

Essa gente da esquerda caviar não se emenda mesmo. Eles não quiseram nem esperar o cadáver do cinegrafista Santiago Andrade esfriar. Já saíram da toca para insistir na defesa do indefensável, como a “tática” dos black blocs e o socialismo. Foi o caso de Vladimir Lênin, digo, Safatle, que já rebati aqui.
E o caso de Francisco Bosco em sua coluna de hoje no GLOBO (como tem socialista neste veículo “golpista” da elite, não é mesmo?). Vamos a um ping-pong, ele em vermelho e eu em azul:
Nos dias que se seguiram à morte do cinegrafista Santiago Andrade, algumas pessoas vieram me cobrar por ter apoiado os black blocs durante as manifestações do ano passado. Os dois jovens que vêm sendo apresentados como responsáveis pela morte não se declararam black blocs, mas a ocasião é oportuna para esclarecer minha posição quanto a isso e comentar os recentes episódios envolvendo imprensa, Estado, PM e manifestantes.
Notem que Bosco, com tremenda cara de pau, tenta aliviar a barra dos black blocs no episódio. Os caras faziam parte do grupo mascarado, agiam como os demais black blocs, receberam auxílio de ONG ligada aos black blocs, mas como teve uma morte, deixam de ser black blocs. Vale tudo para manter a pureza dos revolucionários, não é mesmo?
Lembro, em primeiro lugar, que black blocs não são uma instituição, e sim uma estratégia. Não possuem, portanto, um núcleo que possa definir, orientar e sobretudo responder por ações. Declaradamente, essa estratégia se define por proteger manifestantes da violência policial e depredar símbolos do capitalismo (jamais atacar pessoas).
Ora, ora. O fato de não ser uma instituição quer dizer apenas que não tem CNPJ oficial, como ocorre, aliás, com o MST, outro grupo “revolucionário” que adota “estratégia” violenta e criminosa. Realmente, ninguém, nenhum líder, pode responder por suas ações, e isso é interessante para o movimento e suas lideranças. Mas não retira sua mancha do sangue do crânio de Santiago.
Quanto à afirmação de que o objetivo dos black blocs é proteger os manifestantes, não sei se Bosco tentou fazer uma piada ou se chamou todos os seus leitores de idiotas. Então a “proteção” vem com atos que obrigam policiais a reagir com bombas de efeito moral, é isso? Então os mais de 90% que rejeitam os mascarados nas manifestações precisam ser protegidos por esses vândalos mascarados? Menos, Bosco…
Por fim, atacar os “símbolos do capitalismo” é apenas uma coisa, e nada mais: crime! Quando vagabundos depredam vitrines de lojas, estão destruindo o patrimônio de indivíduos, de cidadãos ordeiros, e a polícia deve entrar em ação para evitar isso. Claro, então, que o próprio crime coloca vidas em risco, da mesma forma que um marginal comum, sem o manto da ideologia abraçada por Bosco, pode não querer alvejar pessoas, mas acaba eventualmente fazendo isso para praticar seu crime.
Tendo essa estratégia em mente, desde o início expus dois argumentos centrais a respeito da ação de black blocs em manifestações: 1) como o espaço simbólico na política brasileira é estruturalmente falseado, isto é, as demandas verbalizadas pela população são ignoradas, os protestos de junho tendiam a se esvaziar sem conseguir promover uma verdadeira abertura no sistema político.
Abertura? Estragando as manifestações legítimas e fazendo a PM ir em peso para as ruas? Ameaçando a própria democracia? Que abertura seria esta, Bosco? Uma “abertura” para o Brasil ficar mais parecido com a Venezuela, onde há “excesso de democracia”?
A ação violenta dos black blocs, tentando forçar uma abertura real, não deixava de ser uma forma de reconhecimento dessa esterilização do simbólico, contra a qual todos os manifestantes estavam.
Vai lá perguntar para a família de Santiago Andrade o quão “simbólico” foi a abertura de sua cabeça!
2) escrevi diversas vezes que a solução para o impasse entre violência policial e violência de manifestantes não estava no interior dessa relação, mas na abertura do Estado para as demandas da população por profunda transformação.
Ou seja, a “solução” seria a democracia representativa deixar de existir e se instaurar uma ditadura dos black blocs, rejeitados por mais de 90% dos brasileiros. Ou o governo cede às demandas de uma minoria barulhenta, organizada e violenta, ou o caos será sua responsabilidade. Não é fantástica a mentalidade de um socialista? Essa gente respira autoritarismo 24 horas por dia. É um espanto!
Justamente, é oportuno lembrar que a manifestação em que Santiago foi assassinado tinha como pauta o aumento da passagem de ônibus. Se tivesse sido atendida a demanda da população, automaticamente ter-se-ia desarmado a violência de ambos os lados.
Viram só? A culpa da morte de Santiago não é dos black blocs, e aliás os assassinos ainda não admitiram ser parte dos black blocs, não vamos esquecer. A culpa é do governo que não cedeu às exigências dos terroristas. Onde já se viu isso? As passagens de ônibus nunca mais poderão subir na vida! Se subirem, então os mascarados podem matar à vontade que o Bosco já disse que não é sua culpa.
Não sou extremista e compreendo o lado do empresariado e a necessidade de responsabilidade no trato das contas públicas, mas é patente a qualidade aviltante do serviço — e é ainda mais aviltante a falta de transparência que fez o TCM queixar-se de que as concessionárias dos transportes públicos não mandam informações claras para análise.
