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A saída de Sergio Moro do governo Bolsonaro aumentou as especulações sobre o futuro do ex-juiz da Lava Jato. Moro era um dos ministros mais bem avaliados do governo e seu nome sempre apareceu entre os cotados para ser candidato à Presidência da República em 2022, apesar de ele negar ter pretensões políticas, e para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), chance que caiu por terra após ele acusar o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir nas investigações da Polícia Federal.
Ao pedir demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro não cravou o que fará daqui para frente, mas deu algumas pistas. Primeiro, ele relatou cansaço. Ele ocupou a magistratura por 22 anos e, antes de deixar a carreira, foi o juiz federal responsável pela condução da Lava Jato em Curitiba. Como ministro de Bolsonaro, ficou quase 16 meses no cargo, com a missão de melhorar os índices de segurança do país e combater o crime organizado.
“Esses 22 anos foram de muito trabalho. Em especial, durante todo esse período da Lava Jato, praticamente não tive descanso e nem durante o exercício do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública”, disse na sexta-feira (24), na sua coletiva de despedida. E lamentou o fim da sua carreira como juiz: “Infelizmente, deixar a magistratura foi um caminho sem volta”.
Moro afirmou que não enriqueceu durante a sua carreira e que está à procura de um emprego. “Vou procurar mais adiante um emprego. Não enriqueci no serviço público, nem como magistrado, nem como ministro.”
E terminou seu discurso dizendo que está à disposição do país. “E quero dizer, independentemente de onde eu esteja, eu sempre vou estar à disposição do país para ajudar no que quer que seja. Se eu puder ajudar nesse período da pandemia com outras atitudes... Mas, enfim, sempre respeitando o mandamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública nessa gestão, que é fazer a coisa certa sempre. Muito obrigado.”
Moro pode ser candidato à Presidência?
Ao se colocar à disposição do país, Moro aumentou as especulações sobre um possível futuro político. Pesquisa realizada pelo Instituto Big Data* a pedido do site BR Político e divulgada neste sábado (25) mostra que 66% dos entrevistados consideram que o anúncio da saída de Moro o coloca como “forte candidato à Presidência em 2022". Do outro lado, 34% responderam que discordam da afirmação.
No fim de 2019, o Datafolha** divulgou uma pesquisa de avaliação do primeiro ano de mandato de Bolsonaro e seus ministro. O levantamento mostrou que Moro era o ministro mais bem avaliado do governo Bolsonaro.
Ele era conhecido por 93% dos entrevistados e tinha sua gestão como ministro avaliada como ótima/boa por 53%. Já para 23% seu desempenho era regular e só 21% consideravam ruim/péssimo. Os números de Moro eram, inclusive, melhores que o do próprio presidente Bolsonaro. A gestão do presidente era considerada boa ou ótima para 30%. Já 32% consideravam regular e 36%, ruim/péssimo.
No fim de fevereiro de 2020, o Paraná Pesquisas*** divulgou que o trabalho do ex-ministro era avaliado como “ótimo” ou “bom” por 54% da população. Apenas 18,2% julgavam o desempenho do ex-juiz como negativo. Sobre o futuro do ministro, 57,9% dos entrevistados defendiam uma indicação dele para ministro do Supremo, 15,9% candidatura à Presidência e 14,4% uma chapa com Bolsonaro à reeleição em 2022.
Também em fevereiro, pesquisa feita pela FSB**** a pedido da Veja mostrou que, se as eleições para presidente fossem em fevereiro, Bolsonaro estaria na frente dos principais nomes cotados em primeiro turno, mas teria páreo duro com Sergio Moro no segundo turno.
No cenário sem Moro e sem Lula, Bolsonaro teria 37% as intenções de voto em primeiro turno, à frente de Fernando Haddad (PT), com 13%; Luciano Huck (sem partido), com 12%; Ciro Gomes (PDT), com 11%; João Amoêdo (Novo), com 5%; e João Doria (PSDB), com 3%. No cenário com Moro e também sem Lula, Bolsonaro aparece com 28%, Moro com 17%, Haddad com 15%, Huck com 13%, Ciro com 9%, Amoêdo com 4% e Doria com 3%.
Num eventual segundo turno, Bolsonaro ganharia de quase todos os adversários: Bolsonaro x Haddad (51% a 33%); Bolsonaro x Doria (50% a 25%); Bolsonaro e Huck (45% a 37%). Porém, o presidente ficaria empatado tecnicamente com Moro: 39% para o ex-juiz e 37% para Bolsonaro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O cenário Bolsonaro e Ciro não foi pesquisado em segundo turno.
