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O ex-ministro José Dirceu (PT).
O ex-ministro José Dirceu (PT).| Foto: EFE/Hedeson Alves.

O ex-ministro José Dirceu (PT) disse considerar contraditória a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que chamou de "ataques terroristas" os atos do Hamas contra Israel no sábado (7). Lula se manifestou sobre o conflito pelas redes sociais. "Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas. Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas", disse o presidente.

Dirceu participou de uma discussão sobre o tema no canal Opera Mundi mediada pelo jornalista Breno Altman. Também participaram Rose Martins, que é filiada ao PT, mestre e doutoranda em economia política internacional, Valério Arcary, ex-integrante do PT, fundador do PSTU e atualmente no Psol, informou a Folha de S. Paulo.

Na entrevista, Altman questionou os participantes se "está correto classificar como atos terroristas os ataques desfechados pelo Hamas, como declararam vários líderes mundiais, incluindo o presidente Lula?". Sem citar o presidente brasileiro, Dirceu afirmou que "tachar o Hamas como terrorista fica bastante contraditório com a própria luta que os próprios judeus e sionistas estabeleceram na Palestina para conquistar o seu Estado". O ex-ministro citou episódios de ataques violentos de grupos sionistas antes da criação do Estado Israel para exemplificar a contradição.

Durante o debate, Dirceu afirmou que a reação de Israel é uma "vingança" que poderá gerar "cinco ou seis Hamas". "O que Israel está fazendo, tudo indica, é uma vingança, não é uma ação militar para combater o Hamas. Mas pensar que destruindo Gaza, que matando milhares de palestinos, crianças, jovens – [Gaza] que já é um campo de concentração, uma prisão a céu aberto – isso vai eliminar [o Hamas]? Vão surgir cinco ou seis Hamas, como surgiram esses anos", disse Dirceu.

"O objetivo de todos nós deve ser muito mais [buscar] um cessar-fogo, buscar a paz e resolver a questão palestina", acrescentou. "Isso não significa que possamos concordar com o alvo de civis, com reféns, até porque há vários brasileiros e brasileiras, e muito menos com todas as ações que Israel há décadas promove de limpeza étnica com relação aos palestinos", continuou o petista.

O ex-ministro mencionou que poderia sair do programa quando Altman comparou a situação do conflito atual à luta da Argélia por sua independência. "Nós vamos apoiar as ações do Hamas?", questionou Dirceu. "Eu não concordo nem com [as ações] de Israel nem com [as ações] dos palestinos. O que eu quero é paz… Isso não significa, que nós não condenamos e saibamos que há décadas Israel faz exatamente o que aconteceu, mas uma coisa não pode justificar outra”, afirmou.

O ex-ministro petista reforçou que não pode aceitar o que o Hamas fez, mas também não aceita a "vingança" de Israel. Para Dirceu, o ataque terrorista do Hamas pode ter sido uma forma de forçar negociações para a criação do Estado palestino.

Os participantes foram questionados sobre "qual deveria ser a reação da esquerda mundial frente à guerra declarada por Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza, defender o direito de autodefesa do Estado sionista, como alguns propõem, ou convocar a mais ampla solidariedade possível ao povo palestino nas ruas e praças de todo mundo".

Dirceu ressaltou que Israel tem o direito de existir e de se defender, mas apontou que o problema é a colonização e o "apartheid". “A guerra é suja de ambos os lados. Não se pode criticar e condenar o Hamas, que pode ter cometido um erro que unificou totalmente Israel e colocou para a esquerda mundial um dilema, mas, ao mesmo tempo, nós não podemos esquecer as ações que Israel cometeu durante todos esses últimos [anos], desde a guerra no Líbano e, principalmente, na constituição do Estado de Israel”, disse Dirceu.

Altman, que é fundador do canal Opera Mundi, tratou como uma "excelente notícia" a entrada do grupo xiita libanês Hezbollah no conflito. "Excelente notícia, para a resistência palestina, a entrada do Hezbollah no combate ao Estado colonial de Israel, se confirmada e estabelecida como guerra total. Cresceriam as perdas sionistas e a pressão sobre o governo Netanyahu tenderia a ser mais forte", disse Altman no X (antigo Twitter) nesta segunda (9).

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