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Liberdade de expressão no mundo dos militantes organizados e intolerantes
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O caso do texto de Fernanda Torres sobre o feminismo, seguido de um novo texto lamentável de “mea culpa” após a reação histérica e agressiva das feministas raivosas, demonstra bem como vivemos em tempos perigosos para quem deseja simplesmente expressar suas opiniões. A militância organizada está sempre pronta para a patrulha, para intimidar, calar, obrigar retratação pública. No mundo da “diversidade” e da “tolerância”, todos precisam pensar exatamente igual, e quem discordar será linchado publicamente.

Em excelente texto publicado hoje na Folha, Mônica Waldvogel toca no assunto e expõe o ambiente insuportável dessa patrulha. Ela mesma já foi alvo dos ciclistas fanáticos, ou “talibikers”, como diz Reinaldo Azevedo. As “minorias” organizadas que não suportam se sentir “ofendidas” estão criando um mundo não só chato, insuportável até, mas totalitário e sem liberdade de expressão. São os novos moralistas, os “fascistas do bem”, que vão purificar a linguagem dos “hereges” e impor o “politicamente correto” custe o que custar. Diz Mônica:

Pedir desculpas para ativistas é uma escolha entre a grandeza e a autocomiseração. Qualquer que seja o motivo, a intenção é estancar o mais rapidamente possível a enxurrada de insultos e recompor a autoimagem solidária às boas causas. O problema é que não há mea-culpa capaz de expiar o pecado de ignorar o cânone de conceitos e o índex de interditos das militâncias.

O caso é que o pedido de desculpas de Fernanda Torres não foi aceito pelos setores mais duros do feminismo, a quem se dirigia. Fernanda continuou sendo a “mulher-branca-de-classe-média” acusada de blasfemar contra verdades cabais. Não deixa de ser conveniente que uma pessoa pública entre sem aviso nem malícia num debate como esse. Ativistas de qualquer causa estão sempre atentos e bem municiados.

A barafunda de argumentos, ofensas e desqualificações com que atacam é tão avassaladora que a retratação do pecador é inócua. Tornar alguém um saco de pancadas pela maior duração possível é o modo de operar da luta política no século 21.

[…] Sendo a liberdade de expressão a mãe de todas as causas, bom seria se as diferentes topografias da fala fossem levadas em consideração. Por enquanto, ativistas parecem lutar por um direito intangível e inacessível: o de não serem ofendidos pela opinião dos outros. Esse é um mundo impossível. Porque, como alguém disse no Twitter, “se organizar direitinho, todo mundo poderá se ofender”.

Já participei de um painel de debates organizado pelo Instituto Millenium que teve justamente Mônica Waldvogel como mediadora. Os demais palestrantes eram o já citado Reinaldo Azevedo, Marcelo Madureira e Marcelo Tas. O tema era liberdade de expressão e seus limites. Lembro perfeitamente de ter dito que não havia uma linha divisória clara, e sim uma região cinzenta, mas que deveríamos sempre pecar pelo excesso de liberdade, não de censura em nome dos “ofendidos”.

Eis o que essas “minorias” precisam entender de uma vez por todas: ninguém tem o direito de não se sentir ofendido. Isso é simplesmente ridículo! No limite, um petista pode alegar que se sente ofendido quando seu “partido” é atacado nas redes sociais. Um socialista pode dizer que se sente ofendido com os ataques ao socialismo. E por aí vai. Até mesmo um nazista pode ficar de “mimimi” dizendo que é uma ofensa insuportável cuspirem tanto em sua ideologia.

De todas essas “minorias” organizadas, o feminismo talvez seja a mais intolerante. Elas querem porque querem impor ao mundo sua visão tacanha de “luta de classes” dentro do lar, como se homem e mulher não fossem complementares, e sim inimigos mortais, e como se todo homem fosse um estuprador em potencial, e vivêssemos na “cultura do estupro”. É tanta besteira que cansa. Mas o problema é que essas recalcadas conquistam cada vez mais espaço e poder, e conseguem intimidar os demais.

Já deu! Basta dessa intolerância toda em nome da “tolerância”, dessa ditadura do pensamento único em nome da “diversidade”. Essa mania de enxergar apenas grupos em vez de indivíduos é o câncer da modernidade. Serve aos interesses dos coletivistas organizados, mas acabará matando nossas liberdades, a começar pela liberdade de expressão.

Rodrigo Constantino

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