Moro sempre negou ter pretensões políticas. O ex-ministro afirmou em diversas ocasiões que não tem perfil político-partidário. Ele afirma que seu perfil é técnico, por isso aceitou ocupar uma posição técnica, a de ministro da Justiça e Segurança Pública. “Vou colocar até no meu túmulo que não serei candidato”, brincou o ex-juiz da Lava Jato em evento organizado pela revista The Economist, em outubro de 2019. “Eu sou um peixe fora d’água dentro da política”, completou.
Os convites, contudo, serão inevitáveis. O Podemos é um dos partidos que gostaria de ter Moro como candidato à presidência em 2022.
Secretário de Justiça e Segurança Pública?
Enquanto 2022 não chega, Moro também começa a ser sondado para ser secretário de Justiça e/ou Segurança Pública nos estados. É o caso do Paraná, estado natal do ex-juiz da Lava Jato, Santa Catarina e Rio de Janeiro.
Uma fonte confirmou à Gazeta do Povo que o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSC), ofereceu o cargo de secretário de Segurança Pública a Moro. Os dois conversaram na sexta-feira (24). Se Moro aceitar, Ratinho Junior deve incorporar à Secretaria de Segurança Pública (Sesp) as atribuições da Justiça, que atualmente estão sob comando da Secretaria de Justiça, Família e Trabalho do estado.
No seu perfil oficial no Twitter, Ratinho escreveu: “@SF_Moro é o maior paranaense da história recente, orgulha o nosso Estado e o Brasil. Como juiz e como ministro ajudou a combater a corrupção em nosso país. Lamento muito a sua saída do Ministério da Justiça e Segurança Pública, mas tenho certeza de que ele vai continuar contribuindo com a nação em outros desafios. O Paraná te recebe de braços abertos! #bichodoparana #pévermelho”.
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, também já convidou o ex-ministro a integrar o seu governo. “Assisto com tristeza ao pedido de demissão do meu ex-colega, o Juiz Federal Sergio Moro, cujos princípios adotamos em nossa vida profissional com uma missão: o combate ao crime. Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui, vossa excelência, tem carta branca sempre”, escreveu em seu perfil no Twitter.
Em entrevista ao UOL, Witzel afirmou que Moro "poderia fazer a integração entre Ministério Público, as polícias Civil e Militar, e o Judiciário". “Eles precisam estar integrados, alinhados com instituições federais, no combate ao crime organizado, no aprimoramento da Justiça do estado. Quem faz essa integração hoje sou eu. Intensificaríamos o trabalho de combate à lavagem de dinheiro e daríamos o espaço político para ele trabalhar”, relatou o governador.
Outro governador que ofereceu um cargo a Moro foi Carlos Moisés, de Santa Catarina. "Brasileiros perdem com a saída de @SF_Moro do
@JusticaGovBR. Moro é sinônimo de luta contra a corrupção, condição essencial para a construção de um Bandeira do Brasil melhor. Lamento. Seu trabalho sempre foi correto e ético. Agradeço as parcerias com #SantaCatarina. Será bem vindo aqui!", escreveu no Twitter.
Professor, consultor e estudar no exterior
Além da carreira política, Moro também pode voltar a ser professor ou virar consultor. O ex-juiz foi professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tendo pedido exoneração do cargo em 2018. Ele lecionava desde 2007 no departamento de Direito Penal e Processual Penal da universidade e estava licenciado desde 2016, no auge da Operação Lava Jato. Ele também deu aulas na Unicuritiba, universidade particular com sede em Curitiba.
Moro já teria pensado em estudar no exterior, segundo a coluna Expresso, da revista Época. Ainda durante a época de juiz da Lava Jato, a coluna trouxe à tona que ele pensava se licenciar do cargo para estudar no exterior. O plano seria para 2019 ou 2020, mas foi interrompido com o convite para ser ministro do governo Bolsonaro.
Um caminho também comum para ex-ministros e figuras públicas é virar consultor. O ex-procurador decano da Lava Jato, Carlos Lima, por exemplo, tem uma empresa de consultoria em compliance, ou seja, sobre a adoção de prática de medidas anticorrupção e antifraude dentro das empresas.
Metodologia
* O levantamento do Instituto Big Data ouviu 1.615 pessoas por telefone na última sexta-feira (24). A margem de erro do levantamento é de 2,5 pontos para mais ou para menos.
** O Datafolha consultou 2.948 pessoas em 176 municípios na primeira semana de dezembro de 2019. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.
*** O levantamento do Paraná Pesquisas entrevistou 2.117 pessoas por telefone de 13 a 17 de fevereiro de 2020. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
**** A pesquisa FSB foi feita entre os dias 7 e 10 de fevereiro de 2020, com 2 mil pessoas, por telefone. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.