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Em defesa da diplomacia de José Serra: adeus, Foro de São Paulo!
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Meus leitores sabem: não morro de amores por José Serra, talvez o mais esquerdista dos tucanos esquerdistas. Ainda assim, o novo chanceler tem sido alvo de vários ataques na imprensa. Como comprou briga com os bolivarianos, na verdade, defendendo o país dos ataques infundados dessa patota, foi acusado de ter endurecido para chamar a atenção e se destacar na imprensa, de olho em 2018. Pode até ser que Serra esteja pensando nas próximas eleições, mas o que ele fez foi correto: já havia passado da hora de falar mais grosso com os comunistas latino-americanos e seus comparsas.

Alguns jornalistas mencionaram a “diplomacia do porrete”, como se ferisse a tradição brasileira de “neutro”. Errado. O que feriu a nossa tradição diplomática, e que faria Rio Branco se revirar no túmulo, foi justamente o aparelhamento do Itamaraty pelos vermelhos barbudinhos. Marco Aurélio Garcia era a vergonha nacional, o cúmplice de Fidel Castro tomando conta de nossas relações diplomáticas. Sob o PT, como já disse, o Brasil não foi nem rabo de baleia, nem cabeça de sardinha; mas rabo de sardinha, deixando até a Bolívia nos humilhar.

Serra representa uma mudança de postura fundamental nessa área. E é por confrontar com mais rigor os abusos do Foro de São Paulo, que tem recebido polpudos financiamentos nossos, que essa turma está em polvorosa. Eu, pouco diplomático, digo as coisas assim, na lata. Mas o diplomata Marcos Troyjo, bem mais elegante, vai na mesma linha em seu artigo de hoje na Folha, apenas com mais sutileza. Diz:

O novo chanceler brasileiro está realizando uma saudável análise custo-benefício de alguns dogmas da diplomacia brasileira dos últimos treze anos. José Serra mandou levantar o impacto no orçamento do Itamaraty da abertura de dezenas de postos diplomáticos na África e no Caribe.

[…]

O Brasil conta hoje com 226 postos em todo o mundo, número superior ao de Alemanha ou Itália, dois gigantes do comércio. Abrimos nos últimos anos representações em Belmopã, Basse-Terre, Castries, Conacri, Cotonou, Cartum, Gaborone, Malabo, Nouakchott e Uagadugu. Ainda assim, pouco disso se extraiu comercialmente.

[…]

Talvez mais importante do que descobrir quanto tais representações custam para o Brasil seja perguntar o porquê delas terem sido abertas. Isso seguramente revelará a escala de valores aplicada pela gestão diplomática brasileira nos anos Lula-Dilma. Evidenciará também o quanto uma visão de mundo cronológica e ideologicamente inadequada desperdiça energia e foco.

[…]

Os objetivos de tal expansão foram (i) angariar simpatias e votos em organizações multilaterais como ONU e OMC e (ii) traduzir em termos de maior presença física a filosofia diplomática de privilegiar relações “Sul-Sul”. […] Essa ênfase no multilateralismo é bem conhecida. O Brasil gosta de ser um “bom moço” das relações internacionais”. No mais das vezes, sabe o que quer “para o mundo”. Tem dificuldades, no entanto, de construir uma estratégia em termos do que quer “do mundo”.

[…]

Só na superfície, ou no senso comum, agir diplomaticamente é “colocar panos quentes”, “engolir sapos” ou “ficar numa boa com a turma toda”. Às vezes, diplomacia é abandonar meias palavras; deve-se falar e agir no tom mais severo possível. É também fazer escolhas o tempo todo —e optar com quem o país se tornará mais ou menos interdependente.

O Brasil precisa urgentemente focar em seus interesses verdadeiros, procurar com mais pragmatismo e menos ideologia parceiros e acordos que fomentem nosso comércio, deixando de lado essa visão retrógrada dos socialistas do PT. José Serra, apesar de vir da mesma origem utópica, evoluiu com o tempo. Está longe de ser um liberal, mas já não é aquele comunista da UNE. Ganhou juízo, e mesmo que tenha um olho em 2018, buscando holofotes, faz isso atendendo aos interesses nacionais.

É hora de falar mais grosso com o Foro de São Paulo e se aproximar dos Estados Unidos e da Europa. Serra parece preparado e interessado em fazer exatamente isso. Tem o apoio dos liberais e conservadores nessa empreitada, portanto. Basta deixar os jornalistas saudosistas da Guerra Fria falando sozinhos. O choro, afinal, é livre…

Rodrigo Constantino

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