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Escravidão e liberalismo? Que tremenda confusão!
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Dedicado a todos aqueles indivíduos de carne e osso que não agüentam mais essa elite que fala em seu nome, mas não liga de verdade para o que acontece em suas vidas.

Um “manifestante” que não deveria ser preso, segundo o juiz

Hoje o GLOBO publicou um artigo em resposta ao meu texto sobre a esquerda caviar e Amarildo. É assinado por João Batista Damasceno, juiz de Direito. Faz graves acusações ao liberalismo, e por isso merece resposta. Não posso deixar passar em branco tanta desinformação. Vamos lá, então. Ele em vermelho, eu em azul.

O artigo “A esquerda caviar não liga para Amarildo”, de Rodrigo Constantino, requentado e publicado no GLOBO, criticou o jantar beneficente realizado na casa da produtora Paula Lavigne, onde se arrecadou dinheiro para a aquisição de uma casa para a família de Amarildo. Foi dito que Amarildo é apenas um símbolo e se reclamou da falta de solidariedade aos policiais mortos em combate. Não se falou daqueles que ordenam a política de segurança militarizada e que pouco se importam se quem morre é policial, trabalhador ou traficante. A tônica do artigo foi o ataque a Paula, do grupo Procure Saber.

A tônica do artigo foi mostrar que a elite de esquerda adora usar mascotes, símbolos, para pregar sua ideologia, sem se importar, de fato, com os pobres de carne e osso. Mostrei que 80% do valor arrecadado em tal jantar foi parar na conta do advogado amigo da turma. E também deixei claro que esse pessoal jamais se organizou para demonstrar a mesma solidariedade aos policiais que morrem em combate com bandidos. Preferem sempre tomar o partido dos bandidos. 

O jantar arrecadou recursos para a aquisição da casa e o custeio de pesquisa sobre os desaparecidos. Ano passado foram 5.900. O liberal que critica a liberdade de destinação de recursos próprios nega o próprio liberalismo. Amarildo é um símbolo da violência do Estado contra os excluídos. É a expressão da política implantada nas áreas militarizadas. E tem nome. Dos outros, pouco sabemos e queremos saber. Foi a mídia alternativa e parte da sociedade civil que impediram fosse Amarildo contabilizado como número, como os demais.

O liberal não critica, de forma alguma, a liberdade de destinação de recursos próprios. Apenas esfrega na cara da esquerda caviar sua hipocrisia. São livres para gastar como bem entenderem os seus recursos (quando envolve verba pública, que eles adoram, a coisa muda de figura). Podem comprar luxuosos apartamentos em Paris enquanto defendem Cuba. Podem morar em coberturas no Leblon enquanto enaltecem as favelas. O que não podem é impedir os demais que falem dessa hipocrisia. Até tentam censurar as coisas, mas não podem.

No mais, Amarildo foi contabilizado como mais um, sua família em breve estará esquecida para a esquerda caviar, mas o nome permanece, apenas como símbolo contra a polícia e o “sistema”. Como já disse, amam a Humanidade, mas não ligam para o próximo. 

Quem participou do jantar não defende a quebra de vitrines de bancos, nem qualquer destruição. Mas também não pede prisões. Menos ainda porque os dirigentes dos bancos não pediram ao Estado a defesa dos seus vidros. A apuração do crime de dano se faz com o pedido do prejudicado e o liberalismo, por princípio, não há de pretender a tutela do Estado quando não reclamada.

Será mesmo que não defendem a quebradeira e os crimes dos mascarados? Então por que Caetano Veloso se vestiu como um deles? Não ficou clara a mensagem. Era ou não um apoio ao que representam e fazem? Se alguém vestir uma suástica, não estará endossando o nazismo? Outra coisa: não pedem as prisões desses criminosos? E querem combatê-los como? Com rosas? Viram as cenas do coronel apanhando? Acham que podem queimar carros e depredar lojas? Não defendem a prisão de quem pratica crime? Muito estranha essa postura, não é mesmo? Os liberais preferem colocar bandidos na cadeia e defender o império das leis… 

Caetano Veloso de Black Bloc

O chavão anticomunista, do tempo da Guerra Fria, que desorientou o artigo situa os participantes do jantar do “lado errado na batalha das ideias”, porque dele também participou quem defende os direitos à intimidade, à imagem e os decorrentes da personalidade.

Chavão anticomunista? Que culpa tenho eu se alguns parecem ainda não ter aceitado que a Guerra Fria acabou e o comunismo, felizmente, perdeu? Se falam em socialismo até hoje, se defendem até mesmo a ditadura cubana, a culpa é do liberal que condena os comunistas? Vai entender!  

