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Os “isentões”: Mentor Neto usa Chomsky para atacar Bolsonaro
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Preferia manter minha ignorância acerca de Mentor Neto, que não conhecia até outro dia, quando soube por terceiros que ele mirava na quantidade de curtidas das minhas colunas na IstoÉ, da qual também é colunista. Sei que alguns leitores meus vão reclamar que estou dando holofote para o sujeito, que tem fama de “apreciar” tanto um debate a ponto de bloquear qualquer crítica em sua página. Mas vamos lá mesmo assim, pois seu último “textão” é perfeito para demonstrar o fenômeno do “isentão”, que pulula pelas redes sociais.

Recapitulando (e esse será o assunto da minha coluna na revista esta semana): os esquerdistas ficaram meio órfãos após o completo fracasso do PT, e precisam de alguma forma salvar o esquerdismo do PT. Para tanto, aceitam “até” fazer críticas ao PT, vejam só!, desde que seguidas de um “mas” que acaba colocando a direita como alvo central. O sujeito critica o petismo, mas em sua “crítica”, o que emerge mesmo é um duro ataque à direita. Sempre.

Foi exatamente o que fez Mentor Neto nesse “textão”. Atenção: ele usou como instrumento para seu ataque, tanto à “esquerda” como à “direita”, ninguém menos do que Noam Chomsky, o linguista mais conhecido como militante socialista, o mesmo que diz viver na mais cruel ditadura do mundo, os Estados Unidos, enquanto defende Cuba e Venezuela (e no Brasil, Heloísa Helena do PSOL). Sério! Mentor foi buscar nesse farsante, nesse embusteiro que só encanta idiotas úteis no Fórum Social Mundial, seus “argumentos” para bater em todos os “radicais”, sendo que sobrou mesmo para Bolsonaro.

Escancarando a tática de um “isentão”: primeiro, ele bate em todos os “extremos”, demonstrando uma “imparcialidade” ímpar, uma “maturidade” incrível. Vejam:

O que gostaria de discutir é o perigo do discurso raivoso e polarizado instituído no Brasil atual. O discurso do Foi Golpe, Sai Dilma, Fora Temer, Volta Dilma etc. E que se dane o pensamento moderado.

Reparem que o “sai Dilma” já é colocado no mesmo nível do “foi golpe”, como se fossem equivalentes. O “isentão” já está jogando cascas de banana para o desavisado, que, sem perceber, passa a identificar a demanda legítima da maioria da população para apear do poder a incompetente “presidenta”, que destruiu o país, como equivalente aos gritos ensaiados de “Fora Temer” e “foi Golpe”, por meia dúzia de gatos pingados bancados pelos sindicatos ou apavorados com a perda das boquinhas estatais.

Mas ele continua, e puxa da cartola o comuna americano, como uma figura “isenta”:

Segue Noam Chomsky:

Esses dois grupos costumam se considerar responsáveis por conduzir os destinos das massas (na ironia do historiador, “ignorantes e estúpidas”). Ainda segundo Chomsky, apesar de não parecer, esses dois grupos são muito semelhantes em suas intenções. A diferença está apenas em onde se imagina que o poder deva repousar. Em suas palavras:

“Se você acha que é necessária uma revolução popular, você empodera o Estado Socialista e depois desce o sarrafo na massa. Você é um leninista. Se, ao contrário, você acha que o poder reside nas instituições privadas, você empodera um Estado Tecnocrata e você é um capitalista. Mas basicamente, as posições dos dois grupos que se julgam capazes de reger o destino das massas é semelhante.”

O uso de fonte tão “imparcial” começa a render frutos na hora dos exemplos, também nada “parciais”:

Foi assim em 64 no Brasil, foi assim no Macartismo americano, para citar apenas dois exemplos. A utilização destes medos ocorrem sistemática e oportunisticamente, nos períodos de crise ou guerra. Períodos em que a população está predisposta a buscar alternativas de futuro.

A máscara já caiu faz tempo para alguém mais atento. Mas calma que tem mais! O “isentão” precisa, claro, atacar o atual governo Temer, já que esse é o primeiro alvo real:

Chomsky continua: “… esses novos expoentes precisam ser contidos. A Democracia se faz de pequenos grupos no poder. Só quem não entende a sofisticação do processo Democrático é que pode imaginar que estas novas ideias serão bem recebidas.”

Está aí o Senado votando os limites da liberdade do Judiciário, ou o Governo Temer disseminando o medo e militarizando a Abin. E assim, o medo criado em laboratório adere facilmente.

Usar Chomsky e democracia na mesma frase como se fossem parceiros é realmente de lascar! Posso até pensar que Mentor Neto é apenas ignorante, mas algo me diz que ele tem uma vaga ideia de quem seja Chomsky (se não tem, deveria pesquisar um pouco mais antes de usá-lo para um “textão” todo). Chomsky, como já disse, considera a democracia americana, aquela firme e forte há mais de dois séculos, como a pior tirania do planeta, pois velada, enquanto elogia a “democracia” venezuelana. Eis a fonte do “isentão” falando sobre o “golpe” em curso no Brasil:

Mas vamos concluir logo, pois quero voltar a simplesmente ignorar o “isentão” depois, e que ele fique olhando a quantidade de minhas curtidas lá de trás sozinho. Ele chega ao segundo e principal alvo de seu enorme texto “imparcial”, aquele que começou “até” criticando o PT. E o alvo é Bolsonaro:

O que é o conservadorismo de Bolsonaro, senão exatamente o processo de criação e contaminação deste risco à Democracia que estaríamos sujeitos sem nos dar conta? O arquétipo que Bolsonaro e a volta dos militares representa esse poder “moderador”, capaz de se certificar que não corremos o risco de incorrer num “excesso de democracia”.

Vamos evitar esse “Fla x Flu”, dizem os “isentões”. Vamos tomar muito cuidado com essa direita conservadora que vem crescendo, e também com os petistas do “foi golpe”. Em nome da imparcialidade e da moderação, vamos de Chomsky e PSOL mesmo, que ninguém é de ferro!

Assim como Chomsky jamais deveria ter saído do foco linguístico para falar de política, Mentor Neto deveria continuar fazendo crônicas engraçadinhas da vida privada ou de esportes, mas evitar ao máximo o tema político. O problema é que essa gente usa o reconhecimento obtido naquelas áreas justamente para vender ideologia política nefasta aos desavisados. E isso eu não posso permitir, ao menos não sem reagir expondo toda a farsa.

Rodrigo Constantino

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