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Rumo a 2026

Oposição apostará em fracassos econômicos de Lula para aumentar eleitorado no Nordeste em 2026

Bolsonaro fará caravana pelo Brasil, de olho em 2026 e no PL da Anistia
Bolsonaro fará caravana pelo Brasil, de olho em 2026 e no PL da Anistia (Foto: EFE/Sebastião Moreira)

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Visando ganhar terreno eleitoral para 2026, a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende explorar os fracassos do governo na economia para arrematar votos na região Nordeste, principal reduto eleitoral petista. Parlamentares nordestinos ouvidos pela Gazeta do Povo afirmam que a insatisfação com Lula e as obras realizadas pelo ex-presidente na região podem auxiliar a direita a ter mais espaço junto aos eleitores nordestinos.

Os primeiros esforços começaram na sexta-feira (11), quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inaugurou a “Rota 22”, no Rio Grande do Norte. Bolsonaro, porém, passou mal, precisou ser hospitalizado no RN e posteriormente foi transferido para Brasília. Na capital federal, o ex-presidente foi submetido a uma cirurgia que levou cerca de 12h e segue com os cuidados pós-operatórios. Ele passou por uma laparotomia exploradora para liberar aderências intestinais e fazer a reconstrução da parede abdominal. Segundo a perspectiva médica, Bolsonaro deverá retomar as atividades somente no segundo semestre, já que precisará de dois a três meses para se recuperar.

Apesar do problema de saúde de Bolsonaro, o "Rota 22" segue com as atividades no interior no RN até a próxima quinta-feira (17). A caravana tem como objetivo inicial defender o projeto de lei da anistia aos presos do 8 de janeiro, mas também aproveitará para expor os erros do Executivo federal em uma região estratégica para o próximo pleito. 

Além do evento no estado potiguar, a oposição planeja voltar à região em outras oportunidades. Além de outras edições da caravana, um interlocutor da oposição afirmou que o Instituto Liberal Conservador avalia realizar uma edição da Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC) em algum estado nordestino.

Para o deputado estadual Renato Antunes (PL-PE), o governo Lula não entregou o que prometeu à população nordestina, que enfrenta dificuldades econômicas. “E o que a gente vê hoje, infelizmente, é um governo Lula esfacelado economicamente e o povo nordestino está pagando esse preço.”

Antunes critica a diferença entre as promessas feitas durante a campanha e a realidade enfrentada pela região. “Se ele prometeu picanha e prometeu cerveja para a realidade do povo do Sul, o Nordeste não consegue nem comprar um quilo de charque, não consegue comprar o próprio ovo, que sempre teve na nossa dieta diária.”

Para o deputado, o ex-presidente ainda tem muito a oferecer à região, caso seja eleito em 2026 ou consiga colaborar para a vitória de um aliado da direita no pleito do próximo ano. “A gente acredita que essa caravana tem esse poder de fazer essa comparação e mostrar que o presidente Bolsonaro fez e poderá fazer muito mais ainda pelo Nordeste.”

O deputado federal Sargento Gonçalves (PL-RN) destaca que o governo Bolsonaro realizou obras significativas no Rio Grande do Norte e beneficiou a população com medidas concretas. “Bolsonaro fez muitas obras importantes aqui no Rio Grande do Norte. A engorda da Orla de Ponta Negra [Zona Sul de Natal] é um exemplo. Também tivemos a reforma agrária. Foram mais de 5 mil títulos de terras entregues aqui a famílias só no Rio Grande do Norte.”

O parlamentar exemplifica que a entrega de títulos de propriedade no estado teve um impacto social relevante, especialmente para as mulheres, o que deve voltar a ser relembrado durante os eventos do PL no Nordeste e também na campanha eleitoral do próximo ano. “A maioria desses títulos foram para as esposas, no caso para as mulheres da família, demonstrando a preocupação dele com a questão da valorização da figura feminina.”

Gonçalves também compara a situação dos prefeitos no governo Lula com a do governo Bolsonaro e opina que a diferença de tratamento pode ser um diferencial para 2026. “Os prefeitos dizem que, na época do presidente Bolsonaro, os recursos chegavam muito mais fáceis. Hoje, de fato, os prefeitos voltaram àquela época do "pires na mão", tendo que implorar para receber recursos do governo federal. Esse é o testemunho de prefeitos aqui do nosso estado", comenta.

Mas qual a importância eleitoral do Nordeste? Composta por nove das 27 unidades da federação, a região soma uma bancada de aproximadamente 150 deputados federais e 27 senadores, o que representa um terço em cada Casa do Legislativo. Nas eleições de 2026, das 54 vagas em disputa para o Senado, 18 serão no Nordeste. Cada estado vai elegar dois senadores no pleito do próximo ano.

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Bolsonaro deve continuar apostando em ex-ministros para avançar no Nordeste

Nesse cenário, a expectativa é de que Bolsonaro continue apostando nos ex-ministros de seu governo, bem como em aliados que mostraram bom desempenho nas eleições municipais de 2024, para que o PL e outras legendas da direita sigam crescendo no Nordeste.

