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O Partido dos Trabalhadores (PT) quer evitar repetir nas Eleições 2024 o fracasso eleitoral de 2020, quando não elegeu nenhum prefeito nas capitais do Nordeste. Embora a sigla se mostre otimista ao falar publicamente, analistas políticos apontam dois problemas principais: falta de nomes competitivos e o avanço de outros partidos de esquerda na região.
“O PT enfrenta uma escassez de candidatos fortes e competitivos nas principais capitais nordestinas. A ausência de figuras carismáticas e a dificuldade de renovação interna são fatores que contribuem para essa lacuna", avalia o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos.
Ele afirma que PSB e PDT têm demonstrado avanços na região, ocupando espaços que anteriormente eram dominados pelo PT. "Estes partidos têm apresentado candidatos bem posicionados e com boas chances de vitória, aproveitando a fragilidade atual do PT", complementou.
Das nove capitais nordestinas, o Partido dos Trabalhadores oficializou pré-candidatos próprios em cinco, sendo que em algumas delas competirá contra nomes da esquerda e de partidos do Centrão que possuem cargos na Esplanada dos Ministérios.
- Fortaleza (CE), Evandro Leitão;
- Aracaju (SE), jornalista Candisse Carvalho;
- Teresina (PI), deputado estadual Fábio Novo;
- Natal (RN), deputada federal Natália Bonavides;
- João Pessoa (PB), ex-deputado Luciano Cartaxo.
O coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral do PT, senador Humberto Costa (PT-PE), disse na segunda-feira (5), em entrevista ao jornal Correio Braziliense, que o foco da legenda no Nordeste será nas capitais.
"Estamos apostando em bons resultados. Para nós, isso é muito importante porque é uma base de sustentação importante da esquerda, do PT, do próprio presidente Lula. Nós queremos ganhar algumas dessas capitais", afirmou.
Nas outras quatro capitais – Salvador (BA), Maceió (AL), Recife (PE) e São Luís (MA) –, o PT fará coligações em torno de candidatos de outras legendas.
No último pleito municipal, o PT elegeu 182 prefeitos, o pior número já registrado pelo partido. Em seu auge, em 2012, foram 613 prefeitos. A situação não passou despercebida pelo Planalto, que realizou viagens com Lula para o Nordeste durante este ano, principalmente em Recife, Salvador e Fortaleza. A região concedeu 69,34% dos votos para o petista em 2022. Já o ex-presidente Jair Bolsonaro obteve 30,66% dos votos.
Na maior capital do Nordeste, PT apoiará candidato do MDB
Em Salvador, o PT apoiará a candidatura do vice-governador da Bahia, Geraldo Jr. (MDB), para disputar contra o atual prefeito, Bruno Reis (União), principal aliado de ACM Neto na capital. A sigla chegou a cogitar lançar o deputado Robinson Almeida (PT), mas, após negociações, optou pelo apoio a Geraldo. Na época, o senador Jaques Wagner, líder do PT no Senado, endossou o nome do vice-governador.
"É pública a minha simpatia pelo nome de Geraldo Júnior. [...] Ele foi presidente da Câmara de Vereadores, tem intimidade com os problemas da cidade de Salvador, é um cara bom de campanha. Acho ele um bom nome", afirmou em evento do PT.
Na capital do Maranhão, São Luís, o PT apoiará o deputado Duarte Jr. (PSB), aliado do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse caso, o PT preferiu negociar com os socialistas para indicar a vice Isabelle Passarinho na chapa de Duarte.
Com as negociações, o parlamentar terá uma coligação formada por 12 partidos, que se estende do PT ao PL, passando por PCdoB, PV, Avante, PSDB/Cidadania, PRD, Podemos, PP e União Brasil. Apesar da grande coligação de apoio, ele disputará contra Eduardo Braide (PSD), atual prefeito de São Luís.
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Mesmo com apelo de Lula, PSB escanteia PT no Recife
No Recife, capital de Pernambuco, o PT municipal defendia inicialmente que a legenda tivesse um candidato para disputar com o prefeito João Campos (PSB). No entanto, o partido buscou indicar o vice na chapa do socialista como forma de negociar a candidatura. O ex-assessor especial do Ministério das Relações Institucionais Mozart Sales era o mais cotado para o posto.
Apesar dos apelos de Lula a Campos, o prefeito recifense negou a vaga e escolheu Victor Marques, recém-filiado ao PCdoB e ex-chefe de gabinete dele, como vice. Apesar de os comunistas estarem na base do governo federal, a escolha foi vista como uma derrota para o partido de Lula, que, ainda assim, continuará apoiando a candidatura de Campos.
Na avaliação do cientista político José Maria Nóbrega, professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o discurso do Partido dos Trabalhadores se tornou obsoleto para os tempos modernos, o que influencia na dinâmica política local.
“As lideranças atuais do PT estão obsoletas e não têm nenhum apelo eleitoral para cargos majoritários. Muitas prefeituras do Nordeste, de cidades importantes como Salvador e a já citada Recife, não terão o PT como preferência, ou até mesmo na disputa, para os eleitores dessas cidades. O discurso também está obsoleto. Tolerar as diferenças de opinião não está na agenda do PT, o qual persegue e processa qualquer ideia contrária às suas”, opina Nóbrega.
PT racha com PDT pelas prefeituras de Fortaleza e Natal
Em Fortaleza, PT e PDT rivalizam pela disputa ao Executivo municipal. O partido de Lula lançou o deputado estadual Evandro Leitão (PT), que concorrerá contra o atual prefeito, José Sarto (PDT).
