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A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro será presidente nacional do PL Mulher: meta é identificar e filiar lideranças femininas para consolidar força do partido| Foto: Reprodução/Redes sociais

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro deu início ao processo que propõe "garimpar" o maior número possível de lideranças femininas conservadoras para o Partido Liberal (PL). O movimento faz parte de uma reformulação estratégica sobre o diretório feminino nacional da legenda, o PL Mulher, e tem por objetivo "turbinar" a sigla e consolidar sua força política a longo prazo.

O PL e a deputada Bia Kicis (PL-DF) disseram à reportagem que os compromissos da ex-primeira-dama estão mantidos mesmo após o "caso das joias". A Receita Federal apreendeu um conjunto de joias, avaliado em R$ 16,5 milhões e dado de presente a Jair Bolsonaro (PL) pela Arábia Saudita, em 2021. Os itens seriam presentes para Michelle Bolsonaro, mas ela afirma que não sabia das joias. “Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo?”, postou no Instagram.

Com isso, Michelle deve assumir a presidência do PL Mulher em um evento marcado para 21 de março. O partido não confirma que a data teria sido adiada deste 8 de março, Dia da Mulher, para o fim do mês por causa da repercussão do "caso das joias".

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, confirmou Michelle como a próxima presidente do PL Mulher às vésperas do carnaval, mas ela já atua como uma dirigente da legenda desde quando retornou ao Brasil, no fim de janeiro, após quase um mês nos Estados Unidos com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

O objetivo de Costa Neto é fortalecer o partido ao longo dos próximos quatro anos e, para isso, conta com o apoio de Michelle e de candidaturas femininas. Desde a última eleição, os votos dados a candidatas mulheres para a Câmara dos Deputados contam em dobro para a distribuição do Fundo Partidário e do tempo de TV dos partidos.

A disputa por recursos públicos dos fundos partidário e eleitoral é permanente na dinâmica político-partidária brasileira, e o apetite por verbas eleitorais não é diferente no PL. Recursos costumam atrair candidatos competitivos que, por consequência, podem ampliar as chances de sucesso e vitórias nas urnas. Em razão disso, Costa Neto conta com Michelle para engajar a participação feminina na política e lançar candidatas competitivas.

A curto prazo, a meta é atingir uma proporção próxima dos 20% atingidos pelo PL na Câmara em prefeitos eleitos no pleito municipal do próximo ano. No ano passado, o partido elegeu 99 dos 513 deputados federais, o que representa, 19,3% dos parlamentares. Da bancada eleita, 17 são mulheres, o que representa 17,2%.

Em 2023, Costa Neto espera eleger ao menos 1 mil prefeitos, o que representa cerca de 18% dos 5.570 municípios do país. Mantida a lógica, a meta é eleger algo próximo de 200 prefeitas. Nas eleições de 2020, o PL elegeu 352 prefeitos, dos quais 45 eram mulheres — uma proporção de 12,8% entre os eleitos.

Caso os objetivos nas eleições municipais sejam alcançados, a médio prazo, é possível que o presidente do PL pense em metas mais ambiciosas para a bancada do partido na Câmara dos Deputados nas eleições de 2026, além de outros cargos eletivos. A ambição é de ao menos liderar o número de votos de deputadas federais eleitas.

Costa Neto é pragmático e conhecido por tomar decisões pautadas em dados. Em suas planilhas, o cacique do PL observou que o PT teve cerca de 3,85 milhões de votos em candidatas femininas à Câmara, enquanto o PL obteve cerca de 3,5 milhões. A fim de elevar a força política atual e consolidá-la em um projeto de longo prazo para a próxima legislatura, o projeto construído por Michelle se faz fundamental.

Michelle terá equipe e um orçamento de quase R$ 11 milhões no PL Mulher

As estratégias traçadas por Valdemar Costa Neto foram alinhadas com Michelle Bolsonaro. Os dois têm mantido um diálogo permanente, seja em reuniões presenciais na sede do partido, em Brasília, ou por ligações telefônicas. O cacique do PL vai assegurar a ela a cota mínima determinada em lei de 5% do valor do fundo partidário destinado à legenda, que é próximo de R$ 213 milhões.

Ou seja, Michelle será a responsável por gerir em torno de R$ 10,6 milhões anuais de recursos do fundo partidário. A única determinação de Costa Neto à ex-primeira-dama é que toda e qualquer proposta de ação à frente do PL Mulher seja apresentada e debatida com ele, que terá a palavra final.

Ao longo de fevereiro, Michelle estudou como é a organização do PL Mulher nos estados e manteve diálogo próximo com a atual presidente do diretório feminino, a deputada federal Soraya Santos (RJ), e a ex-prefeita de Palmas e ex-deputada Nilmar Ruiz, uma das fundadoras do PL Mulher e atual presidente do diretório feminino da sigla em Tocantins.

Especialista nas causas femininas e política experiente, Nilmar vai auxiliar Michelle como uma espécie de consultora. Já Soraya vai auxiliar a ex-primeira-dama na aproximação inicial e no relacionamento com as presidentes dos diretórios femininos estaduais e nos pleitos das filiadas que querem seguir carreira política.

