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Lula
Segundo DataPoder, popularidade de Lula caiu 6 ponto em um ano| Foto: André Borges/EFE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está encerrando o primeiro ano de mandato com uma tendência de queda em sua popularidade. De acordo com levantamento feito pelo instituto de pesquisas PoderData, a aprovação do governo caiu de 52% para 46% entre janeiro e dezembro. A Quest mostrou resultados semelhantes, com uma variação de 40% a 36%, entre fevereiro e dezembro, entre os eleitores que avaliam o governo Lula como "bom" ou "ótimo" (veja as metodologias abaixo). Os números ruins das pesquisas acabaram evidenciando erros da comunicação da presidência ao longo do ano.

O mais notável foi o formato da live “Conversa com o Presidente”, programa semanal transmitido no “Canal Gov” e no canal oficial de Lula no Youtube, em que o presidente é entrevistado pelo jornalista Marcos Uchoa. O modelo não engajou internautas, ao menos na audiência da plataforma. Por exemplo, a live do último dia 19, que teve a participação da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, possui cerca de 42 mil visualizações no canal do Lula.

Levantamento do Poder360, divulgado em 13 de dezembro, mostrou que as 20 primeiras transmissões do programa "Conversa com o Presidente" tiveram 3,7 milhões de visualizações em todas as redes sociais do petista. Ao longo deste ano, Lula participou de 22 transmissões. O número da audiência nas redes sociais é bem menor do que o registrado por Jair Bolsonaro (PL), que em suas primeiras 20 lives semanais – tradicionalmente transmitidas às quintas-feiras quando era presidente – contabilizou 21,5 milhões de visualizações no Facebook.

Em entrevista dada ao jornal O Globo no último domingo (17), o ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), admitiu que o governo irá reavaliar o programa. “A live é uma oportunidade de chamar a atenção da sociedade e da própria mídia para pautas que nos interessam. A gente vai parar no Natal e Ano Novo. Todo o governo vai aproveitar essa oportunidade para reajustar algumas coisas. Com certeza, o formato será avaliado. Eventualmente, se precisar fazer alguma mudança, vamos fazer”, disse Pimenta ao ser questionado sobre o desempenho das lives.

Lula enfrenta dificuldades de engajamento de seus eleitores no mundo virtual, quando comparado ao seu antecessor. Um levantamento feito pela consultoria Bites no meio do ano mostrou que as redes sociais do presidente apresentaram uma redução de 56% nas interações depois dos seis primeiros meses de governo. A comparação é feita com o semestre anterior, de julho a dezembro de 2022, antes do atual chefe do Executivo assumir o cargo.

Na avaliação do cientista político Juan Carlos, CEO do Ranking dos Políticos, a mentalidade de Lula em relação a comunicação atual, que é dominada pelas redes sociais, também deve ser levada em consideração no baixo desempenho do presidente.

“Ao longo da campanha presidencial, o PT já demonstrava não ter aptidão para entrar na era tecnológica. Tanto é assim que recorreram à ajuda do deputado André Janones (Avante-MG). Lula governa achando que ainda está nos idos do início do século. Usa artimanhas analógicas em tempos digitais. Isso faz com que haja uma desconexão natural com a juventude brasileira. Lula e o PT precisam se modernizar (sob vários aspectos)”, disse o analista.

O cientista político Antonio Henrique Lucena, docente da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), concorda que a comunicação do atual mandatário ainda é “analógica” para os tempos de redes sociais.

“O presidente tem um grave problema de comunicação. Não só ele, mas a equipe também. Ela é um reflexo do que a gente já vinha observando na campanha eleitoral, porque acredito que o PT ainda é muito analógico. Se fizermos uma comparação com o Bolsonaro, vemos que o ex-presidente é muito mais dinâmico na comunicação com o público através das redes sociais e mídias digitais”, disse o professor.

Pimenta também acumula escorregões

O acúmulo de polêmicas envolvendo Paulo Pimenta também pode explicar o desencontro do governo em relação à comunicação. Em agosto, o ministro anunciou à imprensa que o economista Márcio Pochmann assumiria o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o órgão, que está vinculado ao Ministério de Planejamento e Orçamento, de Simone Tebet (MDB).

No entanto, Tebet não havia sido avisada da decisão, nem acordado sobre o nome do economista. “O ministro Pimenta, não sabendo que na reunião que tivemos com presidente não havíamos citado o nome, anunciou preliminarmente. E já está colocado”, disse Tebet na época em resposta ao anúncio. O ruído gerou preocupação por parte de membros do governo, que entenderam que a ministra havia sido atropelada pelo colega.

