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Brasil: um país imaturo prestes a apodrecer

Adotei faz algum tempo o bordão “o Brasil cansa”. Pessoas mais esclarecidas, maduras, que somam 2 com 2 e encontram 4, que entendem os limites e até desvios da capacidade estatal de resolver nossos males, essas pessoas ficam extremamente exauridas com os “debates” em nosso país, com as promessas irreais feitas por políticos demagogos e “intelectuais” de esquerda. Tudo é tão fácil quando se resume a apontar problemas e demandar mais recursos públicos para solucioná-los…

Em sua coluna de hoje na Folha, Vinicius Mota traçou um paralelo entre nações maduras e podres, lembrando que as primeiras discutem com base na realidade, enquanto as últimas ficam na fase infantil de exigir mais verbas estatais para tudo. Diz ele:

Nações maduras arbitram o entrechoque social nos orçamentos públicos. Países que apodrecem na infância dos povos o fazem com inflação, pedaladas, dívida descontrolada, confiscos e guerra civil. Acabou a procrastinação: o Brasil terá nos próximos anos de optar entre amadurecer ou apodrecer.

Na fase imberbe de nossa democracia de massas, estimulou-se a ideia de que não havia limite para financiar direitos. O atendimento ao anseio coletivo de produzir bem-estar social contornou a difícil tarefa de impor derrotas ao anacronismo, ao privilégio e à ineficiência.

Adotou-se a via clientelista: quer um direito? Então reserve uma fatia eterna da verba pública na Constituição. Se a soma de tudo ultrapassar a capacidade do Tesouro, aumentam-se os impostos e toma-se mais dinheiro emprestado, a juros de esfolar as gerações seguintes.

Ou seja, analisar com base em resultados esperados os melhores projetos, sempre os comparando com alternativas: eis o que fazem os países sérios, amadurecidos. Não repetir simplesmente que 10% do PIB deve ir para a “educação”, como fazem nossos populistas. Sopesar vantagens oferecidas aos “idosos”, que muitas vezes se aposentam antes dos 60 anos, com o custo disso para os mais jovens: eis outro exemplo de como deveria ser num país mais adulto (infelizmente, mesmo os países desenvolvidos fogem dessa questão indigesta muitas vezes).

Nós parecemos crianças birrentas e mimadas que batem o pé no chão exigindo seus “direitos”, como se os recursos estatais caíssem do céu ou brotassem do solo. Muitos imaginam que basta taxar (ainda) mais os ricos que o problema de financiamento está resolvido, o que demonstra extrema imaturidade ou ignorância sobre economia. Não apreciamos debates sérios, um “papo reto”, e sim fantasias, utopias, uma idealização do estado que não corresponde aos fatos.

E não falo apenas dos culpados mais evidentes, dos partidos da esquerda radical, do PT e do PSOL, das máfias sindicais ou da UNE. Falo de economistas “sérios”, “respeitados”, aqueles que vivem dando entrevistas para jornais ou escrevendo colunas por aí. Muitos deles também gostam de sonhar com um mundo mágico keynesiano em que recursos surgem do além, e a realidade não se impõe. Seus modelos teóricos fajutos suplantam a necessidade de enfrentar os cálculos duros do mundo real.

Cito como um exemplo entre tantos Luiz Carlos Mendonça de Barros, o mesmo que estava bastante otimista com a gestão Dilma, e agora diz, em entrevista ao Estadão, que está feliz com a constatação da equipe de Michel Temer de que não será possível cortar os gastos públicos como gostariam. Mendonção, como é conhecido, aplaude uma redução bem mais lenta e gradual, o que quase nem chega a ser corte de gastos mesmo. Não entende a gravidade das finanças públicas, pois usa um mapa de fundo equivocado, inspirado em uma leitura superficial de Keynes.

Maílson da Nobrega é outro que, apesar de escrever boas colunas na VEJA de vez em quando, mantém um ranço estatizante dos velhos tempos. Nessa coluna mais recente, defende que a volta da CPMF é necessária, ainda que como imposto temporário. Com tudo que o estado já arrecada, com o péssimo uso que faz desses recursos, com a depressão econômica em que o PT nos meteu, com o “Custo Brasil” já na Lua, como alguém pode falar em mais impostos?

Precisamos amadurecer. Precisamos falar sério sobre corte drástico dos gastos públicos, sobre redução para valer no escopo do governo. Precisamos resgatar o respeito às calculadoras, aos fatos, por mais dolorosos que sejam. Precisamos dizer a verdade a todos: não dá mais! A Previdência Social quebrou e vai piorar, afundar de vez o Brasil. As “conquistas trabalhistas” são irreais e prejudicam os trabalhadores mais pobres em demasia. A carga tributária é absurda e complexa, ferrando com os criadores de riqueza em nosso país. O estado é um Leviatã paquidérmico que custa caro demais.

Tudo isso precisa ser dito se quisermos, um dia, virar um país maduro e próspero. A alternativa é viver de sonhos, pregar mais impostos ainda, aplaudir uma “redução” de gastos inexistente, fingir que nosso estado não está falido. A alternativa, portanto, é viver no mundo encantado das crianças, o que vai nos apodrecer de vez.

Rodrigo Constantino

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