Apesar de o partido comandar o Ministério da Previdência Social, chefiado por Carlos Lupi, Sarto disparou críticas ao PT. Em entrevista ao UOL, no dia 25 de julho, o gestor destacou os altos índices de violência no Ceará e disse que a gestão do governador Elmano de Freitas (PT) foi conivente com o crime organizado no estado.
A rivalidade entre as siglas inclusive aprofundou o racha entre os irmãos Ciro e Cid Gomes. Enquanto Ciro apoia a candidatura de Sarto, Cid defendia que o PDT apoiasse o petista Leitão. Com o conflito, Cid saiu do partido e ingressou no PSB.
Além das disputas com a esquerda, o PT também deverá enfrentar candidatos de direita e centro-direita, como o União Brasil, que registrou candidatura do ex-deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), e o Partido Liberal (PL), que deverá lançar o deputado federal André Fernandes (PL-CE).
A situação é semelhante em Natal, capital do Rio Grande do Norte. O município atualmente é governado por Carlos Eduardo (PDT), mas o PT lançou a deputada federal Natália Bonavides (PT) para o pleito. Ela terá apoio de Lula e da governadora Fátima Bezerra (PT). Também está na disputa o deputado federal Paulinho Freire (União-RN), apoiado pelo senador Rogério Marinho (PL-RN).
Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, o enfraquecimento do PT gerado pelos escândalos de corrupção descobertos pela Operação Lava Jato permitiu que outras legendas ganhassem espaço em antigos redutos petistas.
“Os partidos menores à esquerda ficam orbitando em torno do PT, só que o PT perdeu força desde os escândalos da Lava Jato, desde os processos criminais que foram pegando grandes personalidades do partido", avalia. "Juntando com o que ocorreu com Lula, o PT perdeu força nas capitais e virou uma espécie de partido dos grotões, mais voltado para os interiores dos estados”.
Cerqueira disse também que, nas capitais, percebe-se uma maior rejeição ao PT enquanto sigla, o que deu chance para que outras forças à esquerda se renovassem. No caso do Nordeste, PDT e PSB foram os principais beneficiados, segundo o analista.
PT possui dificuldades com Centrão e direita em capitais do Nordeste
O partido comandado pela deputada federal Gleisi Hoffmann (PT) também enfrenta dificuldades em capitais nordestinas com candidatos do Centrão e do Partido Liberal.
Em Aracaju, capital de Sergipe, o PT registrou a candidatura da jornalista Candisse Carvalho (PT), casada com o senador Rogério Carvalho (PT), com o apoio apenas de PCdoB e PV, que compõem a Federação Brasil da Esperança. Ela terá que enfrentar candidatas com redes de apoio maiores, como a pré-candidata do PL, Emília Correa, que tem apoio do Cidadania, PSDB e Agir; e a deputada federal Yandra Moura, do União Brasil, que tem apoio do Podemos, do Partido Renovação Democrática (PRD, fusão do Patriota e PTB), do Democracia Cristã (DC), do Avante e do Mobiliza.
Situação semelhante ocorre em João Pessoa, na Paraíba, onde o deputado estadual Luciano Cartaxo, aposta do PT, disputará com o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, o nome do PL para o pleito, e com o prefeito da capital paraibana, Cícero Lucena (PP), que inclusive recebeu o apoio de PCdoB e o PV, que estão na mesma federação que o PT.
No caso da capital de Alagoas, Maceió, o PT chegou a articular o lançamento da candidatura de Ricardo Barbosa (PT) para a disputa. Entretanto, no início de julho, a legenda vetou o ex-vereador para apoiar Rafael Brito (MDB), o Tio Rafa, candidato apoiado pelo senador Renan Calheiros (MDB). O PT não conseguiu emplacar nem o vice na chapa – a escolhida foi a vereadora de Maceió Gaby Ronalsa, do PV –, mas aparece como um dos partidos da coligação que apoia Brito, além de PSD, PDT e PSB.
A chapa de esquerda concorrerá contra o atual prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL). A candidatura ainda não foi registrada, mas o vice será o senador Rodrigo Cunha (Podemos). A chapa deve contar com o apoio do PP de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados.
Para o cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a ascensão do Centrão nas eleições municipais é reflexo do ganho político que o Legislativo teve sobre o Executivo em relação ao orçamento público.
“Houve uma ascensão do Centrão. Esse grupo tem tido uma grande capacidade de controlar pastas ministeriais e o orçamento através das alterações que aconteceram em período mais recente, que transformaram boa parte das emendas parlamentares em emendas impositivas; isso tirou dos presidentes brasileiros aquela capacidade de controlar, de disciplinar sua base mediante o condicionamento da passagem das emendas”, avalia Gomes.
A situação do PT só parece ser melhor em Teresina, capital do Piauí, onde concorrerá com o deputado estadual Fábio Novo. O médico Paulo Márcio (MDB) será o vice. A chapa terá apoios de peso: o governador Rafael Fonteles (PT), o ministro do Desenvolvimento Regional, Wellington Dias, e uma grande coligação com PDT, MDB, Podemos, Democracia Cristã, Agir, PSB, PSD, Solidariedade, PSDB, Cidadania, PCdoB e PV.
O atual prefeito, José Pessoa Leal (PRD), que concorre à reeleição, conta com uma rede de apoios muito menor, com apenas PL e Avante na composição da coligação.
Há, porém, outro nome que pode rivalizar com Fábio Novo: Sílvio Mendes (União), ex-prefeito de Teresina por dois mandatos, apoiado por PP e Republicanos. Mendes disputou a eleição para governador em 2022. Acabou perdendo para Fonteles, mas fez 50,9% dos votos em Teresina.




