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Crise das emendas

Dino suspende emendas a entidade suspeita de desvios e cita senador do PL

Flávio Dino
Ministro aponta possível ligação do senador Izalci Lucas com suspeito de ser lobista da associação investigada. (Foto: reprodução/Youtube Canal Gov)

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O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o repasse de R$ 15 milhões em emendas parlamentares à Associação Moriá, um dos alvos de uma operação deflagrada na terça (29) em três estados e no Distrito Federal por suspeita de desvio de recursos públicos.

A investigação apontou que a entidade teria firmado um convênio com o Ministério do Esporte para financiar, com o uso de emendas parlamentares, a realização de jogos estudantis de esportes digitais entre os anos de 2023 e 2024. A pasta não respondeu aos contatos da Gazeta do Povo.

No despacho assinado no dia 22 e tornado público nesta quarta (30), Dino cita uma apuração da Controladoria-Geral da União (CGU) de que as emendas eram de autoria do senador Izalci Lucas (PL-DF) e foram prospectadas por um “contemporâneo” dele quando eram filiados ao PSDB até o ano de 2024.

Em uma nota à imprensa, o senador negou relação com o suposto desvio e afirmou que “cancelou o repasse do valor da emenda parlamentar que seria destinado à Associação Moriá” (veja na íntegra mais abaixo).

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Segundo a CGU, o contador Adriano Marrocos foi “sócio majoritário” da Associação Moriá entre outubro de 2022 e julho de 2024, e também sócio da esposa no escritório de contabilidade que atende a entidade. Ele teria atuado como lobista para conseguir os recursos junto ao senador.

“Adriano e o parlamentar aparentemente nutrem uma relação bastante próxima. Não por acaso, em ao menos dez audiências públicas ou sessões parlamentares solenes requeridas por Izalci Lucas nos últimos 14 anos”, cita o órgão.

A CGU relatou a Dino que houve uma “interlocução direta” entre Adriano Marrocos e o senador no período de maio a julho de 2023 para destinar R$ 7,5 milhões em emendas parlamentares, segundo dados extraídos do Portal da Transparência. Izalci Lucas, no entanto, não é investigado e nem alvo de medidas restritivas.

“Em potencial contrapartida espúria, empresas vinculadas a Marrocos e à sua esposa foram contratadas pela Moriá, de maneira claramente fraudada e direcionada, conforme visto acima – o que pode ter representado uma contrapartida pelos serviços de lobby prestados”, seguiu o órgão.

Ainda segundo a apuração da CGU, o diretor financeiro da associação, Daniel Romaniuk, possui ligação com o PP – partido ao qual o ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA) é filiado – e teria doado R$ 6 mil para campanhas de candidatos da legenda no Paraná.

“Verifica-se que todas as pessoas físicas e jurídicas mencionadas na representação estão envolvidas na consecução do suposto esquema criminoso que caracterizariam, em tese, os crimes de peculato e organização criminosa”, escreveu Flávio Dino na decisão.

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A empresa de Marrocos negou que tenha atuado na captação de recursos parlamentares e repudiou “qualquer insinuação neste sentido”. “O contador Adriano Marrocos lamenta que seu nome tenha sido indevidamente associado a essa operação policial”, disse em nota (veja na íntegra mais abaixo).

Já a Associação Moriá se disse “surpreendida” pelos mandados de busca e apreensão e afirmou que “está e estará à disposição de todas as autoridades, em especial do STF e do MP [Ministério Público], para prestar todas as informações necessárias que demonstrem a lisura de seus procedimentos, assim como a conduta de seus dirigentes”.

Ao todo, a Polícia Federal cumpriu 16 mandados de busca e apreensão nos estados do Acre, Paraná e Goiás, além do Distrito Federal, onde fica a sede da Associação Moriá. Também foram determinadas medidas de sequestro de bens avaliados em R$ 25 milhões, como veículos e imóveis e o bloqueio de contas bancárias de empresas investigadas.

Além das medidas de busca e apreensão, sequestro de bens e bloqueios, Dino determinou a quebra de sigilos de dados telefônicos, telemáticos, bancários e fiscais dos investigados.

