As ações de desintrusão da Terra Indígena Apyterewa, em São Félix do Xingu, no Pará, não serão paralisadas, mesmo após a morte de um homem, registrada na segunda-feira (16). Em nota, a Secretaria-Geral da República, que coordena a ação, afirmou que a operação de desintrusão continua. A desintrusão consiste na retirada de não indígenas de áreas que são demarcadas como terras indígenas.
De acordo com as fontes oficiais do governo federal, a morte teria ocorrido por causa da tentativa do homem de tirar a arma da mão de um policial. “A orientação do governo federal é usar a força somente no que é estritamente necessário para cumprir a ordem judicial. Contudo, na última segunda-feira (16), um dos invasores tentou tomar a arma de um dos policiais da Força Nacional de Segurança, resultando em um tiro que, infelizmente, levou a óbito o invasor”, afirmou, em nota, a comunicação da operação de desintrusão.
Ainda na nota enviada à imprensa, o governo afirmou que o grupo, do qual a vítima fazia parte, estava depredando as instalações e viaturas da operação de desintrusão, patrimônios públicos, e tentava evitar a chegada dos agentes às bases da operação. “Em um dos ataques atearam fogo em uma tenda utilizada para atendimento e para o cadastro de não indígenas, que serve de base para a análise e enquadramento nos programas sociais do governo federal. Em outra tentativa, eles bloquearam o acesso à base da operação com troncos de madeira e atacaram as viaturas com paus, pedras e até coquetéis molotov”, acrescentou o governo em nota.
Porém, o grupo de pessoas que está sendo retirada da área tem um relato diferente sobre os acontecimentos desta segunda-feira. A Gazeta do Povo conversou com o advogado Vinicius Borba, que acompanha o grupo. “A versão dos populares, dos agricultores, é que houve uma discussão e o tenente coronel da Força Nacional disparou dois tiros no abdômen daquela pessoa e ela veio a óbito”, disse o advogado.
Segundo Borba, uma decisão, que está sendo contestada na Justiça, determinou a desocupação da área da Terra Indígena Apyterewa, de forma amigável e consensual, com prazo de 30 dias para que as pessoas recolham seus pertences e deixem o local. O advogado afirma, no entanto, que a desintrusão não está ocorrendo de forma pacífica, como diz o governo federal.
“Eles [forças de segurança] chegaram [no dia 2 de outubro] e confiscaram todos os botijões de gás daquelas pessoas. Isso não consta na sentença. Já determinaram que o prefeito parasse as aulas. Mais de 100 crianças estão desde então sem escola. Também passaram a proibir a entrada de carne na área”, acrescentou Vinicius Borba.
Desintrusão na Terra Indígena Apyterewa atinge cerca de 1.600 famílias não indígenas
A demarcação da Terra Indígena Apiterewa foi homologada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu segundo mandato, em 2007. De acordo com o governo federal, esses não indígenas representam ameaça aos indígenas e à floresta, que já teve parte da vegetação destruída, e favorecem a exploração de atividades ilegais.
A ação em São Félix do Xingu iniciou em 2 de outubro e desde então diversos confrontos têm sido registrados. Neste processo de desintrusão, as 1.600 famílias de ocupantes não indígenas têm até 31 de outubro para deixar a área.
De acordo com o governo federal, algumas das famílias que habitam a área da Terra Indígena Apiterewa são envolvidas em atividades ilegais como criação de gado e garimpo, além de destruírem a vegetação nativa. Houve uma tentativa de desintrusão há 12 anos. Famílias foram indenizadas e reassentadas em projetos de reforma agrária, mas algumas voltaram para a terra.
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