
Todos lembram da celeuma em torno do tetraplégico que daria o chute inicial na Copa do Brasil. Milhões foram gastos nas pesquisas e na divulgação, e seria um feito e tanto da medicina e da ciência, aguardado por milhões de espectadores. Mas tudo não passou de um constrangedor momento sem brilho, apagado, no canto do estádio, ao custo de R$ 33 milhões do “contribuinte”.
Por trás do espetáculo, estava o neurocientista Miguel Nicolelis. Ele tem despertado a revolta da comunidade científica ao conseguir verbas de pesquisa muito acima dos seus pares, montantes que chegam a representar metade do custo total das verbas para pesquisa do CNPq. É o que mostra uma reportagem na Veja desta semana, de Leonardo Coutinho.
Uma ONG comandada por Nicolelis arrancou do Ministério da Educação quase R$ 250 milhões com o objetivo de construir e equipar um centro de pesquisas no Rio Grande do Norte. O montante representa mais de um terço do que custou o fenomenal robô que pousou em um cometa há um mês e espantou o mundo. Coutinho conclui:
Uma das marcas registradas do lulopetismo é justamente esse favorecimento dos “amigos do rei”, em detrimento ao mérito objetivo. Uma postura típica do tribalismo ou das máfias, que ajudam os seus independentemente dos resultados obtidos. Clientelismo e patrimonialismo são os termos técnicos que definem esses privilégios indevidos, em contraponto à meritocracia do livre mercado.
Nesse ambiente, mais vale ser um cientista bem relacionado, com as amizades certas, do que produzir mais resultados, ter textos mais citados nas revistas especializadas, etc. Nicolelis, nesse sentido, poderia ser visto como um “cientista do PT”, nos moldes dos já conhecidos “empresários do PT”.
Malu Gaspar, em Tudo ou nada, o livro-reportagem sobre a história do grupo X de Eike Batista, mostra como o empresário ficou obcecado com essa ideia de ser um dos “empresários do PT”, pois sabia como isso poderia lhe ajudar. Conseguiu, foi agraciado com bilhões subsidiados do BNDES, licenças mais rápidas e outros “favores”, em perfeita simbiose com o governo.
Mas Eike, como mostra Malu, também abandonou o conceito objetivo do mérito em seu conglomerado, para se cercar cada vez mais de bajuladores, de gente que o encantava por motivos banais que nada tinham a ver com o talento e o resultado nas empresas. O excêntrico chefe foi eliminando os melhores funcionários e dando mais e mais poder aos seus “camaradas”.
Agiu como um típico petista, enfim. Inclusive chegou a colocar numa diretoria um ex-funcionário público ligado ao PT, amigo de Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras que foi preso e fez acordo de delação premiada para entregar o esquema de corrupção na estatal. Deu no que deu: o grupo X veio à lona. É o que se espera quando o mérito é substituído pelo tribalismo.
Rodrigo Constantino




