O novo diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Marco Aurélio Cepik, assumiu o cargo de “número 2” do órgão nesta quarta (31) confirmando que há indícios suficientes que comprovam a existência de uma “Abin paralela” durante a gestão do ex-diretor Alexandre Ramagem (PL-RJ) e que havia o monitoramento ilegal de autoridades que não faz parte das atribuições dela.
Ele foi nomeado ao cargo após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerar o delegado Alessandro Moretti, homem de confiança do atual diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa, após uma investigação da Polícia Federal citá-lo no inquérito em uma reunião que teria supostamente tentado obstruir as apuração sobre o uso ilegal do programa FirstMile, para monitorar celulares e tablets sem autorização judicial.
“Todos os indícios que se tem é de que havia sim [uma Abin paralela]”, disse Cepik em entrevista à GloboNews ressaltando que as investigações ainda estão em andamento pela Polícia Federal, Controladoria-Geral da União (CGU), entre outros órgãos. Ele, no entanto, evitou citar possíveis autores ou mandantes do esquema.
De acordo com o novo diretor-adjunto da agência, tanto há indícios que a Justiça pediu o afastamento de sete policiais federais que “participaram da gestão de Ramagem”. Marco Aurélio Cepik ressaltou que não esteve presente na reunião em que Moretti determinou a investigação sobre o programa de monitoramento, mas pontuou que não acredita que tenha havido uma tentativa de obstrução da apuração.
Ele também diz que manter na Abin pessoas que tiveram cargos de confiança no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o de Moretti, que ocupou funções-chave, não foi um erro naquele momento.
“Teria que haver uma contradição muito grande entre a conduta dos atores e o que foi efetivamente feito. Por quê que alguém que quer obstruir uma investigação vai instaurar um procedimento apuratório”, questionou. Ele ressaltou que todo o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) é formado por 48 órgãos distintos, e que cada um tem as devidas atribuições legais.
No entanto, ressaltou que a Abin em si não tem poderes para fazer investigação criminal, e que pode ter havido o monitoramento de pessoas – inclusive da promotora do caso Marielle Franco, como afirmou a PF no inquérito sobre o caso.
Cepik atacou o governo do ex-presidente. que estava no poder durante a maior parte do período investigado, e que “foi uma situação excepcional sob vários aspectos, em termos do grau de desorganização das instituições, é possível que isso tenha acontecido”.
Ele ainda atribuiu a possibilidade de ligação entre o esquema de monitoramento de autoridades descoberto com os atos de 8 de janeiro de 2023, em que não houve a transmissão correta de informações entre a Abin e responsáveis pela segurança – o uso do Whatsapp não foi suficiente, disse.
“Houve uma falha estratégica da inteligência. Ao contrário do que acreditava o governo anterior, mandar alertas por Whatsapp não é suficiente para você conseguir antecipar crises da magnitude como a do 8 de janeiro”, disse.
Cepik afirmou ainda que é preciso “como fez a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) averiguar os fatos do passado, buscar as responsabilidades de cada um, entender a dimensão que permitiu a chegada até o 8 de janeiro, mas também reconstruir. É isso que vem sendo feito desde o ano passado”, afirmou pregando uma espécie de “reconstrução” da Abin e “reestruturação” do Sisbin “como parte do esforço para relançar as instituições brasileiras que haviam sido fortemente atacadas durante todo o governo anterior”.
“Foi um governo de profunda desorganização institucional de processos internos e, também, tentativa de captura de algumas dessas instituições”, atacou.
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