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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)| Foto: EFE/Andre Borges

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu a prosperidade nacional no seu governo, afirmando que seu terceiro mandato apresentaria crescimento econômico médio dos primeiros dois governos (2003 a 2010) – cerca de 4% ao ano. Mas as perspectivas para os próximos anos indicam que a promessa dificilmente será cumprida.

“Nesses próximos quatro anos, vamos fazer muito mais do que fiz nos meus primeiros oito anos. O trabalhador vai receber, além da inflação, o crescimento médio do PIB, como sempre fizemos em nossos governos”, discursou o presidente em ato sindical do 1º de maio.

Em meio aos riscos para a economia doméstica e externa, Lula está apostando no investimento público e outras ações, como um programa de valorização do salário-mínimo, para reaquecer a atividade produtiva. Mas analistas e políticos ouvidos pela Gazeta do Povo descartam a expansão vigorosa do Produto Interno Bruto (PIB), que mede o desempenho da economia. Eles estimam percentual inferior à média dos dois primeiros mandatos do petista e, na melhor hipótese, um empate com a gestão do antecessor Jair Bolsonaro (PL), prejudicada pela pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia.

O PIB cresceu 2,9% em 2022, uma desaceleração em relação aos 5% do ano anterior. Para este ano, o mercado financeiro calcula alta de 1%. Já para 2024, o crescimento subiria para 1,4%. As projeções do governo são mais otimistas: crescimento de 1,6% em 2023 e 2,34% no ano que vem.

Considerando as projeções do mercado para 2023 e 2024, o PIB precisaria saltar mais de 6% em cada um dos dois últimos anos do governo para que Lula possa cumprir a promessa de bonança – um número muito maior do que apontam as projeções para os ano de 2025 e 2026.

Não será fácil o desafio auto-imposto pelo Lula 3 para repetir o crescimento experimentado nos seus mandatos anteriores, entre 2003 e 2010. Durante o governo Lula 1 (2003-2006), a variação média anual do PIB foi de 3,5%, enquanto no Lula 2 (2007-2010) esta cifra alcançou 4,6%. As médias anuais dos dois governos somadas registram 4,05% no período. Veja:

Cenários doméstico e externo cobram rapidez nas reformas

Segundo Bruno Carazza, da Fundação Dom Cabral (FDC), o governo enfrenta cenários dentro e fora do Brasil “extremamente complexos e desafiadores” para o crescimento do PIB.

“Este ano se espera uma expansão pífia e a do próximo ano dependerá da redução do déficit fiscal com o novo mecanismo de controle de gastos, além da reforma tributária, da economia chinesa, dos desdobramentos da guerra na Ucrânia e do patamar de juros nos Estados Unidos e na Europa”, resume o professor.

Para que o desenvolvimento almejado de Lula se realize, Carazza destaca a necessidade de o Congresso aprovar reformas econômicas anunciadas pelo Planalto de forma rápida e consistente.

“Esperava-se que a Administração atual fosse ágil, até para aproveitar o impulso pós-eleitoral. Lula, contudo, atrasou planos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Caso a projeção do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se confirme, os projetos urgentes serão votados pelo Senado apenas no segundo semestre”, detalha.

As dificuldades na economia têm sido lidadas por Lula ora com desdém ora com responsabilização de terceiros, como uma suposta “herança maldita” de Bolsonaro e, sobretudo, a política de juros conduzida pelo Banco Central (BC) independente.

Na última reunião para definir a taxa básica de juros (Selic), a autoridade monetária optou por mantê-la em 13,75% anuais. A decisão deu novo argumento para a rotina de ataques do petista ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, a quem ele considera agente da oposição.

Presidente contesta críticos e aposta em retomada inesperada

Durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto em 6 de abril, Lula reafirmou o compromisso com a retomada do crescimento econômico, como sendo uma etapa seguinte à atenção prioritária aos programas sociais nos primeiros 100 dias de governo.

Sem estipular qual deve ser a evolução do PIB no seu terceiro mandato, disse não haver “mágica” para melhorar os indicadores, restando perseguir mudanças que a conjuntura permitir dentro da correlação de forças no Legislativo. Analistas veem no tom realista o receio do presidente com o reflexo da fraqueza econômica nas urnas.

Em abril, diversos indicadores atestaram piora da economia brasileira. O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para baixo a previsão de crescimento do país em 2023, de 1,2% para 0,9%. Além disso, a projeção média dos economistas do mercado para a inflação de 2023 subiu para 6,01%, indicando preços sob pressão. O setor industrial registrou recuo de 0,2% na produção em fevereiro, em relação a janeiro, na terceira queda seguida, mostrando que o setor segue enfrentando problemas.

A arrecadação do governo também indicou queda em março de 2023, alcançando R$ 171 bilhões, uma redução de 0,42% em relação a igual período do ano anterior. A queda deve-se ao menor nível de atividade econômica e à persistência inflacionária. Por fim, a taxa de desemprego subiu de 8,6% para 8,8% no primeiro trimestre.

Sem chances de cassar a independência do BC, Lula redobra acusações contra a instituição de agir politicamente e de ser insensível ao desemprego. Em paralelo, o presidente investe na pressão de empresários e economistas críticos às maiores taxas de juros em seis anos e na indicação de diretores para o banco alinhados ao governo. Mas os números ruins da economia não levam, necessariamente, à queda dos juros, considerando o perfil vigilante do BC e a expectativa de a meta inflacionária ser atingida só em 2024. Durante debate no Senado, no fim de abril, Haddad afirmou que se a Selic seguir no nível atual as contas públicas vão piorar com baixo crescimento.

Em público, as falas de Lula tentam manter de pé a promessa aos eleitores de dias melhores na economia.

“A gente vai crescer mais do que os pessimistas estão prevendo. Vamos ver o que vai acontecer quando as pessoas começarem a produzir mais, a comprar mais, a vender mais. Será um salto importante”, disse durante reunião ministerial no Palácio do Planalto, em 3 de abril.

Para políticos e analistas, Lula vai culpar terceiros pelo fracasso

De acordo com o cientista político e diretor-geral do Ranking dos Políticos, Juan Carlos Gonçalves, o Brasil hoje é bem diferente daquele do início do século, quando Lula assumiu a presidência pela primeira vez. “O país não conta com aquela alta valorização das commodities minerais e do campo e ainda enfrenta insegurança jurídica, com o presidente ameaçando reestatizar empresas e extinguir marcos regulatórios”, disse.

Para ele, a postura de Lula afugenta investimentos externos e retarda o avanço do PIB. “Mesmo com um recuo significativo dos juros, é improvável que o país atinja crescimento anual acima de 3% nos próximos anos”, disse.

Gonçalves acredita que Lula acabará transferindo a responsabilidade pelas frustrações no plano econômico para o BC, o Congresso ou fatores externos. “Mas este sucesso ou fracasso é sempre creditado ao Executivo, como ensina a frase de James Carville, assessor do presidente americano Bill Clinton na campanha eleitoral de 1992: ‘é a economia, estúpido'”.

Gonçalves entende que a reforma tributária deveria ser a prioridade maior do governo, pois contribui diretamente com o crescimento do PIB e com a sustentabilidade fiscal, mesmo sem grandes ganhos imediatos. Ele destaca o estudo do economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, que prevê expansão econômica de 33% em 15 anos, caso o projeto em discussão no Congresso seja aprovado.

“O escopo da reforma definirá se o Brasil continuará com resultados medíocres ou se terá juízo para se tornar um país viável”, finalizou.

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