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Mangabeira Unger
Mangabeira Unger foi ministro de Lula entre os anos de 2007 e 2009 e se tornou um crítico do atual governo.| Foto: Fernando Bizerra Jr./EFE / arquivo

O ex-ministro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre os anos de 2007 e 2009, Mangabeira Unger se tornou um crítico do atual governo e diz que o antigo aliado parece “morar no passado” ao encarar a nova gestão como uma “continuação dos mandatos anteriores”.

Unger foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos no governo Lula 2 e no de Dilma Rousseff (PT) em 2015, e diz que muita coisa mudou de lá para cá. Para ele, que também é professor em Harvard, Lula não se deu conta de que a relação com o Congresso mudou, a dinâmica da economia não é mais a mesma e a necessidade de programas assistencialistas têm um sentido diferente de antes.

“O governo Lula continua a tratar o Brasil como se fosse apenas um país de pobres, precisando de transferências de ajuda para atenuar a miséria, mas o Brasil agora é muito mais do que isso. Mesmo quando pobre, os brasileiros querem ser abordados como agentes a empoderar, não só como beneficiários a cooptar”, disse em referência aos programas assistencialistas, em entrevista à Folha de São Paulo publicada nesta segunda (19).

Mangabeira Unger diz que o brasileiro de agora tem uma “aspiração de emergente”, com o objetivo de conquistar uma propriedade, de tomar a iniciativa. Para o ex-ministro, Lula está cercado por auxiliares que não dizem “não” a ele, o que é “perigoso” visto que o mandato agora “é muito diferente do anterior”.

O ex-ministro vê que o incentivo aos programas assistencialistas nada mais é do que um “discurso açucarado de compensações” para os mais pobres, que não conseguiu resolver os problemas sociais do país que já vêm desde o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E que, na esteira disso, há um “deslocamento dos problemas reais para o teatro simbólico por meio da política identitária e das guerras culturais”.

“É algo que separa os atributos das minorias das questões de classe e, portanto, de estrutura e desperdiça a grande vantagem do Brasil, que é esse sincretismo, essa mistura de tudo com tudo. Introduz entre nós algo alheio ao Brasil, que são esses contrastes cristalinos – entre preto e branco, entre mulher e homem. Não precisamos adotar a engenharia verbal e a política identitária dos americanos”, analisa o intelectual.

Nova economia

Para Mangabeira Unger, há ainda uma falta de visão de Lula ao que ele vê como um aprofundamento da “desqualificação produtiva do país”, e que o Brasil caminharia rapidamente para uma grande crise econômica se a situação não fosse atenuada pela riqueza em recursos naturais. “Agricultura, pecuária e mineração pagam as contas do consumo urbano e, para o bem e para o mal, evitam que enfrentemos nossos problemas estruturais”.

Para ele, o governo deveria pensar em um “novo modelo de desenvolvimento pautado por uma escalada de produtividade includente chamada de economia do conhecimento”, que nada mais é do que um esforço em se impulsionar a produção econômica.

“Nosso problema maior não está no lado da demanda, mas no da oferta; não no lado do consumo, mas no da produção. Daí a ênfase anterior no impulso produtivista como uma das características necessárias para se contrapor ao rentismo financeiro”.

O intelectual vê que há a sim a necessidade de se manter uma responsabilidade fiscal, mas que é preciso se adotar novos conceitos para incentivar a produção com dinamismo e mais oportunidades de lucro. Mangabeira Unger cita a China como exemplo, que foi contra o que se vê no mundo e hoje é o país que mais recebe investimentos diretos, num “projeto rebelde de desenvolvimento”. “É o exemplo que deveríamos seguir”.

O ex-ministro comentou, ainda, a necessidade de preservar a Zona Franca de Manaus, mas com um incentivo à produção com base na biodiversidade da Amazônia; um novo modelo de desenvolvimento de acordo com a realidade de cada região do país; e um novo ensino técnico que focalize as “capacitações conceituais flexíveis” em vez de priorizar competências rígidas e profissões tradicionais.

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