O liberalismo dos que concebem a existência de uma “verdade” escorrega no totalitarismo. O mercado editorial fala em liberdade, mas o que pretende é a apropriação da imagem e história de vida de pessoas notáveis, subtraindo do biografado o direito de uso da obra sobre ele. Trata-se de caso exemplar de transformação de pessoa em objeto ou mercadoria, sem o seu consentimento, com exclusão da possibilidade de uso da obra pelo próprio biografado a pretexto de propriedade imaterial do autor.

Liberalismo e totalitarismo são como água e óleo: não se misturam. Não faz o menor sentido acusar o liberalismo de ser totalitário, se ele sempre condenou todas as formas de totalitarismo. Será que o juiz pensa que Cuba é liberal? Ou a Coreia do Norte? Alguém tem que lhe explicar que são modelos socialistas, não liberais. Este sempre pregou a pluralidade e a tolerância, a democracia e o estado de direito.

Já sobre as biografias, o texto saiu um pouco defasado. Até os artistas estão voltando um pouco atrás, pois viram que perderam essa batalha. Não tem nada disso de transformar pessoa em objeto ou mercadoria. Quer dizer que JFK foi transformado em mercadoria só porque milhares de biografias foram escritas sobre ele? Que besteira! O público tem vontade e interesse de conhecer mais sobre figuras públicas, que mal ou bem influenciaram e marcaram o mundo.

Desde quando agride a propriedade do autor falar ou escrever sobre ele? O que fica claro que é que alguns querem defender de forma gananciosa apenas uma forma de lucrar ainda mais, só porque falam deles. Isso não faz nenhum sentido. Vamos ter que pagar aos familiares de ditadores toda vez que escrevermos um livro sobre eles? Loucura total. E materialismo exacerbado de quem se diz igualitário, não é mesmo? 

Temos precedente no Brasil! O liberalismo conseguiu fazer conviver no Brasil o discurso liberal e a escravidão. O romantismo dos discursos destoava da realidade da qual se falava. Todas as rebeliões dos liberais no Brasil visaram a não pagar imposto e nenhuma teve por fundamento a liberdade. Os liberais no século XIX usaram e abusaram do discurso sobre a liberdade, justificando suas condutas de transformar pessoas em mercadoria. No presente momento, os liberais defendem a apropriação de bens imateriais alheios, dentre os quais os decorrentes da personalidade, e para os que nada têm para ser apropriado a sujeição à tortura, morte ou desaparecimento. A dignidade da pessoa humana repudia a truculência e por isso “Somos todos Amarildo”.

Essa é a pior parte. O liberalismo foi responsável pelo fim da escravidão! Será que o juiz não sabe que Joaquim Nabuco foi uma das vozes mais fortes contra a escravidão? Será que não sabe que socialistas não só nada fizeram para acabar com a escravidão, como a praticam até hoje (vide Cuba)? Na Inglaterra mesmo, os quakers com viés mais conservador é que lutaram contra a milenar e nefasta prática da escravidão.

O liberalismo, ao pregar a igualdade de todos perante as leis, é claramente contrário à escravidão. Já os engenheiros sociais que querem remodelar o mundo, criar o “novo homem”, e pensam que seus nobres fins justificam quaisquer meios, esses convivem muito bem com a escravidão, como todas as experiências socialistas atestam.

Falar que o liberalismo só quer reduzir impostos e nunca teve ligação com a liberdade é uma afronta à História, uma mentira deslavada. Os liberais respeitam as liberdades individuais, e entendem que o avanço estatal sobre o bolso de cada um é mais um ataque contra tais liberdades. Mas é também contra o paternalismo estatal, a tutela, o controle excessivo sobre nossas vidas, ao contrário da esquerda.

Esse discurso de transformar pessoas em mercadoria deveria ser usado contra o governo do PT, que importa médicos cubanos negociando diretamente com a ditadura, como se fossem gado bovino. Que tal o juiz apontar sua verborragia para quem realmente trata seres humanos como mercadorias? Quem defende a apropriação de bens materiais alheios não é a esquerda, que prega mais e mais impostos? Como pode o juiz não perceber sua imensa contradição? Ou será que percebe, mas não liga, na esperança de que os outros não vão perceber?

Por fim, como não poderia faltar, o sensacionalismo. A dignidade da pessoa humana, aquela que, pelo visto, não vale para os policiais e outras vítimas de bandidos, inclusive os mascarados glabourizados pela elite esquerdista. Somos todos Amarildos? E depois de proferir tal frase de efeito, o juiz retorna para seu conforto, enquanto os moradores das favelas precisam conviver com traficantes e com criminosos que viram heróis dessa elite, protegida deles pela própria polícia que dizem abominar. É ou não é hipocrisia pura?

 

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