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Senador, ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro
Senador, ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro| Foto: EFE / André Borges

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) resgatou a projeção nacional que tinha quando foi indicado para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, ainda em 2018, segundo avaliação de interlocutores do parlamentar e de políticos de direita. No entorno de Moro até se voltou a falar em uma eventual candidatura à Presidência da República em 2026, embora haja o reconhecimento de que ainda é cedo para tratar do assunto e que dificuldades enfrentadas por ele na pré-campanha de 2022 ainda persistem.

O fortalecimento da imagem de Moro ocorre depois da descoberta do plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) para atacá-lo e sequestrá-lo, e do comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que a operação conduzida pela Polícia Federal (PF) teria sido uma "armação" do senador paranaense. O petista também deu projeção a Moro quando disse, em entrevista ao vivo na semana passada, que pensava em se vingar do ex-juiz quando estava preso.

Pessoas próximas de Moro sustentam que, embora os fatos sejam alheios à sua vontade e tenham colocado ele e sua família em risco, o bônus político gerado após as ameaças são inerentes ao momento político – e potencializados pela polarização do país.

Diante do atual cenário, interlocutores admitem que a disputa pela Presidência da República em 2026 é uma possibilidade. Eles afirmam que ainda falta muito tempo para as próximas eleições gerais, mas, reservadamente, reconhecem que a retomada de uma projeção nacional favorece Moro. Até as últimas semanas, as ambições eleitorais de Moro se limitavam a uma possível disputa ao governo do Paraná.

Nas eleições de 2022, Moro almejou ser candidato à Presidência, mas recuou após sair do Podemos e migrar para o União Brasil, que, por divergências internas e interesses estaduais, não apoiou o nome de Moro para a disputa pelo comando do Palácio do Planalto e lançou a senadora Soraya Thronicke (MS) ao pleito.

Interlocutores de Moro também entendem que ele sai favorecido em razão do que entendem ser um "vácuo" de poder da direita. A avaliação entre fontes ouvidas pela Gazeta do Povo é de que Bolsonaro ainda é uma força que não pode ser menosprezada, mas existe a percepção de que existe a possibilidade de novas lideranças surgirem no campo conservador.

A mídia espontânea para Moro e a percepção negativa de Lula nas redes sociais são outros pontos apontados por interlocutores ao avaliar o atual cenário político. As menções a favor do petista no Twitter, Facebook e Instagram ficaram abaixo de 20% entre 20 de março a 24 de março de 2023, de acordo com uma pesquisa da Quaest em parceria com a Genial Investimentos. O índice de Lula segundo o mesmo instituto era de 53% no início do mandato e a queda coincide com as ofensas do petista ao senador.

Acusações de Tacla Duran não incomodam Moro

Para o cenário de projeção nacional vislumbrado por pessoas próximas de Moro, nem mesmo as acusações do ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran, apontado na Operação Lava Jato como um dos operadores do esquema de corrupção envolvendo a empreiteira, incomodam o senador.

O advogado afirma ter sido alvo de uma tentativa de extorsão para que não fosse preso durante um desdobramento da Lava Jato e sugeriu um envolvimento de Moro e do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-coordenador da força-tarefa da operação, no suposto crime.

As acusações são minimizadas por interlocutores de Moro, que entendem que Tacla Duran se prende a uma falsa narrativa para tentar lançar suspeitas sobre o senador. O gabinete do parlamentar destaca que ele já teve processo arquivado por falta de provas e que a nova acusação não prejudica, nem contribui com o processo de ascensão nacional de Moro.

Sobre as acusações de Tacla Duran, Moro afirmou em nota à Gazeta do Povo que "não teme qualquer investigação, mas lamenta o uso político de calúnias feitas por criminoso confesso e destituído de credibilidade". "Trata-se de uma pessoa que, após inicialmente negar, confessou depois lavar profissionalmente dinheiro para a Odebrecht e teve a prisão preventiva decretada na Lava Jato. Desde 2017 faz acusações falsas, sem qualquer prova, salvo as que ele mesmo fabricou. Tenta desde 2020 fazer delação premiada junto à Procuradoria Geral da República, sem sucesso. Por ausência de provas, o procedimento na PGR foi arquivado em 9/6/22”, disse.

Moro não descarta diálogo com Bolsonaro

Mesmo tendo identificado que o momento é oportuno para se posicionar como uma liderança nacional e de oposição, Moro está receptivo à ideia de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e não descarta um encontro com ele – Bolsonaro deve voltar ao Brasil nesta quinta-feira (30). A análise do senador é de que a oposição deve estar unida para se organizar e combater Lula.

