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Santa Catarina deu um passo decisivo para enfrentar um dos principais gargalos que impactam diretamente a produção de suínos: a precariedade das estradas rurais. Embora o estado tenha abatido quase 18 milhões de suínos em 2024 e produzido mais de 1,5 milhão de toneladas de carne, ainda sofre prejuízos constantes no transporte quando as chuvas tornam as vias não pavimentadas intransitáveis.
Para atacar o entrave logístico e alavancar a produção de suínos — assim como outros setores do agronegócio catarinense — o governo catarinense promete injetar R$ 2,5 bilhões na pavimentação de 2,5 mil quilômetros de estradas rurais em 295 municípios, com o denominado programa "Estrada Boa Rural".
"O Estrada Boa Rural é um compromisso com o povo trabalhador de Santa Catarina. Fortalece nossa posição como líder nacional no agronegócio", destacou o governador Jorginho Mello (PL). Dos cerca de 2 mil quilômetros de estradas pavimentadas atuais em Santa Catarina, o programa promete dar um salto nesse total para 4,5 mil quilômetros.
Governo de SC foca em convênios diretos para acelerar pavimentação rural
O projeto adota uma parceria estado-municípios. Do total de R$ 2,5 bilhões, R$ 1,25 bilhão será repassado às prefeituras via convênios simplificados. O restante será aportado via Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e Badesc - Agência de Fomento de Santa Catarina S.A., permitindo financiamentos municipais para contrapartida.
Adicionalmente, o governo estadual cobrirá juros e correções dos empréstimos, oferecendo um ano de carência e quatro anos para pagamento. Dessa forma, o custo médio é de R$ 1 milhão por quilômetro, com pistas de até sete metros de largura.
Por outro lado, os municípios poderão apresentar projetos em duas etapas (2025 e 2026), desde que atendam critérios como a ligação de comunidades rurais a vias pavimentadas e atendimento de pelo menos duas propriedades por quilômetro. "Ao garantir estradas pavimentadas, vamos melhorar a logística da produção de suínos e aumentar a competitividade catarinense nos mercados interno e internacional", afirmou o secretário catarinense da Agricultura e Pecuária, Carlos Chiodini.
A avaliação é compartilhada pelo presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi. "Santa Catarina responde por 54% das exportações brasileiras de carne suína, contudo a precariedade das estradas encarece o frete em até 10%", disse.
Pequenos e médios suinocultores são os que mais dependem da infraestrutura rural para manter sua atividade viável. "Estradas pavimentadas significam menos perdas, mais acesso a mercados e insumos, e maior valorização da propriedade", pontua o secretário da Agricultura e Pecuária.
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Relevante para o setor também é a alimentação animal, que representa cerca de 70% do custo da produção de suínos. Segundo o assessor técnico da Comissão Nacional de Aves e Suínos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rafael Ribeiro, Santa Catarina precisa importar em média 5 milhões de toneladas de milho por safra.
"Sem logística adequada, esse insumo chega mais caro ao produtor. Portanto, cada quilômetro pavimentado significa menos tempo de deslocamento e maior bem-estar animal, melhorando a produtividade", explicou.
Para o diretor-executivo da Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e Sindicarne, Jorge Luiz de Lima, o transporte chega a R$ 90 mil mensais por caminhão. "Quando o setor ganha tempo e reduz custos, toda a cadeia produtiva se fortalece."
A produção de suínos é a principal atividade agropecuária de Santa Catarina. O valor bruto da produção é estimado em R$ 16,1 bilhões em 2025 - equivalente a 28,5% de toda a produção agrícola e pecuária estadual.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faesc), José Zeferino Pedrozo, ressalta que o problema vai além do impacto logístico na produção de suínos. "Nossas estradas estão congestionadas há anos, enquanto o setor cresceu muito e a demanda por infraestrutura aumentou."
Além das estradas rurais, Pedrozo defendeu a viabilização de uma ferrovia ligando Chapecó a Cascavel (PR). A solução, segundo ele, permitiria integrar Santa Catarina aos principais centros produtores do país.
Para Pedrozo, também é necessário avançar em obras nas rodovias federais, como a duplicação da BR-282 ou a implantação de terceira pista em trechos mais críticos. "Nossa principal reivindicação é a melhoria das estradas e a implantação da ferrovia, obras essenciais para garantir que Santa Catarina continue sendo destaque nacional, apesar do seu tamanho reduzido, no setor produtivo e em tantos outros".
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