Veja abaixo o que disse o senador Izalci Lucas sobre a suspeita de ligação com um dos alvos da operação da Polícia Federal:

O Senador Izalci Lucas reforça seu compromisso com a aplicação eficaz e transparente do dinheiro público. Por isso, cancelou o repasse do valor da emenda parlamentar que seria destinado à Associação Moriá, um dos alvos da operação realizada hoje.

O Senador ainda informa que o JEDIS-DF, Jogos Educacionais Digitais do Distrito Federal, é um projeto de iniciativa da Associação Moriá, realizado em parceria com o Instituto Federal de Brasília (IFB) e o Serviço Social do Comércio (Sesc). O JEDIS-DF faz parte do programa 'Profissões do Futuro', executado pelo Ministério do Esporte. O programa já capacitou mais de 3 mil jovens no Distrito Federal.

O Ministério do Esporte é o responsável por analisar o plano de trabalho, aprovar e fiscalizar a execução do projeto.

O Senador se mantém à disposição para mais esclarecimentos

Veja abaixo o que disse o contador Adriano Marrocos sobre a operação:

Em resposta à citação na reportagem da Gazeta do Povo, publicada no dia 30 de julho de 2025, e intitulada como “Dino suspende emendas a entidade suspeita de desvios e cita senador do PL”, a Marrocos Serviços Contábeis e o contador Adriano Marrocos, esclarecem, de forma veemente, o seguinte:

1. A Associação Moriá é cliente da Marrocos Serviços Contábeis, que presta EXCLUSIVAMENTE serviços de assessoria contábil à entidade.

2. A empresa Marrocos Serviços Contábeis NÃO é “subcontratada” para o projeto citado pela reportagem, também não tem qualquer envolvimento operacional com a execução do objeto referido. Apenas é assessora contábil para serviços de escrituração contábil, escrituração fiscal e folha de pagamento.

3. A Marrocos Serviços Contábeis JAMAIS teve conhecimento ou participação em qualquer fase do processo licitatório mencionado. A suposta “disputa fraudulenta” mencionada pela reportagem é uma acusação grave, infundada e irresponsável, que não encontra respaldo em qualquer conduta praticada pela empresa. Licitações são de responsabilidade da gestão da Associação, não de seus contadores.

4. A empresa NUNCA atuou — direta ou indiretamente — em captação de recursos parlamentares, e repudia qualquer insinuação neste sentido.

5. O contador Adriano Marrocos NUNCA esteve em gabinetes parlamentares com esse fim, e esse tipo de serviço não faz parte das atividades desenvolvidas pela empresa.

6. O contador Adriano Marrocos NUNCA tratou de qualquer tipo de captação de recursos com o Senador Izalci Lucas ou com qualquer outro parlamentar. Qualquer afirmação diferente disso é leviana e destituída de verdade.

7. A movimentação financeira da empresa está à disposição para comprovar que todos os valores recebidos decorrem de contratos legítimos, com prestação de serviços devidamente executada e documentada.

8. Os serviços prestados pela Marrocos Serviços Contábeis são amplos e incluem: contabilidade, escrituração fiscal e folha de pagamento; e pelo contador Adriano Marrocos envolve auditoria, perícia, pareceres, avaliação de empresas, consultorias técnicas e magistério. Todos os honorários recebidos são fruto de trabalho técnico sério e ético.

9. Em relação à Associação Moriá, o contrato firmado — no valor de R$ 48.000,00 — foi celebrado abaixo do valor de mercado, a pedido da própria entidade, sob a justificativa de dificuldades financeiras. O montante cobre valores vencidos e a vencer, e está formalizado em contrato regular.

O contador Adriano Marrocos lamenta que seu nome tenha sido indevidamente associado a essa operação policial. Ao longo de 35 anos de atuação, ele tem pautado sua conduta pela ética, competência técnica e transparência, sendo reconhecido amplamente por sua seriedade e compromisso com a profissão contábil.

Por fim, reiteramos que não aceitaremos passivamente ataques infundados à nossa reputação e adotaremos as medidas legais cabíveis para resguardar a imagem de nossa empresa e de nosso fundador, Adriano Marrocos.

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