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A luta contra o vício, por Mike Tyson

Um texto sincero e comovente de Mike Tyson foi publicado hoje no Estadão. Merece ser lido. Traz algumas mensagens importantes de humildade e desnuda a glamourização das drogas.

Tyson começa logo reconhecendo a dolorosa verdade: “Sou um viciado”. Sua luta contra o vício é ainda mais difícil do que contra seus velhos oponentes no boxe. Diz ele:

Por mais que eu demonstrasse uma disciplina incrível em relação ao boxe, eu não tinha as ferramentas necessárias para evitar minha queda no vício. Quando tinha uma oportunidade de ficar chapado, ficava chapado sem pensar duas vezes. Não telefonava para o meu padrinho, nem para o meu terapeuta, nem para meus amigos sóbrios. Para vencer o vício, tive de substituir o desejo de consumir álcool e drogas pelo desejo de ser uma pessoa melhor.

Aprendi que estar sóbrio é mais do que simplesmente evitar as drogas e o álcool. Trata-se de um estilo de vida cujo foco está em fazer escolhas morais, trazendo para o primeiro plano as coisas que fazem a vida valer a pena. Não entendam errado. Se eu tinha vontade de usar drogas e álcool, eu ainda cedia. Nunca consegui lutar contra esse desejo. Mas, quando estou concentrado em ser bom e fazer o bem, praticando os mecanismos diários de uma vida sóbria e saudável, não sinto essa vontade de fazer mal a mim mesmo.

Todos que conhecem pessoas que se envolveram no vício das drogas sabem como é complicado evitá-las. Em última instância, é sempre uma questão de escolha. Mas o grau de liberdade para tal escolha, quando fatores psicológicos tão fortes, alimentados por uma pulsão de morte avassaladora, somados ao elo químico dessas substâncias, fica bastante reduzido.

Por isso a ajuda das pessoas próximas é tão importante. E aqui Mike Tyson dá outra lição importante com sua própria experiência, algo que Nelson Rodrigues já tinha resumido com perfeição quando disse: “A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem”.

O sucesso é ameaçador muitas vezes. Bajuladores circulam em volta como moscas no mel, e os elogios exagerados criam uma sensação de invencibilidade. Tyson diz: “Estranhamente, os momentos de sucesso são para mim os mais perigosos. Quando as pessoas me diziam ‘Você é ótimo’ ou ‘Seu retorno foi espetacular’ ou ‘Você é um deus’, eu aproveitava o sentimento e ia atrás de drogas”.

Saber lidar com isso mantendo a humildade é um desafio e tanto. O psicanalista Jorge Forbes tem coisas interessantes a dizer sobre esse medo do sucesso:

httpv://www.youtube.com/watch?v=GSUqQUYQYFU

O sucesso, portanto, marca-se pela diferença, pelo destaque, e sua etimologia vem de “sucedere”, cair. Como todo grupo é narcísico, o sucesso individual coloca em risco a unidade grupal. O indivíduo bem-sucedido atrai, portanto, a inveja. Por isso é tão importante manter a humildade e também a sua integridade, para que você não se transforme apenas em um autômato atendendo a expectativa dos outros.

Na era da “autoestima” é preciso ter cuidado redobrado com isso. Agora, todo mundo repete que todos são “especiais”, que podem tudo, que são incríveis etc. Na era do politicamente correto, a crítica sincera é quase pecado. Sou do tempo em que meus pais faziam as críticas necessárias, até porque não eram os “amigos” quem as fariam.

Com inversão de valores, a sociedade moderna glamouriza o comportamento “rebelde” como se fosse o máximo. O caso do cantor Chorão vem à mente. Mike Tyson reconhece que a imagem de “bad boy” que ajudou a criar acabou funcionando como uma profecia auto-realizável, ou um círculo vicioso: “Minha autoimagem era tão negativa que eu simplesmente esperava que coisas ruins acontecessem comigo”. É preciso tentar romper esses grilhões e buscar interesses genuínos, legítimos, individuais e positivos, saudáveis.

Enfim, confesso que nunca tive muita simpatia por Mike Tyson, justamente por essa imagem que ele cultivou ao longo dos anos. Subiu no meu conceito após esse texto pessoal. Desejo a ele que consiga se livrar do vício das drogas. E muito sucesso!

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