Nossa, imaginem se Bosco fosse extremista! Ele é tão moderado, que até entende o lado do empresariado, o mesmo que ele acha que pode ser atacado por mascarados como símbolos do capitalismo…
Desde junho do ano passado, a sociedade brasileira mudou. Todas as tensões recalcadas havia décadas passaram a vir à tona. Mas essas tensões, impedidas de se aliviar por meio da transformação efetiva que almejam, acabam explodindo no lugar onde elas são mais dramaticamente explicitadas, que são os protestos. A morte de Santiago foi a tragédia anunciada dessa panela de pressão.
Foi sim, uma tragédia anunciada. Mas pelos motivos opostos aos que você diz. Foi uma tragédia anunciada pelo lado de cá, pelos poucos que sempre se colocaram contra os black blocs por saberem que isso jamais acabaria bem. O lado daí, o seu, não anunciou tragédia alguma. Ao contrário: aplaudia e incentivava o vandalismo. Deu nisso. Sua consciência, se você a tivesse, Bosco, deveria estar muito pesada agora…
Com a força de um marco, de um ponto decisivo em um processo, ela mobilizou novamente uma grande energia social. Em momentos assim, está-se em contato direto com a História. Todos que escreveram ou agiram nesses últimos dias o fizeram com a responsabilidade da História nas costas.
Morro de medo dessa gente que fala em História desse jeito! São os… “historicistas”. Deveriam ler Karl Popper ou Isaiah Berlin para compreender o perigo dessa visão hegeliana da História, como se fosse um processo em marcha sob forças que podem ser simplificadas e facilmente descritas, tais como “luta de classes” ou baboseiras do tipo.
Contentar-se em declarar que “nenhuma violência é legítima numa democracia” não é apenas constatar o óbvio, mas performar uma mentira: a democracia brasileira é ela mesma em larga medida ilegítima (o que torna também ilegítima a execução do direito em grande parte dos casos), e é essa a fonte estrutural da violência, de que as irrupções pontuais são apenas o efeito.
Uau! Chamar a nossa democracia – ou qualquer uma, na verdade – de imperfeita, seria o óbvio. Mas de ilegítima? O que é isso, Bosco? Então você defende abertamente um golpe? É isso mesmo? A democracia que colocou o PT no poder não vale? Tinha que ter sido o PSOL, é isso? Não está à esquerda o suficiente para você, amante de Cuba e Venezuela? Tenha paciência, que o próprio PT vem tentando destruir nossa democracia e chegar lá…
Fico só pensando a reação se alguém da direita afirmasse a mesma coisa, que nossa democracia não é legítima. E se ainda por cima escrevesse isso no GLOBO! Como a esquerda reagiria? Entenderam agora porque eu disse que um esquerdista pode tudo? Porque pode falar na maior naturalidade atrocidades que jamais um conservador poderia.
Que a terrível morte de Santiago tenha mobilizado, via imprensa, tanta energia (lamento ter que dizer isso, em respeito à dor dos parentes e amigos) é uma das manifestações dessa injustiça sistemática brasileira, já que mais de uma dezena de pessoas morreram em protestos desde junho, vitimadas pela ação direta ou indireta da PM, sem obter repercussão.
Bosco está revoltado com o fato de a morte de Santiago ter gerado tanta revolta? Quanta insensibilidade. Ora, primeiro, foi um dos seus, da imprensa, e é natural que desperte mais indignação entre os próprios jornalistas. Em segundo lugar, os demais casos não são iguais. Quando alguém sofre um acidente porque fugia da polícia ou dos black blocs, isso não é o mesmo que ter seu crânio explodido por um rojão lançado por um mascarado, entende?
O Brasil é um país que hierarquiza não só vidas, mas também mortes. E quanto a isso a imprensa tem uma responsabilidade especial.
A responsabilidade da imprensa é dar espaço para gente como você, Bosco, ou para seu colega Vladimir Safatle e tantos outros dessa laia. A responsabilidade foi ter enaltecido os próprios black blocs antes da tragédia anunciada por nós poucos, da direita. Essa é a responsabilidade.
Estou praticando aqui, deliberadamente, em grande parte um contrassenso comum. Em determinados contextos expor o contrassenso é mais importante que revelar o incomum.
Não, você está apenas exercendo sua liberdade de expressão para defender barbaridades, e fazendo isso em um veículo que você mesmo considera golpista e elitista, mostrando o seu contrassenso.
Diversos setores têm procurado se apropriar deste momento para fechar de vez a possibilidade de transformações sociais mais rápidas e veementes. Quem o está fazendo entrará para a História de forma vergonhosa. Impedindo a construção de um outro futuro, não escaparão contudo do seu juízo.
E lá vamos nós com o “curso da História” novamente. Os ungidos e abnegados, como o próprio Bosco, querem acelerar o processo da História, desejam realizar transformações mais rápidas e veementes, via criminosos mascarados, e os chatos democratas não aceitam isso? Ingratos! Reacionários!
Tudo que o Bosco quer é construir um novo futuro, um “mundo melhor”, aquele existente na Venezuela ou em Cuba. Quem se colocar contra seu projeto, mesmo que uma cabeça ou outra de jornalistas explodam no trajeto, será condenado no dia do Juízo Final da História. Amém!
Eu, como sou “reacionário”, ou seja, reajo a tudo que não presta, continuarei lutando contra esta corja socialista. E ciente de que posso dormir em paz por não ter as mãos sujas de sangue inocente. Já a História de Francisco Bosco é essa: a defesa do indefensável, do que há de pior já produzido pela humanidade. Deveria se chamar Francisco Tosco!
Rodrigo Constantino



