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Presidente Lula e ministro Paulo Pimenta durante sua posse para a Secretaria de apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul
Presidente Lula e ministro Paulo Pimenta durante sua posse para a Secretaria de apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul| Foto: Ricardo Stuckert/PR

Após 17 meses à frente da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a Secom, o ministro Paulo Pimenta (PT) foi escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para chefiar a Secretaria Extraordinária da Presidência da República de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul. A indicação, no entanto, está longe de ser unanimidade, até mesmo entre aliados do governo, e enfrenta críticas. O fracasso da live semanal de Lula, a licitação da Secom sob suspeita, e o pedido para investigar críticos do governo no contexto da tragédia do RS foram alguns dos fatos que marcaram a passagem de Pimenta pela comunicação do governo petista.

Nos últimos meses, a comunicação governamental tem sido questionada pelo próprio presidente, que a responsabilizou por quedas seguidas em sua popularidade. Além disso, críticas ao pedido de investigação a perfis nas redes sociais que Pimenta fez à Polícia Federal por supostas fake news envolvendo os trabalhos do governo federal no Rio Grande do Sul e a existência de possíveis irregularidades em uma licitação da Secom são alguns dos fatos que marcaram de forma negativa sua passagem pela pasta que coordena a comunicação do Executivo

No tropeço mais recente de sua gestão na Secom, Pimenta convocou a Polícia Federal (PF) para investigar publicações que supostamente teriam difundido desinformação a respeito da atuação do Executivo durante as operações de auxílio ao Rio Grande do Sul. Segundo o ofício encaminhado à PF, o ministro estaria preocupado com “o impacto dessas narrativas na credibilidade das instituições como o Exército, FAB, PRF e Ministérios, que são cruciais na resposta a emergências”. A solicitação gerou ampla repercussão negativa. A oposição classificou a medida como uma tentativa de censurar as críticas ao governo federal.

Já no dia 22 de abril deste ano, apesar de não citar diretamente o ministro ou a Secom, Lula demonstrou sua insatisfação com a comunicação do governo. Durante lançamento do programa Acredita, no Palácio do Planalto, o presidente sugeriu que fosse criado um canal do Governo Federal, como um SAC ou um 0800, por meio do qual a população pudesse fazer suas reclamações.

A proposta de Lula veio após a divulgação de mais uma pesquisa que revelou a piora nos índices de aprovação do presidente. Desde março, o Planalto avalia que a queda da popularidade do governo se deve à falta de divulgação adequada dos resultados das medidas implementadas pelo governo, o que gera a percepção negativa nas pessoas.

À época, o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), salientou que o governo petista tem dificuldades em se comunicar com a população brasileira e em entender o cenário da comunicação na atualidade, pois a sociedade está cada vez mais antenada às redes sociais e menos nos meios tradicionais.

Comunicação digital do governo tem suspeitas de ilicitudes e cancelamento de programação

No entanto, as falhas nas estratégias de comunicação de Pimenta não se limitam aos canais tradicionais. Em fevereiro desse ano, o ministro precisou prestar explicações ao presidente após uma publicação nas redes ser interpretada como uma indireta para o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL-RJ). A partir de então, a Secom reviu o uso de ironias e memes nas mídias sociais, principalmente no que diz respeito ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos.

No mês passado, uma megalicitação realizada pela Secom causou grande controvérsia. Tratava-se da contratação de quatro agências de mídia digital para cuidar da comunicação do governo federal nas redes. Mas, de acordo com portal O Antagonista, o resultado supostamento já era conhecido um dia antes da data oficial do seu anúncio. O valor do certame, R$ 197,7 milhões, também foi alvo de críticas. Congressistas afirmaram que chamariam Pimenta para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pediu o cancelamento da licitação ao Tribunal de Contas da União, que segue investigando o caso.

Outra das apostas em mídias digitais do ministro que se mostrou aquém dos resultados almejados foi o programa “Conversa com o Presidente”, lançado em junho de 2023 e encerrado em dezembro daquele ano. A proposta consistiu em uma live semanal, apresentada no YouTube e dirigida pelo jornalista Marcos Uchôa, na qual Lula e seus convidados falavam dos projetos de governo e de seus resultados.

Não raro, o programa se transformou em uma plataforma para que Lula desferisse críticas e ataques a seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Além da vida curta, foram apenas 22 episódios em sete meses, a live semanal teve baixa audiência, com uma média de 85 mil visualizações no canal do presidente no Youtube. Com o cancelamento do programa, o apresentador Marcos Uchôa foi exonerado da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) em fevereiro deste ano.

Ainda em 2023, a Secom de Pimenta teve que lidar com outra saia justa com a EBC. O presidente da empresa à época, Hélio Doyle, compartilhou em suas redes sociais publicações ofensivas a Israel, após o país exercer seu direito de defesa em razão dos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro. Em uma das postagens, 10 dias após os atentados do Hamas, Doyle compartilhou uma publicação do ilustrador brasileiro Carlos Latuff  que afirmava que “não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”. Doyle foi demitido no dia seguinte.

Uso político da catástrofe e pré-campanha

Parlamentares de oposição avaliaram que a escolha de Lula foi um movimento eleitoreiro antecipado, já que Pimenta não nega uma possível candidatura ao governo do estado em 2026. Soma-se a isso, o histórico de resultados pouco expressivos de Pimenta à frente da Secom, como já foi mencionado anteriormente.