Interlocutores de Moro defendem a construção de uma frente ampla de oposição para ganhar a eleição presidencial em 2026, mas destacam a importância de promover uma oposição "inteligente" e unida para evitar a pulverização da direita.

Até mesmo aliados mais simpáticos a Bolsonaro concordam que a abertura de Moro ao diálogo e o momento político atual o fortalecem. O deputado federal Sargento Fahur (PSD-PR) acredita na possibilidade de reunião entre o senador e o ex-presidente para debater a organização da oposição até pelo apoio que foi dado pelo senador à candidatura de Bolsonaro à reeleição durante a disputa do segundo turno.

Entre Moro e Bolsonaro, Fahur diz que o ex-presidente ainda seria sua primeira opção, mas não descarta a hipótese de apoio ao senador. "Estou com Bolsonaro até de baixo d’água, mas sempre trabalho com aquelas condições de uma eventual inelegibilidade ou coisas da política e da Justiça", comenta. "Se não der, vamos pensar no Moro. É um grande nome, me sentiria confortável em pedir voto, caso [Bolsonaro] estivesse fora do jogo", complementa.

Fahur considera que as críticas de Lula e as ameaças do PCC asseguram a Moro mais bônus políticos. "Quando a gente é atacado por determinadas pessoas, mostra que estamos no caminho certo. Ninguém quer ser ameaçado pelo crime organizado, mas não tenha dúvidas de que, para ele, politicamente, foi uma forma de resgate de projeção", diz. "O Lula perdeu a oportunidade de mostrar grandeza que sei que ele não tem de se solidarizar com o Moro", acrescenta.

A análise também é respaldada por parlamentares que defendem uma "terceira via", uma opção de presidenciável além de Bolsonaro e Lula. Contudo, nem todos ainda se sentem convencidos em relação a Moro. A avaliação de um congressista que falou em condição de sigilo é de que Moro ainda não tem boa oratória, nem "conhecimento sobre Brasil" para aproveitar a projeção "o suficiente".

Em condição reservada, outro parlamentar com apreço por Moro nutre expectativas de que o senador possa ser uma opção no cenário eleitoral, mas teme que o senador não tenha o apelo e a força política a ponto de liderar a oposição.

O PL no Paraná, por exemplo, entrou com ação contra o senador pela cassação de seu mandato. O senador tem desafetos no partido e em outras legendas de centro, e a resistência política seria um dos desafios a superar para alavancar as chances em uma disputa presidencial.

Um dos motivos dessa resistência diz respeito ao fato de Moro ter deixado o governo Bolsonaro, em abril de 2020, e afirmar que houve interferência política por parte do agora ex-presidente na Polícia Federal.

“Presidente [Bolsonaro] me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pusesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência. Não é o papel da PF prestar esse tipo de informação”, disse Moro à época. “O presidente tinha preocupação com inquéritos em curso no STF e a troca seria oportuna da PF por esse motivo. Também não é razão que justifique a substituição, é algo que gera grande preocupação”, afirmou o ex-ministro em abril de 2020.

Moro aposta em agenda externa e pautas fora da "zona de conforto"

Interlocutores de Moro sustentam que o senador tem procurado se aperfeiçoar para sair de sua "zona de conforto" e também se afastar da percepção do "discurso único" do combate à corrupção, ou mesmo de enfrentamento ao crime organizado.

A fim de se firmar como uma liderança nacional, o entorno político do senador assegura que ele tem avançado em outras pautas, como economia, e não está mais preso apenas à pauta da Operação Lava Jato.

Dentro desse escopo, Moro tem procurado ampliar sua participação na política externa e, inclusive, viajou no sábado (25) a Buenos Aires, na Argentina, onde participou de encontro com líderes da direita e centro-direita da América Latina, como os ex-presidentes Mauricio Macri, da Argentina, Sebastián Piñera, do Chile, e Felipe Calderón, do México.

O senador viajou a convite da Fundación Libertad, instituto que defende a difusão de valores liberais, e participou de um painel intitulado "Perspectivas políticas e econômicas da região” na segunda-feira (27) com o ex-ministro da Fazenda argentino Ricardo López Murphy e com o uruguaio Álvaro Delgado, assessor do presidente Luis Lacalle Pou.

"Contra o populismo na América Latina, participei de encontro em Buenos Aires com grandes lideranças iberoamericanas", declarou Moro no Twitter.

O senador retorna ao Brasil na quarta-feira (29) e, na quinta-feira (30), embarca para os Estados Unidos, onde participará do Brazil Conference, evento em Boston que reúne líderes políticos e culturais do Brasil.

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