
A carta aberta que escrevi para a atriz Letícia Spiller, assaltada em sua própria residência ontem, causou enorme celeuma e já foi, em poucas horas, lida por mais de 250 mil pessoas. A grande maioria tem elogiado, o que nos enche de esperança com o país, pois muitos estão cansados do sentimento de impunidade que reina por aqui.
Mas várias críticas têm surgido sobre o momento inoportuno, a falta de respeito por “usar” o sofrimento dela para promover meu livro, ou um suposto tom de “bem feito”. Nada mais falso. A carta não contém ironia, tampouco eu desejaria que algo tão terrível, como ter bandidos armados em sua própria casa, acontecesse com ela (não desejo isso nem ao Sakamoto!). Eu realmente lamento o ocorrido.
Também não preciso promover meu livro, pois ele já é um best-seller, com mais de 20 mil exemplares vendidos, e eu sequer dependo desta renda para viver (o que não quer dizer que seja ruim ganhar um extra com meu trabalho, viu, Record?). Portanto, essa crítica de oportunismo não se sustenta e mais parece projeção da própria esquerda materialista, que só pensa em dinheiro, por mais que sempre diga o contrário.
O momento foi inoportuno devido ao sofrimento da atriz? Não creio! Afinal, ela está bem, nada de pior aconteceu (felizmente), está em segurança, com a família, apesar de provavelmente ainda sentir angústia com a noite assustadora que passou. Mas isso quer dizer que o momento é justamente oportuno! Explico.
Alguns perguntam se já tive arma apontada na cabeça, como se com tal pergunta pudessem me desmoralizar como alguém insensível diante da dor alheia. Respondo: já, sim. E foi muito desagradável. Não foi em casa, e sim no carro. Uma arma prateada que bateu no meu vidro, com o marginal demandando meu relógio, que fora presente de casamento dos meus pais (valor emocional, se é que alguns esquerdistas compreendem isso).
Eu até já contei esse caso aqui em outra ocasião. O fato é que tinha minha filha com apenas um aninho em casa me esperando, e mantive a maior calma do mundo, entregando o relógio sem gestos bruscos. Quando me vi em segurança, longe do vagabundo, a perna tremeu um pouco. Não é uma sensação boa estar entre a vida e a morte sob a mira de uma arma.
Mas aqui vem a parte importante: esse momento tenso ajudou a mudar, em parte, minha vida, quem eu sou, e para melhor. Eu era muito jovem, e mais ligado a bens materiais. Na verdade, tinha coleção de relógios, pois os adorava. Tudo isso pareceu pouco importante perto de continuar vivo e poder chegar em casa e ver o sorriso de minha filha.
Experiências traumáticas podem, sim, mudar a gente. E foi exatamente com isso em mente que escrevi a carta para a atriz, aproveitando este momento delicado que ela enfrenta. Oportunismo sim, mas no bom sentido. Como eu acredito no livre-arbítrio, tanto dos bandidos como dos artistas, acho que a Letícia Spiller pode mudar, usar essa experiência para se dar conta de que vem defendendo bandeiras muito erradas, que apenas incitam a criminalidade ao tratar bandidos como vítimas da “sociedade”.
Infelizmente, a reação de muita gente diz mais sobre eles mesmos do que sobre mim. Felizmente, foi uma minoria perto da imensa maioria que compreendeu o espírito da coisa. Há luz no fim do túnel…
Rodrigo Constantino



