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Economia

Diversidade da indústria blinda SC e estado cresce três vezes a média nacional

Gilberto Seleme, presidente da Fiesc, destaca a resiliência e diversidade da indústria. (Foto: Filipe Scotti/Fiesc/Divulgação)

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Em um ano marcado por juros elevados, restrição fiscal e o impacto do "tarifaço" sobre o setor madeireiro, a indústria catarinense descolou-se da média nacional. Dados apresentados pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) na quarta-feira (10) mostram que a produção industrial do estado cresceu 2,8% no acumulado de janeiro a outubro de 2025. O desempenho é mais de três vezes superior à média brasileira, que registrou avanço tímido de 0,8% no mesmo período.

O balanço, divulgado na sede da entidade em Florianópolis (SC), revelou um cenário de contrastes regionais e setoriais, onde as perdas localizadas foram absorvidas pelo dinamismo de outras cadeias produtivas.

“A diversidade da indústria de Santa Catarina foi determinante para o crescimento do setor em 2025”, resumiu Gilberto Seleme, presidente da Fiesc, durante a apresentação dos dados.

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Construção e alimentos puxam crescimento da indústria em SC

Enquanto o Brasil patinou, Santa Catarina surfou na demanda aquecida de setores específicos, com destaque para a fabricação de produtos de metal, que subiu 14,8% em 2025.

Segundo Pablo Bittencourt, economista-chefe da Fiesc, esse "boom" não foi acidental. "Ele é reflexo direto do ciclo da construção civil, que iniciou uma retomada ainda em 2024 e agora demanda materiais de acabamento e estrutura, além do bom desempenho da indústria automobilística nacional, impulsionada pelo programa Mover e pela busca por veículos com maior eficiência energética", avaliou.

Outro pilar de sustentação foi a indústria de alimentos, que cresceu 5,6% no estado (contra apenas 1,6% no Brasil). O setor foi beneficiado duplamente pelo aumento da massa salarial interna e pela reabertura de mercados externos. "A produção de alimentos, um dos motores da indústria de SC, foi beneficiada pelo aumento da renda", explicou Seleme.

O setor de máquinas e equipamentos também mostrou vigor, com alta de 6%, apoiado por incentivos, como a depreciação acelerada e financiamentos do BNDES.

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O "tarifaço" e a crise na madeira na indústria em SC

Se regiões como o litoral e o Vale do Itajaí colheram bons frutos, o planalto norte catarinense enfrentou um 2025 desafiador. As exportações de madeira e móveis para os Estados Unidos despencaram com o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump a partir de agosto. As vendas externas para o mercado americano recuaram 14,1% no acumulado do ano.

“O tarifaço atingiu bem Santa Catarina, principalmente no ramo de madeira e móveis. A gente faz um produto para o americano e não é fácil pegar esse produto e vender para outro país”, detalhou Seleme.

Industrial do ramo, o presidente da Fiesc explicou que a madeira de pinus cultivada no estado é voltada para acabamento e decoração, não sendo estrutural, o que limita sua realocação no mercado interno ou em obras pesadas.

Para contornar a crise gerada, a Fiesc, em conjunto com federações do Paraná e Rio Grande do Sul, contratou escritórios de advocacia internacionais para provar que a indústria brasileira não utiliza subsídios ilegais, numa tentativa de reverter as tarifas. "Provamos em 10 dias que não havia subsídio", afirmou Seleme, criticando a postura protecionista americana. Outra medida criada pela entidade para contenção de danos foi o programa Destarifaço.

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A surpresa argentina e a diversificação de mercados

Para compensar a retração no mercado americano (e a queda de 9,1% nas vendas para a China), a indústria catarinense encontrou um "velho novo" parceiro: a Argentina. Contrariando as expectativas de crise contínua no país vizinho, as exportações de SC para a Argentina saltaram 19,2% de janeiro a novembro. Em outubro, o crescimento chegou a 25% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Essa retomada argentina foi crucial para setores como papel, químicos e plásticos. “A Argentina teve um papel importante para o crescimento das exportações catarinenses e ajudou a minimizar a redução das vendas externas para os dois principais destinos de nossas exportações”, pontuou o presidente da Fiesc.

Além disso, o estado conseguiu abrir novas frentes comerciais, ampliando envios para o México (alta superior a 30%) e Arábia Saudita, mostrando a capacidade do empresário local de buscar rotas alternativas em momentos de crise.

Pablo Bittencourt, economista-chefe da Fiesc, associa o aumento na fabricação de produtos de metal com o crescimento da construção civil. (Foto: Filipe Scotti/Fiesc/Divulgação)

Pleno emprego e escassez de mão de obra

Santa Catarina encerra 2025 em situação de pleno emprego, com uma taxa de desocupação de apenas 2,3% no terceiro trimestre — a menor da série histórica e menos da metade da média nacional.

No acumulado do ano até outubro, a indústria catarinense criou 39,5 mil novas vagas formais, o terceiro maior saldo do país. O setor da construção liderou a geração de empregos (12,5 mil vagas), seguido por Têxtil e Confecção (6,9 mil) e Alimentos (5,9 mil).

Apesar dos números positivos, 42,3% dos industriais consultados pela Fiesc, a falta ou o alto custo de trabalhador qualificado é hoje o principal problema enfrentado, superando até mesmo a carga tributária e a demanda insuficiente. "SC deve continuar crescendo e, por isso, vai precisar contratar. A falta de trabalhadores qualificados seguirá sendo um desafio", alertou a entidade.

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Perspectivas para 2026: juros, renda e acordo Mercosul-UE

Olhando para o futuro, a Fiesc projeta um 2026 de aceleração, especialmente a partir do segundo trimestre. A aposta da entidade baseia-se em dois pilares macroeconômicos: o início do ciclo de queda da taxa Selic e o aumento da renda disponível das famílias, impulsionado pela reforma do Imposto de Renda, que amplia a faixa de isenção.

"A expectativa é de que, a partir do segundo trimestre de 2026, possamos observar uma retomada mais consistente do crescimento da economia, caso a redução da Selic se concretize”, avaliou o economista Pablo Bittencourt.

Segundo ele, a previsão é que os juros comecem a ceder, possivelmente em março, estimulando o consumo e o investimento.

No cenário externo, a Fiesc vê com otimismo a possível concretização do acordo Mercosul-União Europeia. A análise é que o tratado pode criar uma "área de estabilidade" para o comércio exterior brasileiro, reduzindo tarifas para produtos agroindustriais e têxteis, e servindo como contraponto à crescente rivalidade geopolítica entre China e Estados Unidos.

Em relação aos EUA, a expectativa é de um "pouso suave" da economia americana, com crescimento em torno de 2% em 2026 e queda de juros, o que poderia reativar o mercado imobiliário e, consequentemente, a demanda pela madeira catarinense, aliviando o setor mais pressionado deste ano.

Resumo dos Indicadores Econômicos da indústria em SC (2025)

  • Produção Industrial: +2,8% (Jan-Out) | Brasil: +0,8%
  • Emprego Industrial: +39,5 mil vagas (Saldo Jan-Out)
  • Taxa de Desemprego: 2,3% (3º Trimestre) | Brasil: ~6%
  • Exportações Totais: +3,5% (US$ 11,1 bilhões até Nov)
  • Destaques de Alta (Setores): Produtos de Metal (+14,8%), Máquinas e Equipamentos (+6%), Alimentos (+5,6%)
  • Destaque de Baixa: Madeira e Móveis (queda nas exportações devido a tarifas dos EUA)

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