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País desenvolvido é quando rico usa transporte público? Os ricos evitam os ônibus e o metrô por preconceito?
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FIla de espera para ônibus no Fundão. Fonte: GLOBO

Tem uma frase que circula bastante por aí que diz: “País desenvolvido não é quando pobre anda de carro, mas sim quando rico anda de transporte público”. Entendo a lógica. Basta ir à Europa e ver a quantidade de gente de classe média ou alta nos metrôs. O mesmo vale para Nova York (agora, pois na década de 1980, antes da “tolerância zero”, era muito arriscado).

Por outro lado, certas cidades demandam carro, como Miami. São mais espaçadas, como acontece aqui na Barra da Tijuca, no Rio. Mas ainda assim acredito que a frase faz algum sentido: eu adoraria poder usar o metrô ou o BRT para me deslocar pela cidade. Por que não o faço? Por preconceito?

Aí é que mora o perigo do sensacionalismo. Em sua coluna de ontem no GLOBO, Agostinho Vieira mostrou que algumas celebridades têm publicado fotos nas redes sociais dentro de ônibus.  Diz ele:

Primeiro foi a Lucélia Santos, agora já circulam pelas redes sociais fotos da Suzana Vieira e da Suzana Werner viajando de ônibus. No ano passado, algumas pessoas se surpreenderam ao ver o craque holandês Clarence Seedorf esperando na calçada o coletivo que o levaria até o treino do Botafogo. Se essa moda pega, talvez estejamos diante de uma solução simples e barata para o problema da mobilidade urbana.

Imagine se cada ator famoso, jogador de futebol, cantor ou empresário resolver dar uma voltinha num transporte de massa? Não precisa ser o ônibus, pode ser o metrô, a barca ou o trem. Também não é necessário fazer isso todos os dias, pode ser uma vez por semana, por exemplo. Se quiser evitar os horários de pico e os veículos cheios não tem problema. O importante é dar o exemplo.

As vantagens seriam enormes. Pra começar acabaria com o preconceito. Já consigo imaginar as frases nas camisetas: “O Neymar, o Fagundes e Eu andamos de ônibus”. Ou um boné: “Encontrei com a Cléo Pires na barca e me lembrei de você”. Mas uma cena realmente impagável seria ver o baleiro do trem gritando que mulher bonita não paga enquanto flagrava a Luana Piovani sentada perto da janela.

Hoje, prevalece a certeza de que andar de ônibus ou de trem é coisa de pobre. Quem consegue juntar algum dinheiro trata logo de comprar um carro. Mesmo que ele passe a maior parte do tempo na garagem ou engarrafado. O que importa é o símbolo de status, a ideia de que se está subindo na vida. Poucas coisas estão mais distantes do conceito de civilização do que estar sozinho num carro preso no trânsito. Quem já visitou qualquer cidade média da Europa sabe que não funciona dessa maneira.

Será que as pessoas compram carro apenas pelo status mesmo? Será que querem evitar o transporte público por preconceito contra pobre? Creio que não. Acredito que poucas coisas são mais distantes do conceito de civilização do que nossos transportes públicos!

Hoje mesmo há uma reportagem no GLOBO mostrando o inferno que é enfrentar os ônibus no Fundão. Superlotação e horários irregulares atormentam a vida dos estudantes que precisam pegar ônibus. Isso para não falar do risco de assalto, ou das “mãos bobas” que apalpam as bundas das meninas no aperto do transporte público carioca.

Quando observamos a triste realidade de nossos transportes públicos, podemos automaticamente descartar o preconceito como motivo que afasta todos aqueles que podem desse meio de transporte. Filas enormes, aperto, calor, risco de assalto, empurra-empurra, falta de educação, má conservação, sujeira, etc. Preconceito?

Os carros isolam o cidadão, é verdade. Ficam parados no trânsito (assim como os ônibus). Mas ao menos o sujeito foge dessa loucura toda, escolhe seu próprio horário, vai no ar condicionado escutando aquilo que lhe apraz. Não consigo enxergar preconceito algum nessa escolha, e sim critérios bastante racionais e lógicos.

Não basta algumas celebridades entrarem num ônibus por 5 minutos e saírem com uma foto nas redes sociais, para “provar” como são descoladas, humildes, sem preconceitos, “gente do povo”. Isso não vai resolver nada! O que resolve é, obviamente, melhorar as condições do transporte público.

No dia em que o metrô carioca for como o de Nova York, podem estar certos de que muita gente da classe média e alta vai deixar seus carros mais na garagem e optar pelo transporte público. Nem tudo é preconceito, gente! Só falta afirmarem agora que as pessoas não vivem nas favelas por puro preconceito contra a pobreza…

Rodrigo Constantino

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