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Deputados Carlos Jordy e Alexandre Ramagem foram alvos de operações da PF
Deputados Carlos Jordy e Alexandre Ramagem foram alvos de operações da PF| Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

A Polícia Federal (PF) realizou duas operações de busca e apreensão - no período de uma semana - contra dois políticos de direita, que foram eleitos deputados federais e que são pré-candidatos a prefeito em duas cidades do estado do Rio de Janeiro, a capital fluminense e Niterói. São eles: Alexandre Ramagem e Carlos Jordy, ambos do Partido Liberal (PL), sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na ação mais recente, agentes da PF estiveram no gabinete e na residência em Brasília do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), na manhã desta quinta-feira (25). Na quinta-feira passada (18), o alvo da operação foi o também deputado federal Carlos Jordy, líder da oposição na Câmara.

No caso Ramagem, a investigação da PF teve início diante das ações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que teriam ocorrido durante o governo Bolsonaro, com o suposto intuito de monitorar autoridades públicas sem autorização judicial, por meio do uso do dispositivo cibernético First Mile, que faz a geolocalização de dispositivos móveis. A Operação Vigilância Aproximada é um desdobramento da Última Milha, deflagrada em outubro do ano passado para investigar essa questão.

Há exatamente uma semana, no dia 18, o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), pré-candidato pelo partido à prefeitura de Niterói, também foi alvo de busca e apreensão em seu gabinete e residência em Brasília. Naquela oportunidade, tratava-se da 24ª fase da Operação Lesa Pátria, cujo objetivo é identificar pessoas que tenham planejado e financiado os atos que culminaram com a depredação de prédios públicos em 8 de janeiro de 2023.

Aliados da direita avaliaram a sequência de ações contra parlamentares do PL como perseguição política, a qual busca minar o avanço de candidatos da direita. Em publicação no X, o deputado federal Mauricio Marcon (Podemos-RS), vice-líder da oposição na Câmara, afirmou que se vive em uma democracia relativa e que “em breve teremos parlamentares oposicionistas presos, cassados”.

Além de criticar a falta de reação das lideranças do Congresso diante das operações da PF, a senadora Damares Alves (Republicanos - DF) também destacou o fato de ambos os parlamentares serem pré-candidatos às eleições municipais deste ano.

Já a deputada Júlia Zanatta (PL-SC) opinou que se trata de “caça à oposição”, já que poucos dias após a “ofensiva” contra Jordy, seguiu-se a operação da PF contra Ramagem.  “Se o intuito for utilizar a máquina neste ano eleitoral para causar desgaste político aos indicados de Bolsonaro para prefeito, a situação é ainda mais grave”, afirmou.

Costa Neto diz que operação é “perseguição por causa do Bolsonaro”

Ao comentar a operação da PF desta quinta-feira (25), o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, disse que a operação é uma “perseguição por causa do Bolsonaro”. Apesar disso, na avaliação dele, o resultado pode favorecer o partido, já que supostamente ajudaria o candidato do PL na cidade do Rio, Alexandre Ramagem. “Isso é pura perseguição e pode acabar elegendo o Ramagem com mais facilidade no Rio de Janeiro”, disse o mandatário do PL.

O analista político e especialista em gestão pública, Lucas Pinheiro, avalia que as ações da PF podem, como evidenciado por Costa Neto, não causar desgastes junto às bases eleitorais de Ramagem e Jordy, pois fortaleceria as teses que defendem - de que se trata de perseguição. Assim, a visibilidade gerada pela cobertura do caso poderia favorecer Ramagem, tornando-o mais conhecido e estreitando suas relações com apoiadores de Bolsonaro na capital fluminense.

O uso da operação por adversários para desgastar Ramagem também é uma possibilidade, mas que tenderia a ter pouco efeito entre o eleitorado de Bolsonaro e, por consequência, de Ramagem.

Nas eleições municipais, segundo o especialista, o que realmente conta para a população são as propostas do candidato para o dia a dia da cidade, tanto que Paes se reelegeu mesmo após operações da PF que investigaram suas gestões, como a “Rio 40 Graus, deflagrada em agosto de 2017. “Isso nos leva a concluir que a população municipal é pragmática: quer saber o que o candidato vai fazer para melhorar sua vida na cidade”, salienta.

Desgaste de imagem diante das eleições

Nem todos compartilham da visão de que as operações da PF contra candidatos da direita, especificamente do PL, seriam benéficas aos postulantes aos cargos de prefeito do Rio de Janeiro e de Niterói. O analista político e consultor da Malta Advogados, Luiz Filipe Freitas, defende que as operações podem não ser tão positivas quanto Costa Neto afirma. Ele avalia que o presidente do PL desempenha seu papel ao fazer esse tipo de declaração, que busca diminuir os efeitos das ações da PF ao mesmo tempo em que procura alavancar seu candidato no Rio de Janeiro, importante reduto eleitoral para o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Diante da gravidade das acusações, ele prevê que, certamente, elas serão utilizadas pelos adversários para tentar desgastar a imagem de Ramagem e também de Jordy. Nesse sentido, ele destaca que o Rio também é reduto do ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, que teria sido um dos alvos espionados pela Abin.

Maia se pronunciou a favor da operação da PF e disse que iria até as “últimas consequências para buscar a punição” dos responsáveis, caso se comprovem as suspeitas de espionagem. Em entrevista à GloboNews, ele aproveitou para criticar Ramagem e disse que, para o político do PL, a liberdade significa desrespeitar a Constituição e as leis brasileiras.

Por outro lado, no dia 15 de janeiro, em seu perfil no X, o ex-presidente da Câmara e atual presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras elogiou os esforços de Paes para minimizar os problemas das chuvas no Rio de Janeiro. Ele também repostou a entrevista do ministro Alexandre de Moraes à GloboNews, na qual afirmou, sem apresentar provas, que havia planos para assassiná-lo durante os atos em 8 de janeiro do ano passado.

Operação da PF

A investigação da PF que resultou na operação Vigilância Aproximada, da qual Ramagem foi alvo, é uma continuação da operação Última Milha, deflagrada em outubro do ano passado, contra o uso de um dispositivo cibernético de monitoramento da localização de celulares por funcionários da Abin.

Segundo a PF, além de Maia, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes - que autorizou ambas as operações da PF, envolvendo Jordy e Ramagem. De acordo com o órgão, ao vasculhar os computadores da Abin, teriam sido encontradas provas de que Ramagem supostamente teria autorizado a espionagem ilegal das autoridades.

Conforme reportado pela CNN, a Abin teria espionado um jantar na casa de Rodrigo Maia. A reportagem não explicou que tipo de espionagem e como a ação teria sido realizada durante o jantar - o First Mile fornece a localização [latitude e longitude] de telefones celulares, mas não é capaz de captar outros dados dos aparelhos ou dos ambientes em que estejam inseridos.

Cotado para sair candidato no Rio, Braga Netto ficou inelegível em 2023

Antes de Ramagem, um dos pré-candidatos do PL para a prefeitura do Rio de Janeiro era o general Walter Braga Netto, que foi candidato à vice-presidência da República na chapa de Jair Bolsonaro (PL), em 2022. Mas, em 31 de outubro de 2023, Braga Netto foi julgado inelegível, por sua participação nos atos de 7 de setembro daquele ano.

Além de ficar fora das urnas por oito anos, Braga Netto ainda foi multado em R$ 212 mil. Um dos trunfos da candidatura de Braga Netto era a atuação como interventor federal no Rio de Janeiro em 2018, durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).

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