Ao longo do mês de março, a prioridade de Michelle é assegurar a montagem de sua equipe. Ela contará com ao menos uma secretária e uma assessora de comunicação, além do apoio de Nilmar, que vai atuar como consultora para assuntos estratégicos relacionados ao engajamento feminino. Para o mês, também estão previstas reuniões e eventos com a bancada feminina na Câmara.

Michelle vai repetir as eleições e iniciar até junho caravanas pelo país

A estratégia central do PL Mulher é fortalecer os diretórios femininos estaduais. Para isso, Michelle Bolsonaro vai repetir o que fez no segundo das eleições do ano passado, quando percorreu o país em caravanas com outras lideranças femininas de seu partido e até de outros que apoiaram Bolsonaro.

O objetivo de Costa Neto é iniciar as caravanas entre maio a junho. Segundo ele, Michelle já tem se organizado. "Vai se reunir com as presidentes dos PLs estaduais, para que ela possa desenvolver a maneira melhor de fazer essa essas visitas, que seriam grandes reuniões, na minha opinião. Porque isso custa caro, para ela se movimentar. Então, nós temos que nos organizar para fazer grandes reuniões nos estados", comentou o cacique do partido a jornalistas na quarta-feira (1ª) após uma reunião com a bancada na Câmara.

O comentário do presidente do PL deu a previsão de data ao anúncio feito por Michelle na segunda-feira (27). "Vamos viajar todo o Brasil com a pauta da mulher, com a pauta da mulher com deficiência, a mãe rara, e o engajamento também da mulher na política. A gente quer estimular isso para nossas mulheres no Brasil", declarou em um vídeo gravado ao lado da deputada federal Bia Kicis (PL-DF), presidente do diretório distrital.

Ainda não há definição sobre quais estados ou regiões Michelle iniciará sua agenda de viagens. Interlocutores do partido explicam que o intuito é elaborar um planejamento estratégico e não uma simples agenda de viagens eleitorais. A deputada Sílvia Waiãpi reforça o compromisso e a disposição da ex-primeira-dama em percorrer o país, do menor ao maior estado. "A Michelle estará indo novamente a todos os estados, assim como rodamos o Brasil inteiro [nas eleições]. Esperamos que, em breve, possa chegar ao Amapá onde faremos novos encontros com as mulheres", destaca.

Dentro da agenda de viagens, a ideia é programar seminários junto às comunidades nos estados e municípios onde Michelle percorrer, endossa a deputada Bia Kicis. "Não queremos apenas uma coisa de fazer uma pauta da mulher simplesmente. É importante dar formação para as mulheres irem a esse mundo da política e faremos isso", afirma. O objetivo é ser inspiração para que as mulheres queiram entrar na política.

A deputada Amália Barros (PL-MT) convidou Michelle para visitar o Mato Grosso e tem grandes expectativas em relação às caravanas. "Sei a força que a Michelle tem, o que ela representa para milhões de brasileiros e brasileiras e acho que ela poderá ajudar de maneira estratégica o nosso partido", sustenta.

Acessibilidade e diversidade serão pautas de Michelle Bolsonaro

A acessibilidade será uma das principais pautas de Michelle Bolsonaro como presidente do PL Mulher, afirma a deputada Bia Kicis. "Ela acha que é uma pauta que se comunica muito com a mulher, pois ela é sensível às mães que têm um filho com problema de acessibilidade, e essa é uma pauta que diz muito em respeito às mulheres".

As defesas da família e da mulher deficiente, escalpelada e com doença rara são outras políticas que serão abraçadas por Michelle, destaca a deputada Sílvia Waiãpi. Outra pauta a ser priorizada é a da representatividade da feminina na política.

Mesmo sem ter exercido um cargo eletivo, Sílvia acredita que Michelle demonstrou traquejo, articulação política e está preparada para liderar o PL Mulher.

Aliadas vão apoiar Michelle Bolsonaro a filiar lideranças femininas

A bancada feminina na Câmara promete dividir os esforços de "garimpar" novas lideranças femininas com Michelle. Algumas aliadas já até fazem isso. "Eu já estou ajudando, tenho conversado com muita gente, convidado para filiar, e quero em breve fazer um ato com mulheres no meu estado", diz a deputada Amália Barros.

A deputada Bia Kicis entende que, juntas, Michelle e as deputadas da bancada feminina na Câmara podem promover o trabalho de qualificação da mulher e servir de inspiração para que outras mulheres se sintam preparadas e motivadas para entrar no "mundo político".

"A gente sabe que a política interfere diretamente nas nossas vidas, nas vidas dos nossos filhos, das nossas famílias, e tenho a certeza que esse é um projeto muito importante que vai trazer muitos frutos também para o nosso partido. O PL vai realmente se consolidar como o grande partido de direita, um partido conservador e um partido que, verdadeiramente, acolhe as mulheres, sem demagogia, naquilo que realmente importa para elas", destaca.

A deputada Sílvia Waiãpi antecipou o diálogo com lideranças femininas em seu estado e diz que as mulheres brasileiras que "querem mudar a história do Brasil" serão muito bem vindas ao PL. "Viajei vários municípios durante o carnaval, visitei vários prefeitos, estive com a comunidade e com algumas mulheres para tratar dessa temática, de trazer essas mulheres para o PL", afirma. "Espero que mais mulheres e deputadas também façam o mesmo em suas regiões", complementa.

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