O ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, disse no final da manhã desta segunda (13) que não foi avisado que seus assessores das secretarias de Assuntos Legislativos e de Políticas Penais tiveram reuniões com a presidente de uma ONG investigada por ligação com o Comando Vermelho.
Ele se pronunciou sobre a apuração publicada mais cedo pelo jornal O Estado de São Paulo de que a mulher conhecida como “dama do tráfico amazonense”, Luciane Barbosa Farias, se reuniu com integrantes do ministério fora das agendas oficiais.
Segundo a apuração, ela foi recebida por secretários em março e em maio como parte de uma comitiva que visitou a pasta para levar demandas da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA). A organização não governamental, no entanto, é apontada pela Polícia Civil como parte da estrutura do Comando Vermelho na região Norte do país, sendo financiada pelo tráfico e atuando em prol dos detentos ligados à facção.
Dino afirmou que nunca recebeu no Ministério da Justiça qualquer “ líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho”, e que teriam inventado a presença dele em uma audiência em seu gabinete. No entanto, a apuração não cita em momento algum este encontro.
Por outro lado, ele afirmou não saber que seus assessores se reuniram com Luciane.
“Sobre a audiência, em outro local, sem o meu conhecimento ou presença, vejam a história verdadeira no Twitter [atual X] do Elias Vaz”, disse em referência ao secretário de assuntos legislativos do ministério. Além de Vaz, Luciana também se reuniu com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
Luciane registrou nas redes sociais o encontro que teve com Vaz, assim como outros integrantes do governo e políticos aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL-SP) e André Janones (Avante-MG). Ela é esposa do traficante Clemilson dos Santos Farias, conhecido como “Tio Patinhas” e tido como um dos mais violentos criminosos do estado.
Elias Vaz confirmou que se reuniu com Luciane no dia 16 de março a pedido de Janira Rocha (PSOL-RJ), ex-deputada estadual condenada em 2021 pelo crime da “rachadinha” com os salários de servidores na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Além da parlamentar, também participaram do encontro duas mães de vítimas do tráfico de drogas no Amazonas, em que pediram um auxílio para dar celeridade às investigações.
Ele disse que as mães apresentaram uma carta de “socorro” ao governo, enquanto que Luciane falou da situação do sistema penal do estado.
“Quanto à Sra. Luciane, ela estava como acompanhante da advogada Janira Rocha, e se limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário. Por esta razão, foi sugerido à advogada Janira Rocha que elas procurassem a Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN)”, disse em referência à secretaria tocada por Brandani.
Vaz afirmou, ainda, que atendeu Janira Rocha e acompanhantes por “conhecer a citada profissional e ela desejar falar sobre vítimas de homicídios”. No entanto, não comentou sobre as suspeitas que recaem sobre a parlamentar e Luciane.
Segundo a apuração, Janira e Luciane são vistas frequentemente em Brasília, e a esposa de Clemilson registrou nas redes sociais as reuniões que teve com políticos e a circulação pelos corredores dos parlamentares no Congresso Nacional.
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