O caso que mais chamou a atenção foi o do deputado André Fernandes (PL-CE), que acabou derrotado por Evandro Leitão (PT) na disputa pela prefeitura de Fortaleza (CE). Apesar da derrota do jovem parlamentar, o Partido Liberal considerou que houve progressos em uma capital que tradicionalmente votava na esquerda.

O ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga também é cotado para representar o partido em uma disputa majoritária na Paraíba. Derrotado pelo atual prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), no último pleito, ele foi escolhido para comandar o Partido Liberal no estado e articular as candidaturas para 2026.

Representando Bolsonaro em Pernambuco, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado é cotado para voltar às urnas no ano que vem e pode disputar uma vaga para o Senado Federal. No ano passado, ele foi derrotado pelo atual prefeito da capital, João Campos (PSB).

Por outro lado, o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes e atual presidente do PL em Pernambuco, Anderson Ferreira (PL), também tem a intenção de lançar candidatura à Casa Alta. As divergências entre Ferreira e Machado têm gerado atritos na sigla, e caberá a Bolsonaro mediar os conflitos locais.

O ex-ministro da Cidadania e presidente do PL na Bahia, João Roma, também é cotado para a disputa pelo Senado em 2026. Em 2024, ele chegou a anunciar que seria candidato à prefeitura de Salvador, mas recuou em prol de um acordo com o atual prefeito da cidade, Bruno Reis (União).

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Segurança e economia no centro da disputa pelo Nordeste em 2026

A desaprovação ao governo Lula tem crescido no Nordeste, segundo o último levantamento da Quaest*, divulgado em 2 de abril. Atualmente, 46% dos nordestinos reprovam a gestão do atual presidente, um aumento significativo em relação aos 37% registrados em janeiro. Esse cenário é atribuído, em grande parte, à inflação persistente, que fechou o ano passado em 4,83%, acima da meta de 3% estipulada pelo governo. O impacto foi ainda mais severo nos alimentos, cuja inflação alcançou 7,69%.

Diante desse contexto, a oposição pretende enfraquecer a influência do governo na região e aposta em pautas com forte apelo popular, como economia e segurança pública. O cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), destaca que o momento para essa ofensiva foi estrategicamente escolhido.

“A ênfase na economia e na segurança pública reflete temas que, de fato, têm pesado no debate nacional. O governo enfrenta dificuldades nesses setores, e a oposição tenta capitalizar esse desgaste”, avalia Gomes.

Dados do Anuário de Segurança Pública 2024 mostram que, das dez cidades mais violentas do país, sete estão no Nordeste -- seis na BA e uma no CE. Além disso, a região concentra mais de nove milhões de beneficiários do Bolsa Família e foi a segunda mais afetada pelos cortes do programa, com uma redução de 537.321 famílias.

“A oposição tem consciência de que não conseguirá desmontar completamente a base lulopetista na região, mas reduzir essa força já seria um avanço estratégico importante. Fazer uma rachadura nesse muro pode ser decisivo no próximo pleito”, afirma o professor.

Além do impacto na corrida presidencial, a estratégia pode fortalecer a direita no Senado. “Existe uma possibilidade concreta de ampliação da bancada opositora. Não vejo um cenário em que esse número se mantenha ou diminua. O desgaste do governo e a força dessas pautas indicam um crescimento”, analisa Gomes.

Outro fator que pode influenciar o cenário político, segundo o especialista, é o debate sobre o ativismo judicial. “Há um contingente da população que defende senadores dispostos a pautar o impeachment de ministros da Suprema Corte. O Nordeste não está fora desse movimento, o que pode contribuir para a ampliação da base parlamentar oposicionista no Congresso”, afirma.

Fortalecimento da direita no Nordeste depende de maior articulação nacional

Para expandir sua influência no Nordeste, a direita precisa de um apoio mais efetivo de suas principais lideranças nacionais. Essa é a avaliação de Mateus Henrique Souza, coordenador do movimento Direita Pernambuco, que vê a falta de reconhecimento dessas figuras como um obstáculo para o avanço conservador na região. 

“Existem muitos movimentos e organizações de direita que realizam um trabalho de conscientização de alto nível, mas ainda falta o reconhecimento dessas lideranças nacionais para fortalecer tais ações”, afirma Souza.

Ele destaca que as eleições municipais de 2024 trouxeram sinais importantes de mudança no cenário político do Nordeste. “O resultado foi um grande recado, mostrando que o eleitorado vem direcionando suas preferências para ideias partidárias mais alinhadas à direita. Em muitos casos, políticos de esquerda migraram para partidos mais ao centro para suavizar sua imagem e conseguir vencer a eleição.”

O ativista ressalta que a disputa presidencial de 2026 será diretamente influenciada pelo que ocorreu em 2024. “Sempre se afirmou que 2026 passaria por 2024, e os sinais estão aí: a direita fortalecida nas ruas, na política e, em breve, de volta ao topo, para que o Brasil volte a caminhar no eixo do desenvolvimento", afirma Souza.

Metodologia

A pesquisa Quaest ouviu 2.004 pessoas, presencialmente, entre os dias 27 e 31 de março. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

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