
Muitas pessoas perguntam se já fui esquerdista algum dia. Conforme a velha máxima, quem nunca foi socialista aos 20 não tem coração, quem é socialista aos 40 não tem cérebro. Faltam poucos dias para completar 40 e não poderia ser mais anticomunista do que sou. Mas confesso que nunca tive coração, de acordo com o ditado. É que jamais defendi o esquerdismo, ao contrário de formadores de opinião associados à direita hoje, como Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho.
Entre os vários motivos possíveis, não considero minha suposta falta de sensibilidade, até porque quem me conhece sabe que é justamente o contrário. Logo, a razão deve estar em outro lugar. E uma delas talvez seja o fato de ter um pai empresário, que veio de baixo e conseguiu se tornar sócio de um negócio. Lembro bem de meu professor de história da sétima-série, Guilherme, falando de marxismo e repetindo que todo patrão era explorador. Como assim?
A narrativa não batia com a realidade que eu enxergava. Nas poucas viagens de lazer, pois meu pai sempre trabalhou muito, lembro de vê-lo sempre ligado às notícias brasileiras, antenado e tenso, pois qualquer medida política nova, um plano heterodoxo daqueles, poderia levar à bancarrota seu negócio. E eis o que mais o afligia: a responsabilidade por cerca de 200 funcionários. É um fardo e tanto.
Mas a esquerda insiste até hoje no discurso marxista de que patrão explora empregado. É coisa de quem nunca empreendeu, jamais foi sócio de um negócio de verdade. Contra tal visão tosca, recomendo A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, em que fica claro o papel de compromisso para com os clientes, funcionários e acionistas por parte daqueles empreendedores que merecem nossa estima. Conheço alguns assim na vida real.
Tudo isso veio à minha mente ao ler a triste notícia de que um empresário cometeu suicídio após demitir mais de 200 funcionários:
O dono da empresa de sofás de Rio Claro (SP) que na semana passada demitiu 223 funcionários por conta da crise e queda nas vendas foi encontrado morto na fábrica nesta terça-feira (21). Um funcionário que chegou para trabalhar por volta das 7h encontrou o empresário Luís Antônio Scussolino, de 66 anos, sem vida. A Polícia Civil registrou o caso como suicídio.
A Polícia Militar foi acionada e, quando chegou ao local, encontrou o corpo da vítima com uma corda no pescoço. A perícia técnica constatou que a causa da morte foi quebra do pescoço. O corpo do empresário será sepultado às 10h30 desta quarta-feira (22) no Cemitério Parque das Palmeiras, em Rio Claro.
Depois de mais de 20 anos, a cidade voltou a registrar uma demissão em massa. Na última segunda-feira (13), a Luizzi Estofados demitiu 223 trabalhadores. A empresa informou que, apesar de enfrentar dificuldades por causa da queda nas vendas, manteve o emprego de 870 funcionários.
A empresa afirmou ainda que apresentou uma proposta ao sindicato para evitar as demissões: redução da jornada de trabalho e de 20% nos salários, mas ela foi rejeitada pela maioria dos empregados. Disse também que está calculando o valor das rescisões e se esforçando para pagar.
Coloquem essa morte na conta dos sindicatos, do PT, que destruiu a economia brasileira e ainda faz de tudo para impedir sua recuperação. Quem pensa que empresário só se importa com lucro – parte fundamental de todo negócio até para sua sobrevivência e crescimento – não deve conhecer muitos empresários de verdade. Adota visão caricatural imposta por professores de humanas.
Que esse episódio lamentável ao menos sirva de lição: há muito patrão preocupado com o destino de seus funcionários e seus familiares. Justamente por isso precisam tomar decisões duras, focar no lucro, para poder competir no mercado, investir no negócio, manter seus empregos. A esquerda não entende absolutamente nada do mundo real. Prefere o campo da retórica sensacionalista, no qual transforma empresários em vilões de olho apenas nas vantagens políticas que extrai disso. Quem são os insensíveis?
Rodrigo Constantino