Oficializado no cargo na quarta-feira (15), Pimenta está, desde então, à frente do novo órgão que tem a função de coordenar as ações federais para a reconstrução do Rio Grande do Sul e o diálogo com os demais ministérios, com o governo gaúcho e as prefeituras.

Durante sua posse, realizada em uma cerimônia em São Leopoldo, a maior cidade gaúcha governada pelo PT e que foi amplamente afetada pelas tragédias no estado, Pimenta disse que iria se dedicar da “melhor maneira possível” à nova função. “Não podemos falhar em nenhuma hipótese”, afirmou o titular da secretaria.

O deputado federal Luciano Zucco (PL-RS) afirma que fica difícil estabelecer uma interlocução honesta entre o governo federal e o governo do Rio Grande do Sul, diante da politização que tem sido feita da catástrofe, da qual a indicação de Pimenta é um exemplo.

O parlamentar avalia que a posse do ministro foi praticamente um evento de pré-campanha promovido por Lula. "Com direito a comício, o agora ex-ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, foi nomeado para o "ministério" Extraordinário da Reconstrução", afirmou.

Em entrevista à GloboNews, Pimenta afirmou que não se utilizará do cargo para promoção de seu futuro político. “Em primeiro lugar, não pretendo misturar agenda institucional e trabalho do governo com debate da eleição de 2026. Sei diferenciar as coisas e em nenhum momento vou abdicar do que precisa ser feito. O que eu farei em 2026 é uma discussão que não será colocada agora”, afirmou o ministro.

Apesar do discurso de Pimenta, Zucco afirma que a questão política permanece delicada, até mesmo pelo caráter estratégico da indicação de Lula. Ao tirar o ministro da Secom e enviá-lo para o RS, o presidente abre uma vaga na Esplanada e a possibilidade de negociação política para a ocupação desse cargo. Além disso, afasta do comando de uma pasta problemática o aliado com pretensões políticas no Rio Grande do Sul e o envia para o epicentro das atenções do momento.

De sua parte, o governador de estado, Eduardo Leite (PSDB-RS), nesta sexta-feira (17), optou por transformar a Secretaria de Parcerias e Concessões na Secretaria da Reconstrução Gaúcha, que será comandada por Pedro Capeluppi, funcionário de carreira da Secretaria do Tesouro Nacional e que foi assessor de Paulo Guedes, ministro da Economia no governo Bolsonaro.

Analistas apontam perfil negociador de Pimenta como motivo para indicação de Lula

Por outro lado, analistas e políticos ouvidos pela Gazeta do Povo, afirmam que a história de Pimenta no RS, onde já atuou como vereador, vice-prefeito, chefe de gabinete na Assembleia Legislativa e deputado estadual e federal, bem como sua capacidade de diálogo e negociação, fazem com que seja uma figura política adequada para assumir a interlocução do governo federal com o governo estadual e os municipais.

O deputado federal Pompeo de Mattos (PDT-RS) afirmou que houve consenso na Bancada Gaúcha da Câmara de que era preciso ter um interlocutor federal junto ao Rio Grande do Sul, mas que, no momento em que essa resolução foi para a prática, começaram a aparecer os "senões'.

O parlamentar avalia que, atualmente, não há pessoa mais articulada para fazer essa intermediação do que Paulo Pimenta, que ele vê até mesmo como óbvia. “É alguém que está mais bem sintonizado, que tem a melhor leitura sobre aquilo que está acontecendo aqui no Rio Grande”, disse o deputado.

Marcio Coimbra, atual presidente do Instituto Monitor da Democracia e que ex-diretor de Gestão Coorporativa da ApexBrasil no governo Bolsonaro, opina de forma semelhante. Ele destaca que Pimenta possui uma base muito sólida no Rio Grande do Sul, o que se evidencia em suas inúmeras eleições consecutivas para cargos públicos, o que não é comum no estado.

Da interação que manteve com o político durante um período em que trabalhou no Congresso, Coimbra descreve que Pimenta tem um perfil negociador, de diálogo, o que facilita seu trabalho na liderança da nova secretaria, que tem status de ministério.

Paulo Pimenta é natural de Santa Maria (RS) e se graduou em Jornalismo (1994) pela Universidade Federal de Santa Maria, onde foi presidente do Diretório Central dos Estudantes, entre 1985 e 1986. Foi eleito vereador da cidade em 1988 e se reelegeu em 1992, ambas as candidaturas já pelo PT, partido ao qual permanece filiado durante toda a sua carreira. Chegou à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em 1999, onde esteve até a ano seguinte, quando retornou a Santa Maria para assumir o cargo de vice-prefeito.

Em 2002, Pimenta foi eleito deputado federal em sua primeira disputa para a Câmara dos Deputados, cargo para o qual foi reeleito em outras cinco eleições consecutivas. Em 2022, foi o 31º deputado mais votado em todo o Brasil, com 223 mil votos.

O político participou da equipe de transição do governo Lula e, no início do terceiro mandato do presidente, foi nomeado ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Diante da tragédia no Sul, foi designado por Lula para a Secretaria Extraordinária da de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.

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