela comissão. Uma das decisões tomadas pelos parlamentares foi a de rejeitar a convocação do secretário-executivo do Consórcio Nordeste, Carlos Gabas. O pedido foi reprovado por 6 votos a 4.

A presença de Gabas foi demandada por parlamentares alinhados com o governo Bolsonaro. O Consórcio Nordeste promoveu, no ano passado, uma compra de respiradores em que os produtos não foram entregues e teve preços possivelmente superfaturados.

Os senadores também aprovaram a quebra dos sigilos fiscal e bancário do empresário Carlos Wizard Martins. Ele é citado como um dos líderes do "gabinete paralelo", estrutura que prestaria aconselhamentos ao presidente Bolsonaro sobre a pandemia de coronavírus com diretrizes contrárias às recomendadas pelas organizações de saúde. Wizard tem seu depoimento agendado na CPI para a quinta-feira (17), mas a participação é uma incógnita. Ele está nos Estados Unidos. Seus advogados pediram que o depoimento fosse feito de forma remota, o que a CPI rejeitou. O presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), disse que a comissão "tomará providências" para garantir o depoimento de Wizard.

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