
Ouça este conteúdo
O comércio varejista de Santa Catarina acumulou um crescimento de 5,8% entre janeiro e outubro de 2025, marcando o melhor resultado do setor desde o início da pandemia de Covid-19. Os dados, divulgados pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio-SC), têm como base a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE e a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC).
O desempenho catarinense no acumulado dos dez meses supera significativamente a média brasileira para o mesmo período, que foi de 1,5%. No ranking nacional, o estado ocupa a segunda posição em crescimento, ficando atrás apenas do Amapá. Segundo a série histórica, este é o maior avanço para o período desde 2019, quando o setor registrou alta de 8,5% antes da crise sanitária global.
O presidente da Fecomércio-SC, Hélio Dagnoni, avalia que o resultado positivo foi impulsionado principalmente pelo desempenho do primeiro semestre. “Ainda assim, o resultado do ano é bastante positivo. Estamos crescendo em um ritmo muito superior ao do restante do Brasil”, afirmou.
Dagnoni pondera, no entanto, que a partir da segunda metade do ano o mercado sentiu com mais intensidade o impacto dos juros elevados, que se encontram no maior patamar das últimas duas décadas.
Entre os setores, o segmento supermercadista foi um dos destaques, registrando alta de 7,4% entre janeiro e outubro, o maior índice do país para a categoria. No varejo ampliado — indicador que inclui veículos, materiais de construção e atacarejos — o estado apresentou crescimento acumulado de 8,1%, com o setor de materiais de construção liderando o desempenho nacional.
Inadimplência apresenta leve recuo, após sete meses de alta no comércio de Santa Catarina
Em paralelo ao crescimento das vendas, o cenário de crédito apresentou uma mudança de tendência em novembro. Após sete meses consecutivos de alta, a taxa de inadimplência das famílias catarinenses registrou queda de 0,3 ponto percentual, fechando o mês em 32,8%. Embora o recuo seja considerado tímido, a Fecomércio-SC aponta para uma possível estabilização.
Para Dagnoni, a desaceleração da inflação contribuiu para o resultado — em outubro, o IPCA avançou 0,09%. “Com a inflação reduzindo, esperamos que os juros comecem a cair já no começo de 2026. Talvez tenhamos chegado a um teto e agora essa inadimplência comece a cair de forma mais firme”, projetou o presidente.
Apesar da melhora pontual, o índice de inadimplência em Santa Catarina permanece acima da média histórica do estado (aproximadamente 22%) e da média nacional (cerca de 30%). Um indicador que inspira cautela é o aumento na parcela de famílias que declaram não ter condições de quitar débitos atrasados, que subiu de 9,7% para 10,2% no período.
Endividamento e perfil das dívidas
A pesquisa também revelou um aumento no endividamento geral das famílias, que passou de 70,4% para 72,5% em novembro. A economista da Fecomércio-SC, Edilene Cavalcanti, explica que esse indicador não deve ser interpretado necessariamente como negativo, diferentemente da inadimplência.
“O endividamento indica a disposição das famílias de consumir. Quem contrata um financiamento imobiliário ou de um automóvel, por exemplo, está endividado. Porém, essa dívida é para adquirir um bem, então ajuda a girar a roda da economia”, esclarece a economista.
O cartão de crédito continua sendo a principal modalidade de dívida no estado, concentrando 85,7% do total. Na sequência aparecem os carnês (30,6%), o crédito pessoal (19,5%) e o financiamento de automóveis (13,1%).
Com as projeções de um Natal positivo, a expectativa da entidade é que o ano de 2026 inicie com uma trajetória de recuperação mais consistente, a depender do comportamento das taxas de juros e do cenário inflacionário.






