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Pedido a Paulo Rabello de Castro: lembre-se do seu próprio livro!
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Paulo Rabello de Castro é o novo presidente do BNDES, no lugar de Maria Silva Bastos, criticada por grandes grupos empresariais por segurar demais o crédito subsidiado. O economista é liberal, respeitado pelo mercado, e também por mim. Já estive com ele várias vezes, já palestramos juntos, e tento aprender com sua experiência e sabedoria.

Como aquela presente em seu mais recente livro, O mito do governo grátis. Nele, Rabello de Castro usa a famosa frase do economista liberal Milton Friedman, da Universidade de Chicago, para lembrar que não podemos esperar do governo soluções milagrosas, pois tudo o que ele “dá” ele precisa antes tirar.

É essa mensagem que eu gostaria de ver estampada em cada decisão sua no BNDES. Em entrevista ao Estadão, Paulo parece manter viva esta lembrança, ao frisar que banqueiro tem que ter fama de duro mesmo, mas não será nada fácil conciliar essa postura com sua missão, segundo ele mesmo: “reanimar setor produtivo brasileiro”, em especial as indústrias:

O novo presidente do BNDES se disse disposto a encarar “desafios espinhosos”, como é o caso do crédito no Brasil. “Tenho a missão de reanimar o setor produtivo brasileiro, leia-se industrial principalmente. É uma missão dura, mas grandiosa”, afirmou. Segundo Rabello de Castro, o setor industrial merece maior atenção uma vez que o setor agrícola “está bem cuidado por seu próprio desempenho e estímulo de preços”.

O economista, que até hoje presidiu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), lembrou que fundou e atuou até o ano passado como diretor-presidente da SR Rating, classificadora de risco, o que lhe confere experiência na área. “Mais rigoroso que eu num olhar sobre crédito, impossível”, disse.

Nos últimos meses, Maria Silvia tornara-se alvo de críticas de empresários e de integrantes do próprio governo por ter “travado o crédito”. A maior pressão, como mostrou o Broadcast, partia do ministro Moreira Franco, responsável pelo Programa de Parcerias de Investimento, que abrange concessões, privatizações e Parcerias Público-Privadas. Sem financiamento, o programa não deslancha.

“Nenhum banqueiro pode ser criticado por ser rigoroso. Se essa crítica pesava sobre Maria Silvia, ela está de parabéns”, disse hoje Rabello de Castro.

Mas uma coisa é tocar uma empresa de rating, e outra, bem diferente, é se sentar no comando de um gigantesco banco estatal onde os maiores grupos batem à porta em busca de subsídios, de empréstimos com taxas abaixo até mesmo da inflação. Resistir a esse lobby é o grande desafio, e por isso a simples existência do instrumento é perigosa, e normalmente condenada pelos liberais.

Como “reanimar a indústria brasileira”, se as causas de sua fraqueza são estruturais? O “custo Brasil” explica boa parte do problema, além da conjuntura em frangalhos pelas trapalhadas petistas e pela crise política. Carga tributária alta, burocracia, mão de obra pouco qualificada, protecionismo, leis trabalhistas obsoletas, infraestrutura capenga, insegurança jurídica e física: essas são as origens do problema.

Compensar isso com crédito subsidiado é inócuo e um perigo, pois fomenta a corrupção, como os casos da JBS e Eike Batista atestam. Já ouvi do próprio Paulo em palestra que um dos maiores problemas do Brasil é a estatização da poupança. Concordo, e basta ver como o Chile deslanchou com a privatização da Previdência. Paulo, agora, controla justamente o maior banco público para direcionar essa “poupança” estatal. Uma posição no mínimo conflitante para um liberal.

Mas claro que é melhor que seja ele, e não um nacional-desenvolvimentista como Luciano Coutinho, que, ao focar na seleção dos “campeões nacionais”, ferrou de vez com nossa economia, e estimulou esses casos todos de corrupção. Ainda assim será difícil. A verdadeira missão de Paulo no BNDES deveria ser lembrar do que ele mesmo escreveu, do que os liberais sabem, de que a melhor forma de o governo ajudar é saindo da frente. Boa sorte, meu caro!

Rodrigo Constantino

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