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Quais são as famílias mais ricas de Florença hoje? As mesmas de 600 anos atrás.

Foi publicado recentemente um estudo conduzido por dois economistas italianos, Guglielmo Barone e Sauro Mocetti sobre a mobilidade social na cidade de Florença. A cidade berço do Renascimento oferece uma ótima oportunidade para esse tipo de estudo, pois existem registros confiáveis sobre a renda e patrimônios dos seus habitantes desde 1427, quando o governo da cidade-estado conduziu um censo fiscal com o objetivo de aumentar a arrecadação para fazer frente as despesas geradas pela guerra em curso contra Milão. Dessa forma foram produzidos dados detalhados sobre os 10 mil chefes de família da época.

Dos sobrenomes existentes naquela época, 900 ainda estão presentes entre 52 mil pagadores de impostos atuais, dos 350 mil habitantes. Como os sobrenomes italianos são bem dispersos e regionais, existe uma quase certeza sobre a descendência dos atuais cidadãos das famílias originais.

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O que os pesquisadores encontraram é uma forte correlação entre a posição socioeconômica da época com a posição dos seus descendentes passados mais de 600 anos! O mais impressionante é que Florença passou por incontáveis guerras e mudanças políticas significativas nesses anos todos.

O estudo confirma o trabalho apresentado no livro “The Son Also Rises”, do economista Gregory Clark.

Baseando-se também no estudo de sobrenomes, e com base num conjunto de dados impressionante, Clark afirma que se os seus pais carregam um status socioeconômico maior, o seu próprio status tenderá também a ser alto. Já no caso de você ter uma origem mais humilde, a influência estatística persiste para você manter um status mais baixo, porém com menor intensidade. Em outras palavras, uma origem “nobre” pode ajudar mais do que uma origem “menos nobre” atrapalhar.

O autor apresenta diversas fontes, como por exemplo o fato de descendentes de samurais japoneses apresentarem um nível de renda muito acima da média nos dias de hoje. Descendentes de cientistas e aristocratas ingleses seguem o mesmo padrão.

E antes que você chegue a conclusão que tais estudos provam a tese do Thomas Piketty, o badalado neomarxista que sugere o aumento da desigualdade ao longo do tempo, esse não é o caso. Os estudos apresentados aqui tratam de mobilidade social ou falta dela. Não em aumento da desigualdade, até porque no estudos dos economistas italianos, os sobrenomes mais abastados seguem aproximadamente no mesmo patamar na pirâmide social. Em outras palavras, a desigualdade não aumentou, ela se manteve, o que na verdade contraria a tese de Piketty.

Além disso, o professor Clark demonstra que mesmo em países onde ocorreu uma revolução comunista como na China, há uma persistência socioeconômica dos sobrenomes. Ou seja, há uma grande chance de você encontrar o descendente de um rico capitalista pré-revolução, considerado pelos marxistas um inimigo de classe, em algum cargo de poder dentro do partido comunista hoje!

Mesmo em sociedades que apresentam um maior nível de mobilidade, como a sueca, o autor demonstra que isso sugere a maior capacidade de alguém conseguir evoluir das classes mais baixas para as mais altas e não significa que o contrário seja verdadeiro. Os descendentes da nobreza e da aristocracia sueca do século XVII seguem com renda e patrimônio muito superiores a média da população.

Para explicar o fenômeno, Clark desenvolveu o conceito de “competência social.” Ele não sugere uma qualidade que é diretamente observável; em vez disso, pode ser pensado como a unidade de genes, valores, vantagem material e o talento para selecionar um companheiro que tem a mesma competência social que você tem. Seu marcador seria o sobrenome.

A vantagem material seria o que os economistas italianos chamaram de piso de vidro, ou seja, uma certa base material que daria melhores condições de você alcançar o sucesso profissional, mas que não o garante. E no caso de decisões equivocadas, o piso de vidro não evitará a queda do ponto de vista social. Os genes envolvem a transmissão da inteligência para os descendentes, que obviamente não garante um nível de renda maior, mas aumentam as chances de obtê-la.

Na minha opinião pessoal, o fator mais importante de todos são os valores desenvolvidos e que são transmitidos de geração para geração. Por exemplo, a crença na importância do trabalho, em desenvolver valores morais mais elevados, em estudar, investir os recursos corretamente, buscar o crescimento profissional, tomar riscos calculados. O aspecto positivo é que tal postura pode ser adquirida. Talvez seja mais fácil para alguém que recebe tais valores no seio da família, mas isso não impede que aqueles que não tenham essa vantagem não possam tirar o atraso através do esforço individual para desenvolvê-los.

Acredito muito mais nisso do que na capacidade de qualquer política pública aumentar a mobilidade social.

Texto de Leandro Ruschel.

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