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Auditoria TCU

Salário para morto e servidor com 75 anos: as irregularidades na folha de pagamento dos 3 poderes

Fiscalização do TCU encontrou 52,6 mil indícios de irregularidades na folha de pagamento de órgãos públicos. Foto: Ana Volpe/SRP. (Foto: )

Uma fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou 52.636 indícios de pagamentos irregulares a servidores, aposentados e pensionistas de 798 órgãos públicos federais envolvendo os três poderes. Os danos aos cofres públicos podem chegar a R$ 1,6 bilhão, se comprovados os depósitos irregulares ao longo de todo o ano de 2018.

Os pagamentos suspeitos foram feitos no ano passado e envolvem desde servidor ativo com mais de 75 anos (o que é ilegal) a funcionários e pensionistas que já morreram, mas que continuam recebendo remuneração.

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Dos total de casos identificados, 17.168 já foram confirmados como irregulares pela equipe de fiscalização do tribunal junto aos gestores dos órgãos responsáveis pelos pagamentos indevidos. O restante (35.468) ainda aguarda esclarecimentos dos gestores para que o tribunal possa classificá-los como procedentes ou improcedentes. Caso confirmados, a situação precisa ser regularizada e os pagamentos irregulares cortados daqui em diante.

Entre as principais irregularidades identificadas pela auditoria, estão:

  • Servidor ou pensionista já falecido, mas que continua recebendo remuneração
  • Acumulação irregular de cargos
  • Servidor que é gerente ou administrador de empresa privada, algo vedado por lei
  • Pessoas proibidas de assumir cargos públicos exercendo uma função pública
  • Acúmulo ilegal de aposentadoria, pensão, benefícios e/ou indenizações
  • Servidores cedidos ou requisitados recebendo acima do teto constitucional
  • Servidores com dedicação exclusiva desrespeitada
  • Aposentadoria por invalidez para servidor com condição de retornar à ativa
  • Benefícios como auxílio-creche e auxílio alimentação pagos em duplicidade
  • Servidor com mais de 75 anos, que deveria ter sido aposentado compulsoriamente, mas que continua trabalhando
  • Pensionista em união estável enquadrada como filha solteira
  • Servidor que descumpre jornada de trabalho regularmente

Essas e outras irregularidades foram encontradas em 798 órgãos públicos federais envolvendo Executivo, Legislativo e Judiciário, além do Banco Central. Entre as instituições pesquisadas, estão ministérios, Congresso, Ministério Público da União, Forças Armadas, estatais federais, universidades federais e tribunais superiores.

Dez órgãos públicos respondem por 64% dos casos sem respostas

Dez órgãos públicos correspondem a 64% dos casos de pagamentos identificados como possivelmente irregulares, mas que ainda aguardam uma resposta dos gestores para serem de fato confirmados. Ao todo, os casos relativos a esses dez órgãos somam pagamentos de R$ 826 milhões no ano.

Esses órgãos deverão apresentar, em até 60 dias a contar de 8 de maio, uma resposta ao TCU e um plano de ação para solucionar as pendências e evitar que novos casos aconteçam. São eles:

  • Exército (vinculado ao ministério da Defesa)
  • Ministério da Saúde
  • Aeronáutica (vinculado ao ministério da Defesa)
  • Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh)
  • Ministérios dos Transportes (atual ministério de Infraestrutura)
  • Ministério do Planejamento (atual ministério da Economia)
  • Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • INSS
  • Petrobras
  • Universidade Federal de Pernambuco

A auditoria foi feita na folha de pagamento de março a setembro de 2018. Mas, para efeito de cálculo do possível prejuízo aos cofres públicos, foi considerado todo o ano de 2018, incluindo pagamento de 13º salário.

O que acontece agora?

Ao identificar um possível caso de pagamento irregular, o TCU notifica o gestor responsável por aquele depósito e pede esclarecimentos. O gestor pode confirmar que o indício procede ou afirmar que não procede e, para isso, apresentar provas que o servidor ou pensionista não se encontra na situação irregular ou que está amparado por outras normas e decisões para receber aquele pagamento. O tribunal, então, analisa as respostas.

Caso confirmados os casos de irregularidade, o tribunal pede a regularização da situação para que o pagamento indevido não seja mais efetuado. Pede, ainda, que o órgão adote medidas para evitar que situações semelhantes voltem a acontecer.

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Depois, cabe a Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip) do tribunal monitorar se as providências foram tomadas. A Sefip pode, ainda, autuar os gestores caso eles não prestem os primeiros esclarecimentos ou caso não solucionem as irregularidades encontradas. O TCU, porém, não pediu devolução dos recursos pagos indevidamente.

O tribunal esclarece, ainda, que um pagamento feito irregularmente pode ou não ser um indicativo de fraude. É possível que tenha apenas acontecido um erro não intencional de preenchimento no sistema ou uma própria falha do sistema, como o pagamento ter sido considerado computado, apesar de nunca ter sido efetivamente depositado. A auditoria não chegou a classificar quais casos foram fraudulentos, nem abrir nomes de servidores.

Não é a primeira vez

Desde 2015, o TCU faz uma auditoria anual na folha de pagamentos dos órgãos da administração pública federal. A fiscalização é feita através de dados disponibilizados no Siape, o sistema de recursos humanos usado pelo Poder Executivo, e de informações enviadas pelos outros poderes. Os dados são submetidos à avaliação através de programas de computador que cruzam as informações. O objetivo é identificar possíveis irregularidades.

Nas folhas de pagamento de 2017, por exemplo, foram identificados indícios de pagamentos irregulares a 12.658 servidores, aposentados e pensionistas de 287 órgãos públicos federais.

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