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Proposta de Brasília

Prefeito e deputados reagem contra criação de parque nacional na Mata Atlântica entre PR e SC

Vista aérea da Serra do Araçatuba e Campos do Quiriri.
Vista aérea da região que pode se tornar unidade de conservação em breve. (Foto: Rafael Bertelli/Mandato Goura/Divulgação)

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A criação de uma unidade de conservação que abrange municípios do Paraná e de Santa Catarina é motivo de debate entre os estados vizinhos e a União. O governo federal defende a criação do Parque Nacional das Serras do Araçatuba e Quiriri em uma área de 32,6 mil hectares, envolvendo os territórios das cidades de Garuva, Joinville e Campo Alegre, no lado catarinense, e Tijucas do Sul e Guaratuba, no Paraná. Os estudos para a implantação estão sendo feitos pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

No final de novembro, a proposta foi apresentada ao secretário de Desenvolvimento Sustentável do Paraná, Rafael Greca, que declarou apoio da pasta e do governo Ratinho Junior (PSD-PR) à iniciativa. No encontro com representantes nacionais do ICMBio, ele sugeriu que os estudos deveriam ser ampliados no lado paranaense, em direção ao litoral. “Todo parque do Brasil é um lugar a mais que se preserva para as crianças que vão nascer”, afirmou Greca.

Mas a reação do estado vizinho foi oposta, principalmente por parte de políticos da direita catarinense. A prefeitura de Joinville encaminhou ofício no último dia 27 ao órgão ambiental posicionando-se contra a proposta. No documento, assinado pelo prefeito Adriano Silva (Novo-SC) e pelo secretário de Meio Ambiente, Fábio Jovita, o Executivo municipal alega que uma nova unidade tornaria ainda mais restritiva a lista de atividades permitidas na região, o que poderia impactar diretamente o planejamento urbano e o desenvolvimento econômico da maior cidade do estado de Santa Catarina. 

Uma audiência pública foi convocada pela Câmara de Vereadores para o dia 15 de dezembro para debater os impactos que a criação do parque gerará para quem vive no norte catarinense. A Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc) também se mostrou contrária à criação do parque e acolheu, na última quarta-feira (3), a proposição do deputado Fernando Krelling (MDB-SC) para pedir ao ICMBio a suspensão das tratativas até a realização de consultas públicas.

Delimitação do Parque Nacional das Serras do Araçatuba e Quiriri.Com área total de 32.695,66 mil hectares, envolve os territórios de Garuva, Joinville e Campo Alegre, no lado catarinense, e Tijucas do Sul e Guaratuba, no Paraná. (Foto: Mandato Goura/Divulgação)

O ICMBio informou que a implantação do parque está na fase de análise, realizada antes da participação pública — etapa em que a proposta é levada para consulta local e também nacional, o que deve acontecer no primeiro trimestre de 2026.

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Proposta partiu de deputados de esquerda do PR e SC e foi entregue a Marina Silva

A proposta para a criação do Parque Nacional das Serras do Araçatuba e Quiriri foi encabeçada pelos deputados estaduais Goura (PDT-PR) e Marquito (PSOL-SC). Em março do ano passado, os dois entregaram a solicitação à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante evento em Curitiba. Segundo os parlamentares, a unidade tem o objetivo de preservar o remanescente da Mata Atlântica na região da Serra do Mar. Goura defende que a iniciativa foi elaborada por um grupo multidisciplinar composto por técnicos, montanhistas, produtores rurais, funcionários públicos, empresários, pesquisadores e ambientalistas.

"É uma proposta bastante necessária para a preservação desse ambiente tão rico em biodiversidade, com campos de altitude e as montanhas da Serra do Mar. Seguramente trará grandes benefícios econômicos e de serviços ambientais para a região”, opina o deputado paranaense.

Os estudos do ICMBio começaram em 2024, baseados em análises de publicações científicas, dados fundiários, econômicos e imagens de satélite para incluir “áreas de relevante interesse ambiental e, ao mesmo tempo, excluir áreas mais antropizadas, ou seja, com moradores dentro da área de abrangência”, conforme o órgão ambiental.

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Joinville aponta riscos ao desenvolvimento e convoca debate

Uma das vozes mais contundentes contra a criação do Parque Nacional das Serras do Araçatuba e Quiriri é a do vereador de Joinville Wilian Tonezi (PL-SC), que solicitou a audiência pública que será realizada no dia 15 de dezembro, na Sociedade Rio da Prata, em Pirabeiraba. A principal desconfiança do parlamentar em torno da iniciativa parte da percepção sobre os impactos de outra área já protegida na região: a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra Dona Francisca.

Criada em 1997, com mais de 40 mil hectares de extensão, a APA é uma unidade de uso sustentável e abrange encostas da Serra do Mar e mananciais dos rios Cubatão e Piraí, responsáveis por 100% do abastecimento de água do município.

Segundo Tonezi, os agricultores da região relatam dificuldades para conduzir a produção conforme as regras e as licenças exigidas, que, na opinião do vereador, não dialogam com a realidade econômica das propriedades. "Preservar o meio ambiente é importante, mas não pode ser desculpa para Brasília decidir, de cima para baixo, o futuro de famílias que produzem há décadas e já convivem com regras ambientais", critica.

A prefeitura de Joinville endossa o coro contrário ao novo parque ambiental. “A criação de uma nova unidade de conservação no município poderia gerar sobreposição de áreas e conflitos de gestão, prejudicando a eficácia da gestão ambiental e o desenvolvimento sustentável da região", defende o Executivo no ofício encaminhado ao órgão federal.

Em contrapartida, o ICMBio informa que não há moradores na área contemplada na proposta do parque e assegura que aqueles situados no entorno permanecerão em suas casas, mantendo seus negócios.

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Serras de parque nacional estão entre as regiões mais altas dos estados do PR e SC

A Serra do Araçatuba, no lado paranaense — especialmente no município de Tijucas do Sul — surge como uma das regiões montanhosas mais altas do estado, repousando próxima à divisa com Santa Catarina. O cenário, imponente e de beleza quase hipnótica, atrai visitantes de todos os perfis: montanhistas, atletas, aventureiros ocasionais e até famílias que buscam contato íntimo com a natureza. Já os campos do Quiriri, ainda mais preservados e de acesso restrito, formam um conjunto de cerca de 30 cumes que oscilam entre 1,3 mil e 1,58 mil metros de altitude, compondo um mosaico natural de rara grandeza.

Na justificativa para a criação do Parque Nacional das Serras do Araçatuba e Quiriri, os deputados Goura e Marquito destacam que a área abriga trechos expressivos de Mata Atlântica e remanescentes de campos de altitude distribuídos pelas cristas e cumes das montanhas. O pedido ressalta que é justamente essa combinação, tão delicada quanto poderosa, que torna o território digno de proteção integral.

O documento aponta ainda que a região concentra uma rica diversidade de flora e fauna — incluindo espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção — e que tem papel essencial como área de mananciais responsável pelo abastecimento de diversos municípios. Ali nascem rios como o Negro, o Cubatão e o Pirabeiraba, reforçando a importância estratégica do conjunto de serras para a conservação ambiental.

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