Em outro episódio, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), foi "desconvidado" da feira Agrishow pelos organizadores em um momento em que Lula tentava uma aproximação com o agronegócio. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participaria da edição. Em resposta ao ocorrido, Pimenta anunciou que o Banco do Brasil retiraria o patrocínio do evento, o que não ocorreu. Entretanto, o desgaste com o setor já havia se aprofundado por conta da situação.

Declarações polêmicas marcaram primeiro ano de mandato de Lula

A falta de estratégia no meio digital não é a única explicação para o desempenho do presidente nas pesquisas. Suas declarações ao longo do ano também marcaram as manchetes de jornais por possíveis ofensas e desinformação. De acordo com levantamento da plataforma Drive, do site Poder 360, o chefe do Executivo cometeu, no 10 primeiros meses de governo, 40 gafes envolvendo diversos temas: 15 possíveis ofensas, 12 de política internacional, 7 envolvendo erro de informação, 3 de economia, 2 de história e uma envolvendo um assunto de justiça.

Dentre os destaques das gafes, Lula afirmou que a Ucrânia é tão culpada pela guerra quanto a Rússia. “O presidente [russo, Vladimir] Putin não toma a iniciativa de parar. [O presidente ucraniano, Volodimir] Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os Estados Unidos continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: 'basta'”, disse o presidente em 16 de abril em coletiva nos Emirados Árabes. A declaração aprofundou a distância entre Brasília e Kiev e desagradou aliados importantes da Ucrânia, como os Estados Unidos e Europa.

A visão de democracia do presidente também foi questionada quando ele relativizou o regime ditatorial de Nicolás Maduro na Venezuela. Ao receber o ditador em 29 de maio, em Brasília, o chefe do Executivo disse que o autoritarismo presente no país vizinho era uma “narrativa”. “É preciso que você [Maduro] saiba a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocracia, do autoritarismo. Eu acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião”, disse Lula.

Apesar das críticas sobre a tentativa de reabilitar Maduro no cenário internacional, o petista voltou a fazer pouco caso da democracia, dizendo que seu conceito era relativo. “A Venezuela, ela tem mais eleições que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim. Eu gosto da democracia porque ela me fez chegar à Presidência da República pela terceira vez, e é por isso que eu gosto da democracia e a exerço em sua plenitude”, afirmou Lula.

Ao ser questionado se a Venezuela é uma democracia atualmente, Lula declarou que os resultados das eleições precisam ser respeitados. “O que não está correto é a interferência de um país dentro de outro país. O que fez o mundo tentando eleger o Guaidó o presidente da Venezuela, um cidadão que não tinha sido eleito. Se a moda pega, não tem mais garantia da democracia e não tem mais garantia no mandato das pessoas”, disse Lula.

Comentando a comunicação de Lula, o cientista político Adriano Cerqueira, docente no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), explica que Lula ainda depende de uma comunicação “editorializada”, típica da política tradicional que dependia dos grandes veículos para gerar influência.

“Lula depende muito dessa comunicação política editorializada. Ele fez a sua carreira política nesse sentido, e ele tem um apoio dos principais meios tradicionais de comunicação a seu favor. Outro fator é que o presidente só fala para seu eleitor mais fiel e a tendência é que as taxas de aprovação dele fiquem em torno desse eleitor mais aguerrido”, disse Cerqueira.

Ele também observa que postura de Lula em relação ao eleitor de centro, que o ajudou a se eleger, também explica a redução no percentual de aprovação.

“Lula está com um discurso mais agressivo, mais polarizado, e isso está afastando aquele eleitor de centro que foi atrás dele pela rejeição a Bolsonaro. Hoje, eu diria que tanto o Lula quanto o Bolsonaro sofrem essa rejeição por esse eleitorado”, afirmou.

Metodologia da pesquisa citada

O PoderData realizou a pesquisa entre os dias 16 e 18 de dezembro de 2023. Foram ouvidas 2.500 pessoas, por meio de ligações para celulares e telefones fixos, em 244 municípios em todos os estados e no Distrito Federal. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança da pesquisa é de 95%.

Já a pesquisa Genial/Quaest ouviu 2.012 pessoas entre os dias 14 e 18 de outubro de 2023. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

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