
O leitor Aloísio resgatou esse belo trecho de um clássico de Sir Conan Doyle:
Acabo de reler O Cão dos Baskevilles. No cap. 4, lê-se o seguinte diálogo:
— Você tem o Times de ontem, Watson? — Está aqui no canto. — Por favor, pode me dar a página de dentro, com os editoriais? — Ele deu uma olhada rápida por ela, correndo os olhos pelas colunas. — Artigo principal, este, sobre o livre comércio. Permitam que eu leia um trecho dele.
“Vocês podem ser levados a imaginar que o seu próprio ramo especial de comércio ou a sua própria indústria serão estimulados por uma tarifa protecionista, mas é evidente que essa legislação a longo prazo deve manter a riqueza afastada do país, diminuir o valor das nossas importações e piorar as condições gerais de vida nesta ilha.”
— O que acha disso, Watson? — exclamou Holmes com grande alegria, esfregando as mãos com satisfação. — Você não acha que esse é um sentimento admirável?
Voltei: incrível que, mais de um século depois, haja tantos que ainda não tenham aprendido conceito tão elementar, meu caro Rodrigo.
Sem dúvida, meu caro. É elementar como a lógica de Sherlock Holmes, mas ainda ignorado por muitos defensores do protecionismo. Por trás disso, está a visão míope, que foca no resultado imediato apenas, e ignora aquilo que não se vê, como dizia Bastiat, ou seja, os efeitos da medida ao longo do tempo. Sacrifica-se o amanhã para proteger alguns empregos hoje.
O excelente livro citado, que li quando era adolescente, marcou-me por outra lógica elementar, se não me falha a memória: o latido do cão foi fundamental para solucionar o mistério. No caso, o latido que não existiu. O autor nos chama a atenção para a importância do “fato ausente”, ou seja, justamente focar naquilo que tende a ser ignorado por uma análise apressada da coisa.
Aplicando a lógica ao caso do protecionismo, vemos muito barulho de grupos organizados na defesa de seus interesses, dos produtores que têm milhões a perder com a livre concorrência e querem blindar seus mercados com ajuda estatal. O que não vemos é o “latido” dos consumidores. Afinal, ninguém vai se organizar e investir o precioso e escasso tempo para lutar contra preços um pouco maiores pagos por cada produto protegido.
Mas com o somatório de medidas protecionistas, a “ilha” toda acaba mais pobre, e os poucos produtores “amigos do rei” mais ricos. Até mesmo os socialistas sabem isso no fundo. Tanto que culpam o embargo americano pela miséria cubana. Ou seja, se Cuba tivesse mais comércio com os “estadunidenses”, isso seria bom para a ilha caribenha, de acordo com os próprios esquerdistas…
Rodrigo Constantino



