
Já tomou seu Prozac hoje?O jornal Valor Econômico publicou hoje um longo texto assinado por Lula, com uma visão um tanto deturpada de nossa economia, digna de alguém que tivesse acabado de consumir Prozac – ou quisesse vender um peixe exagerado de olho nas eleições.
O país de Lula não é o mesmo que o meu. O dele tem um céu de brigadeiro acima de nossas cabeças. O meu está mais para uma espada de Dâmocles apontada em nossas direções. Lula joga a lanterna na popa e olha para o passado, ignorando os fatores exógenos que explicam a fase da bonança – já distante de nossa realidade atual. Diz ele:
Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. Hoje somos grandes produtores de automóveis, máquinas agrícolas, celulose, alumínio, aviões; líderes mundiais em carnes, soja, café, açúcar, laranja e etanol.
Tudo isso é história, e se deveu muito mais ao crescimento chinês e ao custo de capital negativo em termos reais nos países desenvolvidos do que a qualquer mérito de seu próprio governo. O agronegócio, por exemplo, principal locomotiva desse crescimento, viveu uma grande expansão a despeito do governo do PT, não por causa dele. Mas Lula insiste em falsos créditos:
Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB.
A inflação foi derrotada pelo Plano Real que o PT foi contra. Os governos petistas, na verdade, permitiram o ressurgimento de uma elevada taxa de inflação em momento em que vários países emergentes derrotaram o dragão. Nossa taxa de inflação, mesmo marretada com o auxílio de preços congelados, tem ficado em 6% ao ano por muito tempo, bem acima da meta de 4,5%, que já é elevada para padrões internacionais.
A economia, não obstante, praticamente já parou de crescer, e a dívida bruta, sem malabarismos do BNDES, aumentou bem. Mas a propaganda precisa continuar:
Colocamos os mais pobres no centro das políticas econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade. Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média.
Quem cria empregos é a iniciativa privada, não o governo. Empregos foram criados pelo contexto internacional, e estão em perigo hoje justamente pelas trapalhadas do governo. Não houve ganho de produtividade em nossa economia, o que torna os aumentos de salários insustentáveis. O que Lula chama de classe média inclui moradores de favelas que ganham dois salários mínimos. É o crescimento do espetáculo, em vez de o espetáculo do crescimento por ele prometido no passado. Mas Lula pergunta:
Quantos países conseguiram tanto, em tão pouco tempo, com democracia plena e instituições estáveis?
Ora, em termos relativos aos seus respectivos tamanhos, vários! Basta ver a Aliança do Pacífico, formada pelo México, Colômbia, Peru e Chile. São países que experimentam um crescimento bem mais acelerado, com inflação bem mais baixa, e instituições democráticas mais estáveis. Isso para não falar dos países asiáticos…
Lula, porém, prefere tomar toda crítica como fruto da inveja ou dos interesses ameaçados. Até o FMI seria parte dessa conspiração contra nosso incrível sucesso sob o PT:
A novidade é que o Brasil deixou de ser um país vulnerável e tornou-se um competidor global. E isso incomoda; contraria interesses. Não é por outra razão que as contas do país e as ações do governo tornaram-se objeto de avaliações cada vez mais rigorosas e, em certos casos, claramente especulativas. Mas um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas.
Aprende uma ova! O PT insiste nos malabarismos contábeis que não enganam mais ninguém, e esse artigo mesmo, assinado por Lula, é prova inequívoca de que o PT não aprendeu nada, pois acredita ser possível manter o show de mentiras só no gogó, deixando de lado as mudanças necessárias nos rumos atuais. Lula diz:
A dívida pública bruta, por exemplo, ganhou relevância nessas análises. Mas em quantos países a dívida bruta se mantém estável em relação ao PIB, com perfil adequado de vencimentos, como ocorre no Brasil? Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2,58%, o melhor desempenho entre as grandes economias. E o governo da presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar o esforço fiscal necessário para manter a trajetória de redução da dívida em 2014.
A dívida bruta aumentou, extraindo-se as malandragens, e isso mesmo em uma época de bonança externa sem igual, o que é deveras preocupante. O superávit fiscal, que o PT sempre combatera, foi praticamente rasgado pela presidente Dilma, que promete esse ano uma meta de 1,9%, mas que os investidores ainda não conseguem acreditar – mesmo sendo o patamar mais baixo desde que o PT assumiu o governo. E por falar em dívida:
O Brasil tem um sistema financeiro sólido e expandiu a oferta de crédito com medidas prudenciais para ampliar a segurança dos empréstimos e o universo de tomadores. Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência?
Ora, todos aqueles que criaram bolhas de crédito, antes de elas estourarem! O crédito aumentou muito, com afirma o ex-presidente, sem lastro em aumento de poupança doméstica, ou seja, não é sustentável. Os bancos públicos foram os grandes responsáveis por este aumento, com decisões políticas e eleitorais, em vez de econômicas. A inadimplência ainda não subiu, pois o nível de emprego está firme. E quando isso mudar?
As falácias continuam. Até a educação foi elogiada por Lula, como se grandes mudanças positivas tivessem ocorrido neste fundamental setor. O tom ufanista e partidário vem com tudo na conclusão:
Recentemente estive com investidores globais no Conselho das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era – uma era de oportunidades. Quem continuar acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer junto com o nosso país.
Não se trata de pessimismo, muito menos de interesses partidários; trata-se de realismo, e de interesse nacional. Lula está convencido da empolgação dos investidores estrangeiros com nosso quadro econômico. Os fatos dizem algo bem diferente. As ações em bolsa só fazem cair, e o Ibovespa já está abaixo dos 47 mil pontos. O mercado de IPO (novas emissões de ações) secou. As agências de risco colocam o Brasil em xeque. Os investidores se mostram desconfortáveis com o excesso de intervenção na economia e com os truques baratos para maquiar as contas públicas.
O ex-presidente Lula, falando em nome do PT e também do governo Dilma – pois todos sabem de sua influência nele – demonstra que novamente os interesses partidários serão colocados acima dos interesses nacionais. O que o Brasil precisa, mais do que nunca, é de um estadista com a coragem de colocar o dedo nas feridas e reconhecer os defeitos do modelo econômico dos últimos anos.
Essa peça de propaganda eleitoral é o contrário disso. É mais do mesmo. É, como tantos investidores temem, a indicação de que o PT está pronto para “dobrar a aposta” em vez de alterar o equivocado pano de fundo nacional-desenvolvimentista que utiliza atualmente. Dessa forma, o Brasil continuará sendo um país de poucas oportunidades.
Rodrigo Constantino



