Volto ao tema da guerra em Gaza, pois noto o crescente antissemitismo tomando conta de nossa imprensa e das redes sociais, e também porque Reinaldo Azevedo escreveu uma coluna perfeita na Folha hoje sobre o assunto. Diz ele:
O Hamas tem dois grandes aliados: um número maior de mortos e o ódio covarde a Israel. É um ódio dissimulado, sem coragem de dizer seu nome, que usa os corpos de mulheres e crianças como escudo moral, mas que mal esconde sua natureza. […]
Israel hesitou bastante em fazer a incursão terrestre a Gaza. Seriam muitos os mortos, dadas as características demográficas da região e a forma como o Hamas se organiza. Adicionalmente, tinha-se como certa a perda de soldados. O óbvio está se cumprindo. Há quantos anos o mundo assiste impassível à conversão de Gaza numa base de lançamento de mísseis? Quantas foram as advertências ignoradas pelo Hamas? Como reagiu a organização terrorista ao assassinato de três adolescentes judeus? Justificou a ação criminosa, aplaudiu-a e chamou o inimigo para a guerra, esgueirando-se, armada até os dentes, entre mulheres e crianças, cujo sangue fertiliza seus delírios homicidas.
Há, sim, entes genocidas naquela região. E não é Israel. Um deles é o Hamas. É moral e intelectualmente delinquente ignorar o conteúdo do seu estatuto (is.gd/MUIyvh). Está lá: “Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer”. Ou ainda (Artigo 13): “As iniciativas [de paz], as assim chamadas soluções pacíficas e conferências internacionais para resolver o problema palestino, se acham em contradição com os princípios do Movimento de Resistência Islâmica, pois ceder uma parte da Palestina é negligenciar parte da fé islâmica”. Tudo claro. Dilma Rousseff só não lê porque Dilma Rousseff não lê.
É muito fácil identificar um antissemita, ainda que tente se disfarçar sob o manto do repúdio ao “massacre” de crianças e inocentes – como se não fosse o Hamas o responsável por tal massacre. Basta observar a seletividade de sua revolta. Basta reparar como sua baba de raiva contra “opressores” e sua “compaixão” infinita por crianças inocentes surgem apenas quando é para condenar Israel ou os Estados Unidos.
O porta-voz do Hamas foi à televisão se vangloriar de seus escudos humanos, mas ninguém emitiu uma palavra de repúdio a esta postura abjeta. Pelo contrário: alguns questionam se há mesmo o uso de crianças como escudo humano, e outros, que tentam ser menos patéticos um pouco, alegam que a culpa disso é de Israel, que teria deixado os povos “ocupados” sem alternativa (hum, quer dizer que para a turma dos “direitos humanos” usar crianças como escudo pode ser uma opção?).
Vejam o que disse Hillel Neuer, o diretor da ong UN Watch, na Sessão de Emergência da ONU recentemente:
httpv://youtu.be/A1L5LzQmGzU
Reparem como os grandes “humanistas” de países como Egito, Irã e Cuba tentam impedir sua fala. Eis sua mensagem, ignorando as tentativas de interrupção:
Se no ano passado vocês não se manifestaram quando milhares de manifestantes foram mortos e feridos por Turquia, Egito e Líbia; quando mais do que nunca pessoas foram enforcadas pelo Irã; mulheres e crianças no Afeganistão foram bombardeadas; comunidades inteiras foram massacradas no Sudão do Sul; centenas no Paquistão foram mortas por ataques terroristas de jihadistas; 10.000 iraquianos foram executados por terroristas… se vocês se recusam a falar pelos 1.800 palestinos, se não mais, que morreram de fome, assassinados por Assad na Síria, e só se manifestam quando Israel pode ser culpado, então vocês não são pró-direitos humanos, vocês são apenas anti-Israel.
Acusação irrefutável. Onde estavam todos esses “humanistas” hoje revoltados com Israel, destilando seu ódio, ainda que dissimulado, nas páginas dos jornais e blogs do país? A todos aqueles que falam em “uso de força desproporcional”, o que achariam se Israel lançasse milhares de foguetes a esmo em Gaza, em vez de arriscar a vida de seus soldados em operações terrestres para tentar destruir os túneis que os terroristas do Hamas usam para atacar sua população? Ficariam satisfeitos se houvesse mais mil mortos israelenses? É isso que chamariam de “proporcionalidade”?
O que todos deveriam se perguntar é o motivo pelo qual só vemos imagens chocantes de crianças palestinas mortas, e nunca os terroristas do Hamas bem ao lado delas. Por que? Aqui há uma resposta:
Um jornalista espanhol que cobre o conflito em Gaza explicou ao cineasta israelense Michael Grynszpan a razão pela qual as televisões não transmitem imagens de combatentes do Hamas: os jornalistas são ameaçados de execução imediata.
Grynszpan postou em sua página no Facebook: “Encontrei-me hoje com um jornalista espanhol que acabou de voltar de Gaza. Nós conversamos sobre a situação. Perguntei-lhe por que nunca vemos na TV qualquer pessoa do Hamas, atiradores, lançadores de foguetes, policiais. Vemos apenas civis, a maioria mulheres e crianças”.
“Ele me respondeu com franqueza”, prossegue Grynszpan: “É muito simples, nós vimos militantes do Hamas que lançam foguetes, estavam perto do nosso hotel. Mas se ousássemos apontar nossa câmera para eles, eles simplesmente atiraram em nós e nos matariam”.
O jornalista italiano Gabriele Barbati também conta sobre a retaliação do Hamas.
Dá para confiar no que a imprensa tem divulgado, de forma tão seletiva? Dá para levar a sério a indignação humanitária daqueles que se calam diante dos massacres praticados pelos próprios islâmicos, ou pelos socialistas cubanos? É tudo muito seletivo. É tudo muito hipócrita.
Rodrigo Constantino
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