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Aprendemos com a História que a esquerda não aprende com a História
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A esquerda radical chegou ao poder no Brasil com o PT, e deu nisso: a maior crise econômica de nossa história, os maiores escândalos de corrupção de nossa história. Mas não pense, leitor, que a desgraça causada pela extrema-esquerda será suficiente para uma completa revisão de conceitos por parte dos nossos ilustres socialistas. Essa turma não mexe um fio de cabelo, sequer pisca diante da hecatombe produzida por sua ideologia. Com a maior cara de pau, cada fracasso apenas comprova que é preciso… uma revolução socialista para curar o “sistema”!

Em sua coluna de hoje, o socialista Daniel Aarão Reis comprova essa certeza: aprendemos com a História que a esquerda não aprende com a História. Nem mesmo – ou principalmente – professores de História! Esses costumam ignorar ou adulterar todos os fatos passados para preservar suas utopias. O marxismo, como sabia Raymond Aron, é o ópio dos intelectuais. E eis que o caos gerado pelo PT não foi culpa da visão esquerdista de mundo do partido, e sim… do “sistema”. Qual? Só pode ser o capitalista, claro!

Em primeiro lugar, Reis faz aquilo que só os melhores advogados petistas têm a coragem de fazer: igualar todos os partidos, como se o PT não tivesse feito nada diferente do PSDB ou do PMDB. Diz ele: “A sociedade não está diante apenas de um ou outro corrupto. Para tristeza de muitos, não foram apenas os petistas e o PT que se ‘lambuzaram’. As acusações alcançaram o PMDB, o PSDB, o DEM e tutti quanti, ou seja, todos, sem exceção, salvo as de praxe. Como dizia L. Brizola, sempre irônico, formou-se um ‘mar de cumplicidades’. Talvez fosse o caso de ampliar a metáfora: um ‘oceano de cumplicidades’. É um sistema que está em questão”.

A essa linha absurda de raciocínio, que finge não conhecer tudo aquilo de diferente que fez o PT, rebato com o excelente editorial da Gazeta do Povo hoje, que diz: “O PT não inventou a corrupção, mas a elevou ao estado da arte. Por mais que nenhum dos crimes de caixa 2 e corrupção narrados pelos executivos da Odebrecht deva ficar sem investigação, igualar todos os delatados e investigados é um desserviço. Pensar assim só serve aos interesses de quem não quer ver escancarado seu papel na depredação do Estado brasileiro, colocado a serviço de um partido político que buscava meios escusos de se perpetuar no poder por meio do aparelhamento e, com a cooperação de empresários inescrupulosos, do abastecimento financeiro ilegal”.

O PT tem um DNA totalitário, veio com um projeto de perpetuação no poder por meio do controle absoluto do estado, flertou abertamente com os modelos cubano e venezuelano, tentou comprar tudo e todos e controlar a mídia, o STF, cada instituição republicana do sistema. Confundir isso com desvios de recursos ou caixa dois é piada de mau gosto. Quando um historiador o faz, reduz-se a alternativa de ignorância e aumenta muito a hipótese de má-fé.

Mas Aarão Reis continua, concluindo que o “sistema” precisa ser totalmente mudado, não suas premissas de que o estado deve ser grande, poderoso, intervencionista, capaz de fazer a “justiça social” e redistribuir riquezas, mas sim o “sistema”, e ainda aproveita para bater na direita que surge justamente para reduzir o escopo estatal responsável pela crise:

Trata-se, entretanto, de algo maior do que prender e condenar meia dúzia — ou duas dúzias — de cabeças coroadas. Elas são apenas expressão de um sistema. Sem mudá-lo, dele continuarão brotando as aberrações que desfilam pelos noticiários políticos e policiais.

Para mudar tudo isto, a maioria, segundo pesquisas, continua acreditando nos “salvadores da pátria”. É uma hipótese tradicional. Daria para ressuscitar o pai dos pobres e o homem da vassoura? Parece tarefa impossível, por mais religioso que seja o país. Há outros ainda à mão: é verdade que o caçador de marajás anda meio desmoralizado, mas o herdeiro de Vargas, apesar de enrolado, continua firme nas preferências populares. E há os novos, também subindo nas cotações: o prefeito-empresário coxinha, dublê de homem de TV, e o militar fanfarrão de extrema-direita. É uma carta em que se pode apostar, fiel às tradições brasileiras. Valerá a pena continuar com este jogo? Neste caso, infelizmente provável, o país continuará andando em círculos.

Há, contudo, uma outra via: encarar a dimensão sistêmica da crise, identificar os elos que podem ser atacados, e elaborar, discutir e propor plataformas para reformá-los de modo inovador. Algo a ser feito aqui e agora, antes das eleições, para que estas possam ser um momento de efetiva mudança.

A “efetiva mudança” que o professor de História deseja soa muito similar àquela do Gattopardo: mudar tudo, para que tudo continue exatamente como antes. Ou pior! Reparem que em nenhum momento ele menciona o excessivo poder concentrado no estado, nos políticos, nos sindicatos. A “revolução sistêmica” necessária não é retirar poder do governo, e sim aumentá-lo, talvez com financiamento público de campanha, lista fechada ou outras aberrações do tipo.

O “sistema” está podre, diz o autor, mas atenção: esse sistema não é o socialismo, o centralismo burocrático, o paternalismo estatal, o patrimonialismo que confunde o público com o privado porque o público é inchado demais. Não! O “sistema” apodrecido é o capitalismo liberal, aquele que nunca nos deu o ar de sua graça, mas que trouxe prosperidade e progresso por onde circulou. Vamos combater esse sistema, para quem sabe um dia o Brasil ter a liberdade e a prosperidade de uma Venezuela!

Rodrigo Constantino

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